Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Dieta ‘low-carb’ acelera o envelhecimento, revela estudo

Uma má notícia para um dos regimes alimentares mais seguidos no mundo

Por Letícia Passos
Atualizado em 4 jun 2024, 15h46 - Publicado em 13 set 2019, 06h30
  • Seguir materia Seguindo materia
  • A chave para emagrecer com saúde, sabe-se quase de cor, é o casamento adequado entre reeducação alimentar e atividade física. Trata-se de uma guerra, nem tão metafórica assim — e não é raro que se apele às promessas milagrosas das dietas da hora, essas que vão e vêm. As estatísticas globais, o Brasil incluído, são conclusivas: seis em cada dez adultos que recorrem a algum tipo de regime para perder peso optam pela redução de carboidratos — adotam uma dieta low-carb, na alcunha em inglês. A escolha é lógica: a privação de carboidratos (macarrão, pizza, batata, pão etc.) faz os ponteiros da balança descer em um período mais rápido de tempo. Perdem-se, em média, até 10% do peso em apenas trinta dias. Uma pessoa com 70 quilos, por exemplo, chega ao fim do mês de boca fechada com espantosos 7 quilos a menos. É de fato muito tentador. Mas — sempre há um porém — um novo e completo estudo ilumina um aspecto escondido das low-carb. A má surpresa: elas aceleram o envelhecimento. “A descoberta é um alerta definitivo sobre o perigo de dietas baseadas em um único nutriente”, diz Viviane Alves, professora de microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais, coautora do trabalho, publicado na reputada revista científica americana Current Biology.

    Desenvolvido numa parceria entre o Instituto Sahmri, na Austrália, e a Universidade de Bristol, na Inglaterra, o estudo revelou que as proteínas, seja de origem animal, seja de origem vegetal — que tendem a substituir o carboidrato —, podem ser perigosas quando consumidas em excesso. Há, como decorrência indesejada, um aumento do ritmo do metabolismo celular. Resultado: essa aceleração provoca um erro no mecanismo de produção de compostos que protegem o organismo. A consequência é a morte celular abrupta. Dessa forma, o corpo passa a perder mais células do que é capaz de repor, o que leva ao envelhecimento precoce e à redução da expectativa de vida. Os pesquisadores avaliaram células humanas em laboratório. O próximo passo será estudar o efeito no cotidiano das pessoas. Por excesso de proteínas, entende-se o seguinte: uma pessoa de 70 quilos não deveria consumir mais de três bifes de filé-mignon por dia, ao longo de pelo menos um mês — porção facilmente ingerida em apenas uma refeição nesse tipo de regime.

    + Estudo revela o melhor dia da semana para subir na balança

    arte-macarrao-1
    (./.)

    A proliferação das dietas low-carb causou uma reviravolta nos hábitos alimentares no mundo todo. No Brasil, o consumo de feijão caiu pela metade nas últimas quatro décadas. O consumo internacional de batata diminuiu 40%. A predileção por esse tipo de regime tem história — ele nasceu no século XIX, quando o francês Jean Anthelme Brillat-­Savarin, autor do tratado de gastronomia A Fisiologia do Gosto, obra pioneira sobre a relação do homem com a comida, defendeu a renúncia total a açúcares e farináceos. O princípio foi retomado com força avassaladora nos anos 1970 pelo cardiologista americano Robert Atkins. Um de seus livros virou best-­seller e vendeu mais de 15 milhões de cópias ao redor do mundo. Os adeptos de Atkins estão liberados para comer ovos, bacon e carnes e chegam a emagrecer 10% do peso corporal em apenas quinze dias. Depois da dieta Atkins, como ficou conhecido o regime, outras versões foram surgindo — a paleolítica, a Dukan, a cetogênica, todas orientando grandes cortes no consumo de carboidratos e uma engolindo a outra na preferência popular (veja o quadro).

    Continua após a publicidade

    Quem segue ou já seguiu a low-carb sabe muito bem que o sucesso é passageiro. Dois terços dos adeptos recuperam o peso original em até cinco anos depois do fim do corte calórico. Oito em cada dez desistem do regime antes de ele completar três meses. O carboidrato é, naturalmente, a primeira opção de energia corpórea. Na falta dele, a gordura em si passa a ser utilizada como combustível essencial. “Em pouco tempo, a perda de gordura faz com que o organismo, para se defender, reduza o ritmo natural do seu gasto calórico, tornando o regime impraticável, e a dieta passa a não funcionar”, diz a nutricionista Rafaela Destri, do Hospital São Paulo e da clínica Cia. da Consulta, em São Paulo. Além disso, os carboidratos são o principal alimento associado à fabricação da serotonina, substância fundamental para multiplicar as sensações de bem-estar e prazer.

    Tudo somado, como manda o bom-senso, qualquer exagero é ruim. A proteína tem de estar presente na metade das refeições, a gordura em uma e os carboidratos em todas elas. Logicamente, a escolha deve ser pelos alimentos preparados com farinha integral. O valor nutricional do trigo branco, sem a casca nem o germe da planta, é menor. A quantidade de fibras dos integrais, a título de comparação, é três vezes maior em relação aos brancos. Ainda assim o trigo refinado não é de todo ruim. Um pãozinho contém tanta fibra quanto uma banana.

    Outra tese em defesa dos carboidratos, publicada na revista científica The Lancet: as fibras das farinhas são essenciais para a prevenção de algumas doenças. Reduzir a quase nada as fibras nas dietas — o que acontece quando os carboidratos são subtraídos — priva o organismo de nutrientes indispensáveis. O consumo regular de carboidratos e, portanto, de fibras diminui o risco de morte por doenças cardíacas (menos 32%), acidentes vasculares (menos 22%) e câncer de intestino (menos 16%). Pense duas vezes antes de eliminar o pãozinho do café da manhã. É assim, até que brote uma nova dieta mágica.

    Continua após a publicidade
    arte-dietas-iPhone
    (./.)

    Publicado em VEJA de 18 de setembro de 2019, edição nº 2652

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.