Casais que estão tentando engravidar devem fazer sexo antes das 7h30, indica estudo suíço publicado recentemente na Chronobiology International. De acordo com os pesquisadores, os espermatozoides são mais potentes nas primeiras horas do dia. “A testosterona e o corticoide são hormônios com produção aumentada durante a madrugada, o que pode garantir melhor qualidade do esperma no período da manhã”, explica Guilherme Wood, especialista em reprodução humana da Huntington Medicina Reprodutiva.
A pesquisa ainda revelou que ao longo de março, abril e maio, os espermatozoides apresentam tamanho e forma mais saudável para fertilizar o óvulo. No caso do estudo, realizado na Suíça, esses meses representam a primavera, estação com temperaturas mais amenas.
Por outro lado, no verão houve declínio e perda na qualidade do sêmen. Isso ocorre porque as células que produzem os espermatozoides são muito sensíveis às variações climáticas. “A temperatura dos testículos precisa ser 2,5°C mais baixa do que a temperatura corporal para que a produção não seja prejudicada”, disse Wood. Em estações mais quentes ainda há maior exposição à luz, fator que interfere na produção hormonal.
Como nenhum estudo do gênero foi feito no Brasil, é difícil determinar quais meses são mais propícios para a gravidez, especialmente porque na maior parte do país as estações não são bem definidas. No entanto, como a temperatura foi fator determinante para os resultados, estima-se que para os homens brasileiros, a primavera – que vai de setembro a dezembro – também seja a estação que oferece as melhores chances de fecundação.
A pesquisa, realizada pelo Hospital Universitário de Zurique, acompanhou 7.068 homens, com idade entre 25 e 40 anos, em tratamento de fertilidade, e analisou fatores como concentração (quantidade de espermatozoides na amostra), motilidade progressiva (capacidade de movimentação, fundamental para o encontro com o óvulo e a fertilização) e morfologia do sêmen (características físicas).
Segunda vez dá sorte
Há muitos anos, os homens foram aconselhados a limitar a atividade sexual para aumentar as chances de gravidez. Acreditava-se que depois da primeira ejaculação o homem leva até 36 horas para ‘reabastecer’ o banco de esperma.
Um estudo recente publicado na revista Molecular & Cellular Proteomics apontou que ter relações sexuais duas vezes seguidas – com intervalo de três horas – pode, na verdade, aumentar as chances de gravidez. A justificativa: os espermatozoides liberados durante a segunda relação sexual têm mais proteínas disponíveis que garantem maior mobilidade, aumentando as chances de fecundação.
Segundo Wood, este fenômeno pode ser explicado pelos danos genéticos que acontecem quando o esperma fica muito tempo no epidídimo – órgão acima dos testículos onde ocorre maturação e armazenamento dos espermatozoides. Ao longo do período de maturação, os espermatozoides estão vulneráveis a alterações genéticas provocadas pelo estresse oxidativo.
“O estresse oxidativo pode gerar, por exemplo, fragmentação de DNA, problema que dificulta a gestação. Intervalos menores entre as relações sexuais permitem que o esperma fique menos tempo exposto a este risco”, esclarece.
Produção de sêmen
Estudos realizados em vários países mostraram que a qualidade média do sêmen dos homens têm caído globalmente desde a década de 1930. Embora não haja uma explicação conclusiva sobre as causas, muitos especialistas indicam que o consumo excessivo de álcool, padrões de dieta inadequados, tabagismo, uso de medicamentos, obesidade e exposição a substâncias químicas presentes em pesticidas, solventes e recipientes plásticos (bisfenol-A, por exemplo) podem afetar a produção de esperma.
Além disso, estudo apresentado recentemente na conferência da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM, na sigla em inglês) mostrou que as clínicas de fertilidade americanas descobriram que o número de espermatozoides eficientes tem caído 1,8% ao ano nos últimos 15 anos. Entre as causas estão: consumo excessivo de fast food, sedentarismo e poluição. Durante o período de acompanhamento, o número de homens com problemas de fertilidade aumentou de 9% (2002) para 11,6% (2017).
De acordo com Wood, o processo de produção de espermatozoides dura de 60 a 70 dias e tudo que acontece neste período pode interferir na produção e na qualidade do sêmen, inclusive temperatura, horários do dia e exposição à luz. Por causa disso, cientistas têm alertado que todos os agentes que interferem na produção de sêmen, assim como o câncer de testículo, colocam em perigo a taxa de natalidade mundial.