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Estudo polemiza: não há prova de que carne processada faça mal à saúde

Pesquisa, que também 'libera' carne vermelha, foi recebida com indignação pela comunidade médica, que defendeu as evidências que ligam o consumo a câncer

Por Redação
Atualizado em 1 out 2019, 15h54 - Publicado em 1 out 2019, 15h25

Há anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a redução do consumo de carne vermelha, como de porco e boi, e processada, como bacon e linguiça, como forma de prevenir câncer e doenças cardiovasculares. A orientação é ingerir apenas três porções semanais desses alimentos. Diante disso, vários países têm diretrizes semelhantes.

Na Inglaterra e no Brasil, por exemplo, órgãos nacionais de saúde orientam que a população coma no máximo 500 gramas de carne vermelha e/ou processada por semana – o equivalente a 70 gramas diárias. Outras entidades ainda aconselham o corte no consumo de carne por questões ambientais, uma vez que a criação de animais colabora para o aquecimento global. No entanto, uma controversa revisão de estudos publicada na segunda-feira no periódico científico Annals of Internal Medicine indica que essas recomendações são exageradas.

Segundo os novos dados, a maioria das evidências divulgadas até agora sobre os problemas de saúde causados pela carne vermelha, como câncer, diabetes e doenças cardíacas, não é forte o suficiente para recomendar a redução no consumo. Portanto, adultos devem continuar ingerindo a mesma quantidade de carne que estão acostumadas. “Para a maioria das pessoas – não todas – continuar com o consumo de carne vermelha e processada é a abordagem correta”, disse Bradley Johnston, da Universidade Dalhousie, no Canadá, à revista americana Time

De acordo com o pesquisador, o intuito da pesquisa é permitir que as pessoas tenham acesso a informações verdadeiras, possam fazer suas próprias escolhas e decidir quais riscos querem ou não correr com base em “evidências de alta qualidade”. 

Críticas

Os resultados foram recebidos com indignação por uma parte da comunidade médica. “Essa pesquisa é perigosa, pois sugere que as pessoas podem comer o quanto de carne vermelha quiserem sem aumentar o próprio risco de câncer. A mensagem que as pessoas precisam ouvir é que não devemos comer mais do que três porções de carne vermelha por semana e evitar carne processada por completo”, rebateu Giota Mitrou, do Fundo Mundial de Pesquisa do Câncer, ao The Guardian

Já Tim Key, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, salientou que as evidências da relação entre a carne processada e o câncer de intestino são tão “substanciais” que o alimento está na lista de cancerígenos da OMS desde 2015. “Sugerir que não há necessidade de limitar esses alimentos coloca as pessoas em risco de câncer colorretal e mina ainda mais a confiança do público em conselhos alimentares”, disse Nigel Brockton, do Instituto Americano de Pesquisa do Câncer, nos Estados Unidos, à CNN

Pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, também se manifestaram. “Essas recomendações são realmente irresponsáveis”, criticou Frank Hu, autor de um estudo recente publicado no periódico British Medical Journal que vinculava a ingestão de carne vermelha e processada a maior risco de mortalidade. Nas estimativas, foi possível notar uma redução de 7,6% no número de mortes quando as pessoas seguem as diretrizes internacionais. “Nos Estados Unidos, por exemplo, essa redução poderia evitar cerca de 200.000 mortes por ano. Essa é uma estimativa enorme”, destacou Hu à revista Time.

Outros pesquisadores ainda criticaram o grupo por ter desconsiderado os prejuízos da produção de carne vermelha para o meio ambiente.

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Apoio às evidências

Segundo especialistas da Escola de Medicina da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, as evidências encontradas pela equipe da NutriRECS, um grupo internacional recém formado por nutricionistas e pesquisadores de saúde, são as mais abrangentes até agora.

Outros cientistas confirmam que a pesquisa foi completa, mas mesmos as evidências fracas que associam a carne vermelha a problemas de saúde devem ser consideradas. “Os dados mostram claramente que, embora a associação entre carne e câncer não precise ser tratada com urgência, ela não deve ser ignorada. Pequenas mudanças na dieta podem atenuar o efeito da carne vermelha e processada no risco de câncer, incluindo uma dieta rica em fibras”, disse Gunter Kuhnle, da Universidade de Reading, na Inglaterra, ao The Guardian.

Para Marji McCullough, da Sociedade Americana de Câncer, o grupo levou em consideração os valores e preferências individuais das pessoas, pois muitas jamais vão excluir ou reduzir o consumo de carne porque gostam dela ou a consideram benéfica para a saúde. “É como dizer: Sabemos que os capacetes salvam vidas, mas algumas pessoas preferem sentir o vento nos cabelos quando andam de bicicleta. E, convenhamos, a maioria das pessoas não vai cair e bater a cabeça. Mas todos concordam que o capacete deve ser usado”, concluiu à CNN.

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