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Dormir pouco ou dormir muito? Ambos fazem mal; saiba por que

Constatação é de estudo brasileiro que investigou impactos de durações de sono maiores ou menores que cerca de sete horas em adultos e idosos

Por Tamiris Rezende*, para o The Conversation
Atualizado em 4 out 2024, 14h35 - Publicado em 3 out 2024, 13h00

Como já diziam nossas avós, nada como uma boa noite de sono… Mas o que é dormir bem? E qual o impacto do sono no processo de envelhecimento? Em nossas pesquisas, investigamos a associação entre distúrbios do sono e desempenho cognitivo de adultos e idosos. E os resultados sugerem que tanto dormir pouco quanto dormir muito são prejudiciais para funções cognitivas como memória, fluência verbal, funcionamento executivo, além da cognição global.

Sono prejudicado

O ritmo acelerado e globalizado da sociedade atual pode implicar em mudanças comportamentais e sociais que acabam afetando o sono. A busca desenfreada por tempo acelera o ritmo de vida implicando em mudanças em várias dimensões do cotidiano, inclusive na disponibilidade para dormir.

Essa aceleração social pode ser impulsionada por diversos fatores, como avanços tecnológicos, globalização, mudanças culturais e subjetivas. E isso implica na constante busca por fazer cada vez mais atividades em menos tempo, sugerindo um traço constitutivo da modernização. Com isso, as pessoas adotam estilos de vida mais agitados, com atividades laborais mais prolongadas, além de conectividade permanente.

Essas características da atual vida social podem gerar dificuldades para se desligar ou relaxar, que afetam negativamente o sono. Em decorrência, queixas relacionadas às alterações do sono, como duração e insônia, têm sido cada vez mais comuns na população adulta.

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No Brasil, 76% dos indivíduos acima de 16 anos têm pelo menos uma queixa do sono, ou seja, aproximadamente 108 milhões de pessoas. Pesquisa de base populacional recente demonstrou alta prevalência de insônia (45,9% a 58,6%) entre brasileiros com 50 anos ou mais. Outro estudo aponta tendência de sono curto (6h ou menos) entre aqueles com idade entre 40 e 59 anos e, sono longo (9h ou mais) naqueles com 60 anos ou mais.

E isso pode ser um problema, já que o sono pode beneficiar habilidades cognitivas importantes como a memória, atuando em sua consolidação, além da saúde mental. Mas alterações no sono, como mudanças na duração e qualidade, podem prejudicar o desempenho cognitivo em habilidades como a função executiva, fluência verbal, memória, bem como associar-se ao declínio cognitivo.

Por desempenho cognitivo, entendem-se diferentes domínios ou habilidades cognitivas, como a memória, linguagem, atenção, concentração, etc. Essas habilidades funcionam de maneira hierárquica e dependente entre si. Nessa lógica, o desempenho cognitivo permite ao indivíduo gerenciar suas experiências, adaptar-se ao meio e solucionar problemas mediante as diferentes demandas do cotidiano.

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Sono e envelhecimento

Com o aumento da expectativa de vida, o envelhecimento tem se tornado tema central no cotidiano de todo o mundo. Com isso, as preocupações ao redor das doenças neurodegenerativas estão cada vez mais frequentes nos debates de saúde pública e na população em geral. Isso porque essas doenças estão relacionadas ao aumento da incapacidade e dependência, além de mortalidade.

Com acelerado processo de envelhecimento populacional, em 2017 o Brasil contava com 30,2 milhões de idosos com 60 anos ou mais. Em 2022 esse número saltou para 32,1 milhões, o equivalente a 15,6% de sua população total. Assim, o envelhecimento populacional é uma preocupação constante, especialmente, por estar relacionado com o aumento das doenças crônicas em geral, com destaque para o declínio cognitivo, a demência e a incapacidade física.

Nesse contexto, destacam-se os estudos que se interessam por fatores associados e potencialmente modificáveis como os socioeconômicos, comportamentais e de saúde. Entre esses fatores está o sono, que tem sido relacionado com o desempenho cognitivo.

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Tanto o sono quanto o desempenho cognitivo podem sofrer prejuízos com o processo de envelhecimento, caracterizados pela diminuição da duração e eficiência do sono, bem como a diminuição do desempenho cognitivo que faz parte do envelhecimento normal. Nesse sentido, pergunta-se se os possíveis efeitos prejudiciais do sono sobre o desempenho cognitivo podem variar entre adultos e idosos.

Nosso estudo

O objetivo da nossa pesquisa foi investigar a associação isolada e combinada entre distúrbios do sono (duração do sono, sintomas de insônia nas últimas 30 noites e cansaço diurno) e desempenho cognitivo de adultos e idosos em testes cognitivos.

Para isso, foi realizada análise transversal dos dados da visita 2 (2012–2014) do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), isto significa que os dados incluídos foram avaliados naquele único e determinado momento. O ELSA-Brasil é uma coorte de servidores públicos ativos e aposentados de seis capitais brasileiras: Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Salvador e Vitória, que contou, no início do estudo, em 2008, com 15.105 participantes voluntários.

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Foram incluídos um total de 7.248 participantes, entre 55 e 79 anos, com média etária de 62,7 anos, sendo 55,2% mulheres. Associações em forma de U invertido foram observadas entre duração do sono e desempenho em todas as habilidades cognitivas, ou seja, durações menores ou maiores que sete horas estão associadas ao pior desempenho, independentemente da idade.

Além disso, o relato de insônia foi associado à pior função executiva, sendo a força das associações maiores para indivíduos com insônia em dois ou mais momentos ou, especialmente, insônia combinada com sono curto. Insônia em dois ou mais momentos também foi associada à menor memória e cognição global.

Esses resultados — que sugerem que durações maiores ou menores que cerca de sete horas do sono foram prejudiciais para todas as funções cognitivas investigadas — foram semelhantes tanto para adultos de meia idade quanto para idosos, embora as pontuações dos resultados tenham sido menores para idosos em comparação aos adultos. Além disso, a insônia pareceu afetar mais fortemente a função executiva, mas também prejudicou a memória e a cognição global.

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Estudos como o nosso, que visam investigar fatores potencialmente modificáveis para o declínio cognitivo (como é o caso do sono), podem gerar evidências e contribuir para subsidiar intervenções em saúde que objetivem protelar o início do declínio cognitivo e promover o envelhecimento saudável.

* Tamiris Rezende é doutora em Saúde Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

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