Antes da concepção de um bebê, nascem futuros pais com dúvidas sobre o que fazer para aumentar a fertilidade e o que evitar para se tornar mais fértil. Quais suplementos e vitaminas devem ser tomados para melhorar a qualidade dos óvulos? Plásticos estão ligados à infertilidade? O celular no bolso afeta os espermatozoides? Diante da proliferação de questionamentos e da intensa produção de conteúdo sobre como engravidar naturalmente ou como ter sucesso em processos de preservação da fertilidade, como congelamento de gametas ou embriões e fertilização in vitro, a bioquímica e especialista em Biologia Molecular Rebecca Fett reuniu as evidências científicas mais atualizadas e escreveu o que pode ser chamado de um tratado sobre o assunto.
No livro Tudo Começa com o Óvulo (Editora Sextante), Rebecca usa sua veia de divulgadora científica para desmentir os principais mitos sobre fertilidade e explicar o que está comprovado para quem sonha em ter um filho. Nele, é possível entender que a suplementação com a coenzima Q10, também chamada CoQ10, pode ser um aliado da preservação da qualidade dos óvulos. Isso porque estudos apontam que ela está ligada à prevenção da queda de qualidade dessas células reprodutivas, evento que ocorre naturalmente com o avanço da idade.
O livro mostra ainda que vale a pena evitar os plásticos que contenham o bisfenol-A (BPA), conhecido disruptor endócrino, que já foi abolido de mamadeiras, por exemplo. E pensa também nos outros 50% fundamentais para a fecundação: homens precisam, sim, ter cuidados especiais, incluindo evitar dispositivos que aqueçam perto da região genital e fazer exames para acompanhamento da saúde.
Em entrevista para VEJA, a autora falou sobre o problema de infertilidade que atinge o mundo, destacou o papel da ciência e defendeu o financiamento para testes de fertilidade para que mulheres possam descobrir se têm algum problema o mais rápido possível.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou recentemente que uma em cada seis pessoas tem algum tipo de problema de fertilidade. Em seu livro, você traz os principais problemas que podem interferir em quem deseja engravidar naturalmente. Como você escolheu os tópicos mais importantes para explicar mitos e desinformações para futuros pais?
Enquanto escrevia o livro, quis compartilhar as informações que não eram amplamente conhecidas e que mais faziam diferença na chance de engravidar. Existe uma enorme lacuna entre os conselhos que as mulheres recebem e o que a pesquisa científica mostra. Eu queria fechar essa lacuna.
Quais são as principais preocupações que os seus leitores apresentam?
Muitos dos meus leitores estão no final dos 30 ou no início dos 40 anos, tiveram ciclos de fertilização in vitro fracassados e foram informados pelos médicos de que não há nada que possam fazer para melhorar suas chances de ter filhos. Isso simplesmente não é verdade, porque a ciência mostra que há muitas maneiras de melhorar a qualidade dos óvulos e tratar a infertilidade relacionada à idade.
A técnica mais importante para resolver dificuldades para ter filhos foi desenvolvida há 40 anos com a fertilização in vitro. Você acredita que o novo estilo de vida com hábitos alimentares piores e poluição, por exemplo, pode tornar o sonho de ter um filho mais difícil do que no passado?
A fertilização in vitro teve um enorme impacto no mundo da fertilidade, mas está se tornando muito fácil para as clínicas de fertilidade forçar as mulheres a fazerem a fertilização em vez de adotar as estratégias que poderiam permitir que elas resolvessem os problemas subjacentes e concebessem por conta própria. Essas estratégias incluem suplementos nutricionais, mudanças na dieta, evitar toxinas e fazer exames de laboratório para identificar problemas que podem ser corrigidos.
Você fez muita pesquisa para escrever este livro. Que tipo de notícias falsas ou desinformação você enfrenta durante o seu trabalho?
No mundo da fertilidade, existem muitas empresas tentando tirar vantagem das mulheres e vendê-las em remédios não comprovados. As que mais me preocupam são as ervas medicinais, que não foram estudadas extensivamente e, em alguns casos, estão contaminadas com chumbo ou outras toxinas. Concentro-me na ciência e nos suplementos que são apoiados por estudos clínicos.
Em alguns livros distópicos, como O Conto da Aia, autores imaginaram um mundo com pessoas incapazes de ter filhos. Você acredita que isso pode ser possível um dia?
Há muitas pessoas tentando assustar as mulheres sobre as toxinas em nosso ambiente, mas um grande progresso está sendo feito por empresas que estão mudando para materiais mais seguros. Como resultado, a exposição total a muitas toxinas está diminuindo com o tempo. Em geral, acredito no tremendo poder da ciência e da engenhosidade humana para resolver quaisquer problemas que o futuro possa trazer.
Além dos avanços da ciência, o que a população, gestores de políticas públicas e governos podem fazer para evitar a infertilidade?
Deve haver mais financiamento e incentivo para testes e diagnósticos de fertilidade para que as mulheres possam descobrir se têm algum problema subjacente o mais rápido possível e não perder a oportunidade de conceber.