A triste decisão foi publicada no Diário Oficial da cidade de São Paulo: quatro dos 22 cemitérios da capital foram autorizados a realizar enterros até as 22 horas, e não apenas até o limite de 18 horas, ainda à luz do sol, como de hábito. A justificativa: “otimizar o serviço de sepultamento diário, a fim de amenizar o sofrimento dos familiares e garantir dignidade no momento da cerimônia”. E deu-se o inevitável: com contratos temporários de novos agentes funerários, compras de máquinas de escavação e torres de iluminação, os endereços de Vila Formosa, São Luiz, Vila Nova Cachoeirinha e São Pedro começaram a receber os corpos também debaixo do luar. A medida é resultado dos assustadores números da Covid-19 nas últimas semanas. Em 31 de março, o Brasil contava mais de 300 000 mortes desde o início da pandemia. Somente no mês de março, foram 66 573 vítimas. Na véspera, no estado de São Paulo houve um recorde de 1 209 vidas perdidas em apenas 24 horas. A saída, para evitar que covas continuem a ser abertas no escuro: a prorrogação da fase emergencial de quarentena até 11 de abril, com severas restrições. E, como mantra, a aceleração da campanha de vacinação. O programa de imunização começou em São Paulo em 17 de janeiro. De lá para cá foram oferecidos 9 milhões de doses aos paulistas, o maior montante nacional. Logo atrás estão Minas Gerais (3,6 milhões) e Rio de Janeiro (3,1 milhões). Cerca de 8% da população brasileira já recebeu ao menos uma dose. É pouco ainda, mas há empenho e começa a haver organização.
Publicado em VEJA de 7 de abril de 2021, edição nº 2732