Desde setembro, três crianças morreram por insuficiência respiratória aguda e choque séptico na cidade de São João del Rei, na Zona da Mata de Minas Gerais. Uma das mortes pode ter sido causada pela escarlatina, doença infecciosa aguda causada pela bactéria estreptococo beta hemolítico do grupo A (Streptococcus pyogenes), segundo consta na certidão de óbito da criança.
“A escarlatina é uma infecção que se manifesta com sintomas como febre, mal-estar, dores de garganta, vômitos e uma erupção cutânea característica”, explica o patologista clínico Helio Magarinos Torres Filho, diretor do Richet Medicina & Diagnóstico. “Em geral, essa erupção começa no pescoço e tronco e avança para a face e membros”, acrescenta.
A doença é transmitida facilmente de pessoa para pessoa por meio de gotículas de saliva ou secreções infectadas, por isso afeta principalmente crianças em idade escolar. O diagnóstico clínico, associado à análise laboratorial da amostra da garganta, é geralmente suficiente para confirmar a presença da escarlatina.
Diante do quadro, o médico pode solicitar um exame da garganta utilizando um cotonete (swab) para coletar uma amostra de secreção na região nasofaríngea, que é enviada para análise laboratorial. “Após a cura, testes sorológicos ajudam a confirmar o diagnóstico. Esses testes procuram anticorpos no sangue que indicam a exposição anterior ao estreptococo beta hemolítico do grupo A”, descreve Helio Magarinos.
Embora a escarlatina seja uma doença que responde bem ao tratamento com antibióticos, especialistas advertem sobre as potenciais complicações. “Durante a fase aguda, a infecção estreptocócica pode se disseminar para outras partes do corpo, causando otite, sinusite, laringite e até mesmo meningite”, explica o patologista, que acrescenta. “Além disso, complicações tardias, como febre reumática e glomerulonefrite, podem surgir semanas após o desaparecimento dos sintomas.”
Por isso, o diagnóstico é importante. Em casos de surtos em escolas, é necessário adotar medidas preventivas como o afastamento de crianças diagnosticadas até 24 horas após o início do tratamento com antibióticos, a fim de evitar a disseminação. Em Minas Gerais, a Secretaria Municipal de Saúde não confirma a morte da criança por escarlatina, alegando não ter sido confirmada por exame laboratorial, mas investiga as outras duas mortes e acompanha quatro crianças internadas em hospitais da cidade. “Medidas simples de higiene, como lavar as mãos regularmente, também ajudam na prevenção da doença”, conclui o médico.