Os mais atentos se lembrarão da atriz Nicole Kidman com a expressão congelada ou da face de Jennifer Aniston, a estrela queridinha da série Friends, levemente deformada. Isso foi há cerca de uma década, quando as agora cinquentonas Nicole, 54 anos, e Jennifer, 52, submeteram-se a procedimentos estéticos com finalizações duvidáveis. À época, chique era ostentar a testa sem movimento depois do Botox ou bochechas estranhamente salientes após a aplicação de preenchedores. Felizmente, o tempo de exageros passou, a ciência da pele evoluiu e Nicole e Jennifer encaram os 50 com beleza — quase — natural. Ou, em linguagem de rede social, com beleza do tipo “acordei assim”. Quanto menos aparentes as intervenções, melhor.
Ficaram no passado — e oxalá nele continuem — os lábios grossos, bochechas delineadas e pele esticada. Hoje, a naturalidade prevalece sobre a artificialidade. A procura por esse tipo de resultado teve crescimento nos últimos anos. De acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, entre 2018 e 2019, houve aumento de 7,4% na realização de intervenções não invasivas, justamente as adequadas para assegurar o efeito discreto, mas poderoso, desejado por homens e mulheres. “Os pacientes não querem deixar evidente que algo foi realizado”, diz o cirurgião plástico Alexandre Audi, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Tornar-se bonito ao “natural” dá trabalho, e muito. Não é com um único tratamento que se chega lá. Por essa razão, é grande a diversidade de produtos e máquinas a serviço de uma pele boa, saudável, sem manchas (ou poucas) e com viço. O Botox, claro, continua reinando soberano. Seja lá o que for necessário fazer, ele está sempre incluído. Na verdade, ele já se tornou aquele tipo de cuidado que faz parte da rotina anual, assim como ir ao dentista. A diferença é que se vai feliz, ou com vastas esperanças, ao consultório.
A essência dos tratamentos é garantir saúde à pele e por uma razão simples: a cútis firme, hidratada e viçosa é, por si só, retrato de aparência jovial. E se rugas, sulcos ou flacidez forem atenuados, tem-se o ponto almejado, no qual as pessoas comentam que você está com aparência ótima e descansada e não sabem bem o que mudou. Conquistar esse impacto exige uma mescla de recursos que alcançam todas as camadas da pele. “Isso é o ideal para o rejuvenescimento”, afirma a médica Marina Bittencourt, integrante da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da equipe da dermatologista Adriana Vilarinho. Uma das soluções recentes para atingir a camada profunda é o ultrassom microfocado. “Ele trata a flacidez muscular”, explica Marina. O resultado é um efeito similar ao do lifting, um procedimento cirúrgico. Alguns tipos de laser alcançam pontos mais profundos, como o de CO2 fracionado. Outros, recentes, têm indicações mais precisas e alcances distintos. Entre eles estão os que clareiam manchas.
Essas terapias são associadas a intervenções cujos resultados aparecem rapidamente. Um exemplo são os bioestimuladores, produtos injetáveis que estimulam a produção de colágeno, a proteína que dá elasticidade à cútis. Eles são aplicados em pontos distintos da face para que não haja excesso de volume em nenhum lugar. Bem diferentes dos preenchedores que no passado podiam deformar o rosto. Os bioestimuladores são uma evolução, assim como os fios de colágeno (PDO) utilizados agora. Por algum tempo, bobagens como fios de ouro eram oferecidas para definir o contorno do rosto. A técnica, claro, tinha imenso potencial para dar errado. Biocompatíveis e maleáveis, os fios de colágeno os enterraram de vez. “A colocação dos fios promove uma tração que puxa a pele para cima, o que reduz os sulcos ao redor do nariz e da boca e tira o aspecto cansado da face”, explica Ediléia Bagatin, coordenadora de cosmiatria dermatológica da Sociedade Brasileira de Dermatologia. A atriz Halle Berry faz bom uso desse arsenal de novidades. Aos 54 anos, ela exibe a aparência de beleza natural tão procurada, mesmo que, é preciso admitir com sinceridade, não seja tão natural assim. Alguém vê algum problema nisso?
Publicado em VEJA de 4 de agosto de 2021, edição nº 2749