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Falta de vitamina D pode aumentar o risco de Covid-19, diz novo estudo

Pesquisadores da Universidade de Chicago ressaltam que ainda é cedo para afirmar que a suplementação da vitamina é capaz de proteger contra a infecção

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 set 2020, 17h55 - Publicado em 3 set 2020, 15h18

Um estudo publicado nesta quinta-feira, 3, no periódico científico JAMA Network Open concluiu que a deficiência de vitamina D está associada a um aumento do risco de infecção pelo novo coronavírus. Desde o início da pandemia surgiram indícios sobre a relação entre baixos níveis da vitamina e o aumento da probabilidade de desenvolvimento da Covid-19. Entretanto, de acordo com os autores, esse é o primeiro estudo que conseguiu avaliar a relação entre níveis da vitamina e o risco de infecção pelo novo coronavírus.

No estudo, pesquisadores da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, analisaram o resultado do teste RT-PCR e os níveis de vitamina D de 489 pessoas. Os resultados mostraram que aqueles com baixos níveis da vitamina tinham um risco 1,77 vezes maior de receber um diagnóstico positivo para a doença do que pessoas que tinham níveis mais altos do nutriente.

No entanto, de acordo com os próprios autores, a descoberta precisa ser avaliada com cautela, já que o estudo é do tipo retrospectivo e observacional. Os participantes tiveram seu nível de vitamina D aferido no ano anterior à realização do teste Covid-19. Então, para o estudo, os pesquisadores usaram resultados que já constavam em um sistema da faculdade de medicina. Isso significa que o trabalho apenas estabelece uma conexão entre os fatores, mas não necessariamente uma causa.

Ou seja, ainda é cedo para afirmar se um tratamento para aumentar o nível de vitamina D no organismo é capaz de reduzir o risco de infecção. “Estudos clínicos randomizados controlados com tratamentos para reduzir a deficiência de vitamina D são necessários para determinar se estas intervenções [com vitamina] podem reduzir a incidência de Covid-19, incluindo pesquisas com populações amplas e com grupos de particular risco para deficiência de vitamina D e/ou Covid-19”, ressaltam os autores.

Como foi feito o estudo

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores dividiram os participantes em grupos, de acordo com seu nível de vitamina D, sendo as possíveis classificações: provavelmente deficiente; provavelmente suficiente e outros dois grupos com deficiência indefinida.

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Do total, 71 pessoas, o equivalente a 15% da amostra, testaram positivo para Covid-19. Entre os participantes com deficiência para vitamina D, 19% (32 participantes) testaram positivo, enquanto no grupo sem deficiência, o percentual foi de 12% (39).

A vitamina D é um hormônio que possui receptores em células do sistema imunológico. Estudos clínicos anteriores, mostraram que a suplementação dessa vitamina, que é obtida de forma natural pela exposição solar e pela alimentação, pode reduzir a probabilidade de adoecimento por vírus respiratórios.

“Acabamos de publicar um artigo na revista Archives of endocrinology and metabolism alertando que a deficiência de vitamina D aumenta o risco das infecções respiratórias virais, como é a Covid-19, e também agrava a forma e apresentação da doença. Então já existiam indícios na literatura médica”, disse Marise Lazaretti de Castro, diretora do Departamento de Metabolismo Ósseo e Mineral da Sbem. De acordo com a especialista, níveis de vitamina D abaixo de 20 ng/mL são considerados insuficiência.

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Embora ainda sejam necessários mais estudos para comprovar a associação entre maiores níveis da vitamina e a proteção contra a Covid-19, a equipe da Universidade de Chicago, acredita que a vitamina D desempenha um papel importante no sistema de defesa do organismo.

“A vitamina D modula a função imunológica por meio de efeitos nas células dendríticas e nas células T, que podem promover a eliminação do vírus e atenuar as respostas inflamatórias que produzem os sintomas. Na medida em que previne a infecção, diminui a replicação viral ou acelera a eliminação do vírus, o tratamento com vitamina D pode reduzir a transmissão (da doença). Por outro lado, se a vitamina D reduz a inflamação, ela pode aumentar a transmissão assintomática e diminuir as manifestações clínicas, incluindo a tosse, tornando difícil prever seu efeito na disseminação do vírus”, conclui o artigo.

Suplementação

Especialistas pedem cautela na interpretação dos resultados e na suplementação da vitamina D sem acompanhamento médico. “O que está demonstrado é que a vitamina D tem um papel de melhora do sistema imunológico e que ela é indicada, obviamente com acompanhamento médico, ao grupo que está com o nível baixo. Não adianta repor a substância em pessoas que apresentam níveis normais, achando que isso pode proteger contra a doença.”, ressalta a endocrinologista Lívia Lugarinho Corrêa, especialista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia do Rio de Janeiro (Iede).

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A luz natural é essencial para a produção de vitamina D. A melhor forma de aumentar o nível da substancia no organismo é pela exposição ao sol. O consumo de alimentos como salmão, sardinha, queijo, gema de ovo e bife de fígado, também são podem ajudar.

No inverno e durante uma pandemia, de fato é mais difícil tomar sol. Lívia reforça que o hábito é importante e recomenda uma exposição em janelas, varandas e quintal. Mesmo que ainda não haja comprovação que estar com o nível de vitamina D em dia pode proteger contra a Covid-19, a substância também é importante para evitar doenças ósseas e musculares e para reduzir o risco de depressão.

“O que nós não recomendamos, porque não existe nenhuma evidência na literatura, são as mega doses de vitamina D. Estas ainda não têm benefício demonstrado. As suplementações devem ser com as doses habituais entre mil e duas mil unidades por dia, que são doses seguras. O que recomendamos é que as pessoas de maior risco, façam a suplementação com orientação médica e com as doses habituais. Além disso, é importante ressaltar que isso não é a cura da Covid-19, mas um fator que pode contribuir para o risco de infecção ou piora do quadro, e que pode ser controlável pelos médicos”, finaliza Marise.

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