Já é consenso – ou pelo menos deveria ser – que a vacinação contra a Covid-19 reduz o risco da doença na sua forma aguda. No entanto, o papel dos imunizantes na proteção contra os problemas de saúde que persistem nos meses após a infecção, a chamada Covid longa, ainda não é tão evidente para a comunidade científica, principalmente em relação à população pediátrica.
Motivados a elucidar essa questão, pesquisadores liderados pelo Hospital Pediátrico de Philadelphia (CHOP) descobriram que a vacinação em crianças, de fato, oferece certa proteção contra a Covid longa. A imunização também tem efeito mais forte em adolescentes que, por sua vez, possuem risco maior de desenvolver a doença em relação às crianças.
Os cientistas analisaram resultados de uma colaboração em grande escala de sistemas de saúde criada para captar dados sobre os efeitos de longo prazo da Covid-19. Foram observados dois grupos de pacientes, o primeiro entre 5 e 11 anos, e o segundo entre 12 e 17 anos, bem como o período de tempo em que esses jovens foram impactados. A taxa de vacinação foi de 56% entre as 1.037.936 crianças estudadas.
O estudo, publicado no período científico da American Academy of Pediatrics, foi o primeiro a utilizar dados clínicos de grandes grupos para analisar a Covid longa – tema que é difícil de descrever com precisão dada a sua variedade de sintomas e desconhecimento sobre como a doença é causada exatamente. Em comunicado, o autor sênior da pesquisa, Charles Bailey, espera que à medida que as vacinas sejam aprimoradas contra as cepas atuais a proteção contra a Covid longa também melhore.
Descobertas
A incidência de provável Covid longa foi de 4,5% entre pacientes com o vírus, embora apenas 0,7% dos pacientes tenham sido diagnosticados clinicamente com Covid longa. O estudo estimou a eficácia da vacina, dentro de 12 meses da administração, como 35,4% contra a Covid longa provável e 41,7% contra a doença efetivamente diagnosticada. Por outro lado, a estimativa de eficácia geral foi maior em adolescentes (50,3%) em comparação com crianças mais jovens (23,8%).
Apesar de haver uma dificuldade em calcular a incidência exata da Covid longa em crianças, a comparação entre crianças vacinadas e não vacinadas é estatisticamente robusta e confirma que as vacinações podem reduzir a gravidade da doença, mas não eliminá-la.
Resultados semelhantes em adultos
Os resultados estão alinhados com vários estudos recentes sugerindo que as vacinas reduzem a incidência da Covid longa em adultos. No entanto, os dados pediátricos são limitados, pois como os corpos e sistemas imunológicos das crianças estão em crescimento eles respondem de maneira diferente à infecção e à vacinação em comparação com os adultos. Daí a importância dos estudos especificamente voltados para as populações pediátricas.