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Doenças neurológicas afetam 3,4 bilhões de pessoas em todo o mundo

Segundo estudo, condições são a principal causa de adoecimento e incapacidade globalmente; AVC, encefalopatia neonatal e enxaqueca lideram o ranking

Por Ligia Moraes 15 mar 2024, 12h00

Globalmente, o número de pessoas vivendo com condições neurológicas ou com morte relacionada a elas era maior do que se imaginava e aumentou substancialmente nos últimos 30 anos. De acordo com um estudo publicado no periódico The Lancet Neurology nesta quinta-feira, 14, 3,4 bilhões de pessoas foram diagnosticadas com alguma dessas doenças incapacitantes, como doença de Alzheimer e outras demências, acidente vascular cerebral (AVC) e cânceres do sistema nervoso.

Os distúrbios neurológicos mais prevalentes em 2021, ano analisado pelos pesquisadores, foram dores de cabeça do tipo tensional (cerca de 2 bilhões de casos) e enxaquecas (cerca de 1,1 bilhão de casos). A neuropatia diabética é a que mais cresce entre todas as condições neurológicas.

Fatores como o envelhecimento da população, o aumento da exposição a riscos ambientais e metabólicos, além do estilo de vida estão diretamente relacionados a esse aumento.

O novo estudo visa a ajudar os formuladores de políticas públicas a entenderem melhor o impacto das condições neurológicas tanto em adultos quanto em crianças, para elaborar intervenções mais eficientes e personalizadas nos países. Orientar os esforços contínuos de conscientização ao redor do mundo também está entre os objetivos.

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Para Gisele Sampaio, neurologista e pesquisadora do Hospital Israelita Albert Einstein, o artigo se mostra ainda mais relevante devido ao aumento da longevidade observado no Brasil e no mundo.

“O crescimento da expectativa de vida, apesar de ser positivo, traz mais problemas de saúde à população, uma vez que as doenças neurológicas estão associadas ao envelhecimento”, aponta a médica. “Por isso, entender a carga dessas doenças é importante para planejar o futuro, do ponto de vista de saúde pública”, finaliza. 

Os dez principais responsáveis para a perda de saúde neurológica em 2021 foram:  

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  • acidente vascular cerebral (AVC)
  • encefalopatia neonatal 
  • enxaqueca, 
  • doença de Alzheimer e outras demências,
  • neuropatia diabética 
  • meningite
  • epilepsia
  • complicações neurológicas do parto prematuro
  • transtorno do espectro do autismo  
  • cânceres do sistema nervoso. 

As consequências neurológicas da Covid-19 ficaram em 20º lugar, representando 2,48 milhões de anos de vida saudável perdidos em 2021. 

Menos anos de vida saudável 

A análise, com base no estudo de Carga Global de Morbidade (Global Burden of Disease Study), de 2021, constata que as condições neurológicas foram responsáveis por 443 milhões de anos de vida saudável perdidos em 2021. Isso representa um aumento de 18% nos últimos 31 anos, quando, em 1990, esse número era de  375 milhões de anos de vida saudável perdidos. O envelhecimento e o crescimento populacional em todo mundo estariam ligados ao incremento. 

Para a coleta de dados, os cientistas usaram a “medida de Daly”, que é a resultante da soma de duas parcelas de tempo: os anos de vida perdidos por morte prematura causada pela doença e os anos de vida vividos com incapacidade causada pela mesma doença. Assim, quanto maior o Daly, maior é o impacto de determinada enfermidade na saúde da população, uma vez que a medida indica um ano de vida saudável perdida. 

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A doença neurológica, muitas vezes, não leva ao óbito de maneira imediata, mas, por ser altamente debilitante, o paciente passa muito tempo dependente de cuidadores e acompanhantes. É comum, inclusive, o indivíduo acometido ter de se retirar da força de trabalho, juntamente com um familiar que passa a se dedicar ao seu cuidado. “Cerca de 60% das vítimas do AVC não retornam ao trabalho. E pelo menos metade dessa parcela precisa de cuidado a longo prazo”, afirma Gisele. “Portanto, a carga social nesse processo é enorme”. 

Neuropatia diabética: números preocupantes

O número de pessoas com neuropatia diabética triplicou globalmente desde 1990, chegando a 206 milhões em 2021. Segundo os autores, isso está de acordo com o aumento da prevalência global do diabetes, dado que se mostra preocupante, principalmente, a nível nacional, uma vez que o Brasil é o quinto país com mais pessoas vivendo com diabetes no mundo. 

Países de baixa e média renda são os mais afetados

Para os estudiosos, a perda de saúde do sistema nervoso impacta desproporcionalmente países de média e baixa renda, devido ao acesso limitado a serviços de tratamento e reabilitação e à maior prevalência de condições que afetam neonatos e crianças menores de 5 anos, especialmente complicações relacionadas ao parto e infecções. Mais de 80% das mortes neurológicas e problemas de saúde ocorrem em países de baixa e média renda. 

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No Pacífico Asiático de alta renda e na Australásia (Austrália, a Nova Zelândia, a Nova Guiné e ilhas do oceano Pacífico) — regiões com a melhor saúde neurológica — a taxa de Daly e mortes foi inferior a 3.000 e 65 por 100.000 pessoas, respectivamente, em 2021. Em contraste, nas regiões mais desfavorecidas da África subsaariana central e ocidental, o índice e as mortes foram até cinco vezes maior (mais de 7.000 e 198 por 100.000 pessoas, respectivamente) no ano estudado. 

Os autores destacam que, desde 2017, apenas ¼ dos países globalmente tinham um orçamento separado para condições neurológicas e aproximadamente metade tinha diretrizes clínicas. Além disso, os médicos que cuidam de pessoas com condições neurológicas estão distribuídos de forma desigual ao redor do mundo, com países de alta renda tendo 70 vezes mais profissionais neurológicos por 100.000 indivíduos do que os de baixa e média renda. 

A prevenção precisa ser prioridade máxima

Gisele Sampaio reforça a importância da vacinação como forma de prevenção dessas doenças, como por exemplo a meningite. “As vacinas não só evitam doenças infecciosas graves, mas também têm ação na prevenção de doenças cérebro-cardiovasculares”, afirma. Uma estimativa publicada no mesmo estudo sugere que a redução da glicose plasmática em jejum elevada para níveis normais poderia diminuir a incidência da demência em cerca de 15%.

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A pesquisa ainda defende que, pelo fato de muitas condições neurológicas não terem cura e o acesso aos cuidados médicos muitas vezes serem limitados, entender os fatores de risco modificáveis e evitáveis paras condições neurológicas é essencial para ajudar a conter essa crise de saúde global. 

Felizmente, muitas condições neurológicas são preveníveis. O AVC, inclusive, pode ser evitado em até 90% dos casos, se houver controle dos fatores de risco. “Por esse motivo, conhecer e tratar esses fatores é fundamental. Por exemplo, controlar a diabetes e hipertensão é fazer a prevenção primária de doenças neurológicas”, explica Gisele. 

Mas, melhor do que isso, é a prevenção primordial, como defende a especialista, que é evitar o aparecimento do próprio fator de risco. Isso implica levar um estilo de vida saudável, exercitar-se, evitar tabagismo e ter uma dieta balanceada.

 

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