A África do Sul, berço da variante ômicron, está enfrentando uma possível quinta onda de Covid-19. O novo surto, que triplicou o número de novas infecções e aumentou as hospitalizações, está ligado a BA.4 e BA.5, duas subvariantes que fazem parte da família ômicron.
“O que estamos vendo agora, ou pelo menos os primeiros sinais, não são variantes completamente novas, mas as cepas atuais que estão começando a criar linhagens de si mesmas”, disse Tulio de Oliveira, diretor da Plataforma de Sequenciamento de Pesquisa e Inovação KwaZulu-Natal da África do Sul. “A BA.4 e BA.5 demonstram como o vírus está evoluindo de forma diferente à medida que a imunidade global aumenta”.
Desde sua identificação inicial na África do Sul e Botsuana em novembro passado, a ômicron, altamente contagiosa e classificada como variante de preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS), produziu várias subvariantes.
Especialistas em saúde pública do país monitoram a situação para saber o que causa esse aumento de casos, como se relaciona com a imunidade de infecções anteriores e quais são suas implicações globais.
Na África do Sul, pesquisadores estimam que cerca de 90% da população tem alguma imunidade, em parte por inoculação e outra por infecções anteriores. No entanto, a resposta imunológica à doença geralmente começa a diminuir em cerca de três meses. “É natural ver a reinfecção neste estágio, principalmente devido à mudança de comportamento das pessoas, como usar menos máscaras e viajar mais”, explicou Ali Mokdad, epidemiologista da Universidade de Washington e ex-Centers for Disease Control and Prevention (CDC).
Dados mostram que em pessoas não vacinadas, a BA.4 e BA.5 escapam das defesas naturais produzidas a partir de uma infecção com a variante ômicron original, conhecida como BA.1. O resultado são infecções sintomáticas com as novas subvariantes. “Essa é a razão pela qual está começando a alimentar uma nova onda na África do Sul”, disse Oliveira.
Os cientistas ainda estão estudando se esse surto cria doenças mais leves ou mais graves, e não está claro se as duas subvariantes podem surgir em outras partes do mundo. “Estamos em um momento global em que o passado não pode prever o futuro”, afirmou Kavita Patel, médica que liderou a resposta de preparação para a pandemia do vírus da gripe suína H1N1, durante o governo Obama, nos Estados Unidos. “Mas o monitoramento de situações e dados provenientes de países como a África do Sul oferece sinais confiáveis para entender a evolução do vírus”, completou.
Atualmente, outra subvariante ômicron, a BA.2, é dominante nos Estados Unidos, mas autoridades de saúde pública identificaram a BA.4 e BA.5 circulando em níveis baixos. “Qualquer que seja a variante dominante, a lição aqui é interromper a transmissão. É o mais importante”, declarou Eric Feigl-Ding, epidemiologista chefe da força-tarefa contra a Covid-19 da Rede Mundial de Saúde.