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O cigarro: do consumo sem culpa ao cerco antitabagista

Por Da Redação
6 ago 2009, 21h49

O título “O desafio do bom cigarro” sugeriria, ao leitor de hoje, um texto sobre a criação de um cigarro inofensivo à saúde. Não era esse o teor, porém, da reportagem publicada por VEJA em janeiro de 1969. Naquela época, distante das preocupações com os efeitos negativos do tabaco, o foco era mesmo como fazer um cigarro saboroso e vendável. Não que a associação entre cigarro e câncer não existisse. Existia, e o cigarro com filtro era considerado uma opção “saudável” àquele sem filtro algum. Mas interromper o vício não constava dos sonhos de consumo de ninguém. Fumar era tão normal quanto falar palavrão em estádio de futebol, anota um texto de abril do mesmo ano. E o jogador Gerson, em entrevista à revista, afirmava fumar um maço por dia. “Fumo, sim, e vou continuar fumando, inclusive antes do jogo e no intervalo.” Texto de fevereiro de 1970 sobre o uso da piteira, aliás, esnobava a preocupação com a saúde: “Se existe uma psicose do câncer entre os fumantes de cigarro, ela ainda é incipiente”.

Sabia-se que fumar era prejudicial à saúde, mas não se abdicava ao vício como hoje. Capa de VEJA sobre as causas do câncer, de fevereiro de 1976, já listava o fumo entre os dez agentes do ambiente capazes de provocar tumores no pulmão, bexiga, boca, esôfago, faringe e laringe. No exterior, no entanto, o cerco sobre o tabaco se fechava. A chegada de cigarros de baixos teores de alcatrão e nicotina ao mercado era um reflexo do endurecimento do governo americano com a indústria de cigarro, uma ação que incluía a proibição de anúncios no rádio e TV e a obrigatoriedade de os maços estamparem alertas sobre os malefícios que o fumo poderia causar. O Brasil tinha projetos de lei semelhantes em tramitação no Congresso, mas a luta contra o cigarro ainda estava longe de prosperar.

Foi só no final da década de 1970 que a relação entre cigarro e vida Reproduçãocurta começou a ganhar contornos sólidos. Capa da revista de abril de 1980 (imagem ao lado) anunciava, com todas as letras, a chegada da guerra antitabagista ao país. “Com vinte anos de atraso, chega ao Brasil, um país com 15 milhões de viciados, a guerra contra o fumo e seus tóxicos”, dizia a reportagem.

Daí em diante, o cigarro não teve mais sossego. Numa sociedade que mudava, o fumo foi migrando de seção: das páginas de economia para as de saúde e ciência, ampliadas também com textos sobre como melhorar a forma física. Capa de fevereiro de 1982 é prova dessa transição: classificada como reportagem de economia e negócios, ela no entanto tinha características de texto de saúde. Nela, a composição de cigarros de diferentes marcas era esmiuçada, revelando o teor de nicotina e de alcatrão de cada um. A análise exaustiva é parte do cerco contra o fumo: a informação como arma.

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ReproduçãoCapa de maio de 1988 ia além. “Estudo americano revela que a nicotina tem um poder de gerar dependência tão grande quanto o de drogas como a heroína e a cocaína”, afirmava o texto. E a capa de maio de 1996 (ao lado) já assumia um tom de denúncia: “A indústria mistura amônia no tabaco para aumentar a dependência dos fumantes”. O cerco estava definitivamente fechado contra o fumo.

Viriam, então, não sem atraso, as medidas oficiais contra o cigarro. Em 2001, tornou-se proibida a propaganda do produto – exceto nos locais de venda. No ano seguinte, medida do Ministério da Saúde estamparia os maços com fotos trágicas e tragicômicas, como imagens de bebês à beira da morte, de impotência sexual e de outros efeitos nocivos da fumaça. Além disso, a indústria do tabaco teve de reduzir níveis de alcatrão, nicotina e monóxido de carbono e ficou proibida de usar termos como “baixos teores”, “suave” ou “light”. O Brasil contava, então, com 30 milhões de fumantes, 78% dos quais, segundo pesquisas da época, querendo parar de fumar. A guerra não teria mais fim.

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