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Estados Unidos autorizam uso do remdesivir contra o coronavírus

A aplicação emergencial do antiviral experimental foi aprovada após se mostrar eficaz em acelerar a recuperação de pessoas com Covid-19

Por Da redação
Atualizado em 1 Maio 2020, 18h08 - Publicado em 1 Maio 2020, 17h04
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  • A FDA, agência americana que regula medicamentos, autorizou nesta sexta-feira 1 o uso emergencial do remdesivir para tratamento de pacientes com Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. O antiviral experimental ainda está sendo testado, mas um novo estudo apontou que ele acelera a recuperação de pacientes internados. Reportagem de capa de VEJA detalhou as pesquisas com o remédio.

    “Os benefícios conhecidos e potenciais do remdesivir superam os riscos conhecidos e potenciais do medicamento para o tratamento de pacientes hospitalizados com COVID-19 grave.”, escreveu a FDA. Na ficha técnica direcionada aos pacientes, a FDA alerta que o remdesivir é um medicamento que ainda está sendo estudado. “Há informações limitadas sobre a segurança e eficácia do uso do remdesivir no tratamento de pessoas hospitalizadas por Covid-19. Em um estudo clínico, demonstrou-se que o remdesivir é capaz de reduzir o tempo de recuperação em algumas pessoas. Não existem medicamentos aprovados pelo FDA considerados seguros e eficazes no tratamento de pessoas hospitalizadas com Covida-19. Portanto, o FDA autorizou o uso de emergência do remdesivir”, escreve a agência.

    A decisão foi baseada nos resultados de dois estudos realizados com o medicamento em pacientes com Covid-19. Um estudo controlado randomizado duplo-cego – considerado o padrão outro em estudos clínicos – conduzido nos Estados Unidos pelos Institutos Nacionais da Saúde (NIH, na sigla em inglês) e um estudo aberto conduzido pela Gilead.

    O estudo no NIH mostrou que um curso de dez dias de tratamento de remdesivir é capaz de reduzir de 15 para 11 dias o tempo de recuperação de pacientes com Covid-19  em estado clínico de média e alta gravidade. A pesquisa, que começou no dia 21 de fevereiro, contou com a participação de 1.063 pacientes.

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    Os participantes foram divididos em dois grupos: um que recebeu o tratamento (chamado grupo de intervenção) e outro, o placebo (grupo controle). Os resultados indicam que os pacientes que receberam remdesivir tiveram um tempo de recuperação 31% mais rápido do que aqueles que receberam o placebo. A recuperação foi definida como alta hospitalar ou retorno ao nível normal de atividade.

    Além disso, parece haver um benefício de sobrevivência, com uma taxa de mortalidade de 8% para o grupo que recebeu remdesivir e de 11,6% para o grupo placebo. A grande vantagem é que, ao contrário do estudos anteriores, que não respeitavam os rigorosos moldes exigidos pela boa medicina, o novo estudo seguiu todos os protocolos.  Ou seja, segue o padrão “duplo-cego” randomizado, em que ambas as partes – médico e paciente – trabalham com desconhecimento do remédio oferecido e os doentes são divididos aleatoriamente nos dois grupos.

    Em coletiva de imprensa realizada quarta-feira 29, Anthony Fauci, chefe do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, alertou que os resultados do estudo ainda precisam ser revisados ​​adequadamente, mas expressou otimismo de que o remdesivir possa se tornar “o padrão de atendimento” para pacientes com Covid-19.

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    Ainda segundo Fauci, o estudo é a prova “de que o medicamento pode bloquear esse vírus” e comparou a descoberta com a chegada dos primeiros anti-retrovirais aprovados contra o HIV na década de 1980. O atazanavir, por exemplo, foi aprovado mediante a apresentação de resultados modestos de seu potencial no combate ao HIV.

    O outro estudo também teve seus resultados divulgados na quarta-feira 29. Ele mostrou que o remdesivir é eficaz no tratamento de Covid-19 em cursos de terapia com durações de 5 e 10 dias. Entretanto, um terceiro estudo com o medicamento, publicado no periódico científico The Lancet no mesmo dia que os dois anteriores concluiu que os pacientes que receberam o medicamento não melhoraram mais rapidamente do que os pacientes que foram tratados com um placebo.

    “Infelizmente, nosso estudo constatou que, embora seguro e adequadamente tolerado, o remdesivir não oferece benefícios significativos em relação ao placebo”, disse o pesquisador-chefe do estudo, Bin Cao, do Hospital de Amizade China-Japão e da Universidade Capital Medical, na China. Apesar dos resultados os pesquisadores ressaltam que pode haver benefício com o tratamento em pacientes menos graves.

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    O remdesivir pode não significar o fim da pandemia nem ser indicado para todos os pacientes, mas já é uma esperança. Desde o início da epidemia, o medicamento é considerado um dos candidatos mais promissores a tratamento contra a Covid-19.  Em fevereiro, o consultor sênior da Organização Mundial da Saúde (OMS), o canadense Bruce Aylward, alocado na China, alertou: “Há apenas uma droga com real eficácia contra a Covid-19. É o remdesivir.”

    Vale ressaltar que a a autorização emergencial concedida pela FDA não equivale a uma aprovação formal do medicamento. Quando há uma emergência de saúde pública, a agência está autorizada a aprovar certos medicamentos ou testes para atender à essa emergência se não houver outras alternativas. É o caso do coronavírus, uma vez que té o momento não foi comprovado nenhum medicamento que seja eficaz contra o vírus.

    Remdesivir

    O remdesivir é um antiviral que atua bloqueando a replicação do vírus. Criado em laboratório há oito anos, inicialmente sua eficácia foi avaliada no combate ao surto de Mers, a síndrome respiratória por coronavírus, identificada na Arábia Saudita. Depois, foi usado como terapia em casos africanos de ebola, na Guiné, Serra Leoa e Libéria, entre 2013 e 2016. Nos episódios da Mers, verificou-se em laboratório uma freada na multiplicação do vírus. Com o ebola, o resultados de testes em humanos foram considerados decepcionantes.

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    No caso do novo coronavírus, ensaios realizados no início da epidemia indicavam um potencial do tratamento na recuperação de pacientes graves. Entretanto, esses estudos não seguiam a metodologia exigida para garantir, com segurança, a eficácia do medicamento.

     

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