Demorou, mas o reinado do Botox, a toxina botulínica, começa a ser ameaçado. Há uma novidade que já divide a preferência de médicos e pacientes: a aplicação de bioestimuladores de colágeno, a proteína que dá sustentação à pele e cuja produção natural cai cerca de 1% ao ano a partir da terceira década de vida. O número de procedimentos explodiu. De acordo com o levantamento da IQVIA, empresa de dados da área de saúde, entre 2020 e 2021 a expansão mundial no total de aplicações foi de 57%. E a perspectiva é de que nos próximos anos os compostos se consolidem como os novos queridinhos da beleza. Segundo projeção da consultoria internacional Inside Partners, os mercados de Botox e de estimuladores de colágeno devem crescer praticamente na mesma velocidade. Até 2026, o uso estético da toxina botulínica aumentará cerca de 10%, enquanto a aposta no colágeno subirá 11% até 2028.
É fundamental que se saiba, porém, que cada um tem seu papel no rejuvenescimento facial. Os tratamentos não se excluem, complementam-se. A toxina botulínica relaxa a musculatura, deixando a pele mais lisa. Por isso, é indicada para atenuar rugas e linhas finas provocadas por repetição de movimentos — em torno dos olhos, por exemplo — e marcas de expressão que podem surgir com o tempo. O efeito dura cerca de seis meses.
Os estimuladores de colágeno são outra história. Seu objetivo é provocar a cútis para que o próprio órgão aumente a produção da proteína, cuja redução progressiva é responsável pela perda de viço, de firmeza e do contorno facial observados depois dos 40 anos. Há três produtos com essa finalidade (Sculptra, Radiesse e Ellansé).
Eles têm ativos distintos, mas causam efeito similar. Ao serem injetados na pele, desencadeiam uma reação inflamatória que acaba por ativar a fabricação do colágeno. A resposta é progressiva e duradoura. “A produção da proteína persiste de um a dois anos”, afirma a dermatologista Marina Bittencourt, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. O que agrada também é o resultado natural do tratamento. A pele volta a exibir saúde e as linhas do rosto ganham novamente um formato, criando a tão desejada harmonia que faz as pessoas perceberem que há algo diferente na face, mais bonita, mas não sabem apontar exatamente o quê.
A utilização estética dos bioestimuladores começou com o Sculptra, inicialmente formulado e aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, em 2004, para o tratamento da lipoatrofia associada à aids, que é uma disfunção metabólica que ocasiona o acúmulo de gordura em partes do corpo, podendo causar deformações. De lá para cá, suas indicações se expandiram — em fevereiro, a FDA aprovou o uso como recurso terapêutico para rugas e linhas finas — e a categoria aberta pelo artigo caiu no gosto dos pacientes.
O sucesso do resultado depende da avaliação clínica, da qualidade da pele e da necessidade de reposição de colágeno de cada um. Nem poderia ser de outra forma, uma vez que a cútis é bastante afetada por hábitos individuais como alimentação, exposição ao sol, tabagismo, consumo de álcool e estresse. O número de aplicações também varia, assim como podem ser diferentes os pontos nos quais os estimuladores são injetados. Outro fator relevante para a satisfação é combinar procedimentos. Os produtos podem ser utilizados em conjunto com o Botox e preenchedores como o ácido hialurônico. O composto tem alto poder de hidratação, o que é bom para todo tipo e idade de pele — e é usado para amenizar sulcos como o nasolabial, conhecido como bigode chinês. “Dessa maneira, os efeitos dos tratamentos são potencializados”, diz o dermatologista Alessandro Alarcão, conselheiro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e membro da American Academy of Dermatology. É certamente tudo o que se quer.
Publicado em VEJA de 2 de março de 2022, edição nº 2778