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Hidroxicloroquina funciona contra coronavírus? VEJA esclarece

O medicamento ainda está em fase de testes em humanos para avaliar sua eficácia; a recomendação é não usá-lo ainda

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 mar 2020, 22h28 - Publicado em 20 mar 2020, 21h31
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  • Desde ontem, a cloroquina e a hidroxicloroquina se tornaram alguns dos assuntos mais comentados do momento em relação ao coronavírus. O boom de buscas por esse composto até então desconhecido por grande parte da população começou depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que o medicamento é eficaz para tratar a Covid-19, doença causada pelo coronavírus. Para piorar, um áudio compartilhado no WhatsApp com informações falsas sobre o assunto começou a viralizar nesta sexta-feira 20.

    De acordo com o áudio, um estudo de Stanford – referindo-se à renomada Universidade Stanford, nos EUA – teria mostrado que o uso associado da hidroxicloroquina e azitromicina teria sido capaz de curar 40 pacientes com coronavírus e esse suposto protocolo de tratamento seria adotado no HCor e Prevent Senior, em São Paulo.

    O áudio é falso. De fato, a hidroxicloroquina e a azitromicina têm sido analisadas como potenciais tratamentos para a Covid-19. Mas o estudo em questão não foi feito por Stanford e, até o momento, não há evidência científica suficiente que comprove a eficácia do tratamento. Em seu site, a Universidade Stanford alerta que não está envolvida no estudo que sugere que a cloroquina é um potencial tratamento contra coronavírus.

    Sobre a adoção desse protocolo como tratamento em hospitais brasileiros, o HCor esclarece que “não há nenhum protocolo no hospital para utilizar hidroxicloroquina e azitromicina associados no ‘tratamento e cura’ do Covid-19. Trata-se de ‘fake news’, que está sendo disseminada de forma irresponsável envolvendo o nome da instituição. O HCor repudia de forma veemente essa atitude, que presta um desserviço à população e gera falsas expectativas.”. A Prevent Senior anunciou nesta sexta-feira o início de um estudo com a cloroquina e a azitromicina em pacientes com Covid-19.

    Para esclarecer as dúvidas da população, VEJA conversou com especialistas e responde as principais dúvidas sobre esses e outros tratamentos para o novo coronavírus.

    A hidroxicloroquina, a cloroquina e a azitromicina funcionam contra o coronavírus? Ainda não se sabe. Nenhum medicamento foi aprovado para tratar o novo coronavírus, mas médicos do mundo todo têm administrado desesperadamente diversos medicamentos nos pacientes em busca de algo eficaz.

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    A hidroxicloroquina é um derivado menos tóxico da cloroquina. Ambos são medicamentos baratos e amplamente disponíveis, usados no tratamento de doenças como malária, lúpus e artrite reumatoide. Um estudo recente realizado em laboratório com células in-vitro sugere que o medicamento consegue impedir o coronavírus de invadir as células, o que poderia ajudar a prevenir ou limitar a infecção.

    No entanto, a droga já se mostrou promissora em testes semelhantes contra outro vírus, mas ao ser testada humanos, não foi eficaz. “Em estudos in-vitro, ela sempre foi bem sucedida para muitos vírus, como HIV, zika e chikungunya e não seria diferente para coronavírus, mas em humanos, a cloroquina não teve sucesso em nenhum desses vírus, pois para alcançar uma concentração terapêutica eficaz em humanos a quantidade necessária é extremamente tóxica.”, explica o infectologista David Urbaez, do Laboratório Exame, que integra a Dasa.

    Outro estudo, realizado na França com 24 pacientes infectados com coronavírus mostrou que aqueles que tomaram hidroxicloroquina ou azitromicina estavam curados depois de seis dias, contra apenas 12,5% das pessoas que não tomaram nenhum desses medicamentos. Entretanto, especialistas afirmam que esse estudo ainda é muito preliminar para afirmar que o medicamento funciona. “Não tem ciência suficiente no trabalhos publicados para usar como protocolo de tratamento”, afirma Jorge Sampaio, médico consultor da Microbiologia do Fleury Medicina e Saúde.

    “A azitromicina é um antibiótico que tem efeito anti-inflamatório, então seu uso ajudaria a combater uma resposta inflamatória exacerbada e prejudicial. A lógica faz sentido, mas ainda não há evidência que a substância pode ser usada nesse caso.”, reforça Sampaio.

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    Diversos estudos clínicos bem desenhados sobre o uso dos medicamentos com o coronavírus estão em desenvolvimento. Basta ter paciência e esperar os resultados. “Acredito que em pouco tempo teremos um tratamento para a covid-19, mas é preciso cautela. Não dá para usar um medicamento sem ter certeza de sua eficácia e segurança, pois já aconteceram muitas interpretações equivocadas na história. A lidocaína, por exemplo, foi muito usada no tratamento de infarto e anos depois descobriu-se que ela causou a morte de muita gente, então é preciso realizar testes rigoroso antes de liberar um medicamento.”, diz Urbaez.

    Lei também:
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    Tomar esses medicamentos vai me proteger contra a infecção? Não e ainda pode colocar sua vida e a de outras pessoas em risco. “A automedicação pode representar um grave risco à sua saúde”, alerta a Anvisa em comunicado. A cloroquina e a hidroxicloroquina podem ter graves efeitos colaterais, incluindo sérios problemas cardíacos, renais e no fígado.

    Além disso, a corrida às farmácias em busca de um tratamento milagroso contra o coronavírus esgotou o medicamento em muitas farmácias e pacientes que precisam toma-lo para tratar doenças sérias como lúpus e artrite reumatoide correm o risco de ficar sem tratamento. “É um ato quase criminoso tirar toda a cloroquina do comércio e deixar pacientes que realmente precisam sem remédio. Os pacientes estão desesperados porque não encontram a medicação em lugar nenhum”, lamenta Urbaez.

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    Para tentar reverter o problema, a Anvisa determinou nesta sexta-feira 20 enquadrar a hidroxicloroquina e cloroquina como medicamentos de controle especial. Isso significa que o medicamento só poderá ser comprado mediante apresentação de receita branca especial em duas vias. Pacientes que já fazem uso desses medicamentos poderão utilizar a receita simples para a compra do produto durante o prazo de 30 dias.

    Qual tratamento é indicado para o coronavírus? No momento, a única opção é o tratamento de suporte. Ou seja, tratar os sintomas. Pacientes com sintomas leve, que não precisam de internação hospitalar, devem ficar em casa isolados – para não correr o risco de transmitir a infecção -, tomar muito líquido, repousar e usar paracetamol ou dipirona em caso de febre e dor no corpo. “O uso de qualquer anti-inflamatório, como ibuprofeno, aspirina ou dipirona é totalmente contraindicado. Também não recomendamos antigripais, pois seu uso é controverso. O mais seguro realmente é optar por paracetamol ou dipirona”, esclarece Urbaez.

    O infectologista também ressalta a importância das medidas não farmacológicas, como o isolamento, o distanciamento social, a higiene das mãos e etiqueta da tosse. “Não tem milagre nem segredo. Nunca teve”, diz.

    Vacina para cachorro previne o coronavírus? Nos últimos dias também circulou uma notícia de que uma vacina para cachorros protege contra o coronavírus. E muitas pessoas decidiram acreditar nela. Mas, como outras por aí, a notícia é falsa. Ainda estamos há pelo menos muitos meses de distância de uma vacina eficaz contra o vírus.

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    De acordo com a Governo do Estado de São Paulo, as vacinas V8 e V10, citadas pelo material, são as principais para a saúde de cães e agem no combate de várias doenças, como cinomose e coronavírus canino da espécie CCov (gênero alphacoronavirus), vírus que causa gastroenterite (sintomas de diarreia e vômitos constantes), podendo levar a óbito. Os cães contraem a doença por meio de fezes de outros cães contaminados, não sendo transmissível a humanos.

    Já o novo coronavírus, responsável pela pandemia de covid-19, é um vírus gênero betacoronavírus, que causa uma infecção respiratória. Portanto, aquelas vacinas indicadas para o tratamento de animais não têm eficácia para o novo coronavírus e não podem ser usadas em humanos.

    Cerca de 35 empresas e instituições acadêmicas ao redor do mundo estão correndo contra o tempo para desenvolver um imunizante. Esta semana, o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos anunciou o início dos primeiros testes em humanos de uma possível vacina.

    Essa velocidade no desenvolvimento e início dos testes clínicos de um imunizante é sem precedentes, mas mesmo assim não há milagre. Antes de poder chegar ao mundo todo, a vacina precisa passar por um rigoroso processo que analisará não só sua segurança e eficácia como a dosagem indicada etc, e isso ainda levará meses. Portanto, é preciso paciência.

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