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Dengue 3 volta a circular após 15 anos sem causar epidemias no Brasil

Fiocruz divulgou estudo para compartilhar informação com agilidade e preparar país para possível disseminação do vírus; entenda risco

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 10 Maio 2023, 20h15

Após 15 anos sem causar epidemias no Brasil, o sorotipo 3 do vírus da dengue teve seu ressurgimento detectado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Amazônia) e Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), segundo informe divulgado nesta quarta-feira, 10. Por enquanto, ele foi identificado em quatro casos da doença em Roraima e no Paraná, mas a possibilidade de circulação do sorotipo que não levava a casos há tanto tempo acendeu o alerta do grupo, que publicou um estudo ainda sem revisão de pares sobre o tema para compartilhar a informação com agilidade e preparar país para possível disseminação do vírus.

“Nesse estudo, fizemos a caracterização genética dos casos de infecção pelo sorotipo 3 do vírus dengue. É um indicativo de que poderemos voltar a ter, talvez não agora, mas nos próximos meses ou anos, epidemias causadas por esse sorotipo”, explica o virologista Felipe Naveca, chefe do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes e Negligenciados da Fiocruz Amazônia e pesquisador do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do IOC/Fiocruz.

Na infecção no Paraná, foi constatado que o caso era importado, porque foi diagnosticado em um paciente vindo do Suriname. Nos três episódios em Roraima, os casos são autóctones (de transmissão local) e as pessoas não tinham histórico de viagem.

A linhagem detectada, segundo os pesquisadores, chegou às Américas provavelmente por meio do Caribe entre 2018 e 2020 e é proveniente da Ásia. “Ela está circulando na América Central e recentemente também infectou pessoas nos Estados Unidos. Agora, identificamos que chegou ao Brasil”, diz Naveca.

“Esse é um alerta válido não só para o Brasil, mas para toda a região das Américas. Tendo em vista estarmos vivendo um grande número de casos de arboviroses esse ano no Brasil, a detecção de um novo sorotipo do vírus da dengue não é uma boa notícia”, alertou.

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Na semana passada, diante da alta da dengue no país, o Ministério da Saúde anunciou o lançamento da Campanha Nacional de Combate à Dengue, Zika e Chikungunya com ações que vão das tradicionais visitas de agentes de saúde aos imóveis e à adoção de tecnologias focadas no vetor das três doenças, o Aedes aegypti, como o uso de mosquitos estéreis e da bactéria Wolbachia, capaz de impedir que o inseto transmita o vírus da dengue.

Das três arboviroses em circulação, a dengue é a que mais preocupa, pois o país registra um aumento de 30% nos casos em relação ao mesmo período no ano passado. O Brasil contabiliza 899.555 casos e 333 óbitos registrados. A incidência é de 422 casos por 100 mil habitantes e a principal região afetada é a Sudeste.

Qual o risco da volta da dengue 3?

O complexo vírus da dengue possui quatro sorotipos. Quando uma pessoa se infecta com um deles, se torna imune àquele sorotipo, mas ainda pode contrair os demais. Como o sorotipo 3 não circula desde meados de 2008, há risco de uma epidemia, porque há expressiva população vulnerável por não ter contraído o vírus.

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“Como é um tipo de vírus que circulou pouco por aqui, pode ser um fator de risco para doença mais grave, especialmente em pessoas que já tiveram infecção por outro tipo”, acrescenta Helio Magarinos Torres Filho, patologista clínico e diretor do Richet Medicina e Diagnóstico.

Ele explica que há vários tipos de testes diagnósticos para dengue, inclusive PCR, capaz de distinguir o sorotipo que a pessoa foi infectada. “Importante lembrar que este teste tem de ser feito logo no início dos sintomas, entre o primeiro e o quinto dia, pois (o vírus) pode não ser detectado após este período.”

Vacina contra a dengue

No início de março, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro da vacina Qdenga, do laboratório japonês Takeda Pharma, primeiro imunizante liberado no país para pessoas que nunca tiveram contato com o vírus da dengue. O esquema de vacinação é de duas doses com intervalo de três meses entre as aplicações e a indicação é para a faixa etária de 4 a 60 anos.

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O imunizante demonstrou, em testes clínicos, eficácia geral de 80,2% contra a dengue causada por qualquer sorotipo após 12 meses da segunda dose e reduziu as hospitalizações em 90%.

A outra vacina aprovada, Dengvaxia, do laboratório francês Sanofi Pasteur, é recomendada apenas para quem já foi infectado pelo vírus.

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