A despeito dos avanços das medicina no desenvolvimento de imunizantes, o ano de 2021 promete ser uma longa batalha contra o vírus. O sucesso da vacinação no combate à Covid-19 depende não apenas da eficácia de um imunizante, mas de fatores associados à implementação da campanha de aplicação do medicamento. O principal deles: a adesão à vacina. Para controlar a disseminação da doença e acabar com a pandemia, é preciso vacinar uma quantidade mínima de pessoas, que será suficiente para impedir que o vírus se replique e chegar à chamada imunidade coletiva ou de rebanho.
Essa taxa irá depender de fatores como a eficácia da vacina e a velocidade com que o vírus se espalha, a chamada taxa de transmissão. No caso de uma vacina com 60% de eficácia, 83% das pessoas precisariam estar vacinadas para impedir a transmissão do vírus, de acordo com uma estimativa feita pelo microbiologista Luiz Gustavo de Almeida, coordenador dos projetos educacionais do Instituto Questão de Ciência.
Tome-se como exemplo a parceria Oxford/AstraZeneca, que no Brasil será produzida pela Fiocruz. Como ela tem no mínimo 62% de eficácia, 80% da população teria que ser vacinada. Utilizando como base a campanha de vacinação contra a gripe em 2020, serão necessários 244 dias ou pouco mais de oito meses para aplicar a primeira dose nos brasileiros.
Já a vacina da Pfizer/BionTech, que vem sendo aplicada nos Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia, entre outros, a quantidade mínima de pessoas que precisam ser vacinadas para garantir uma taxa de transmissão inferior a 1 e impedir que o vírus se espalhe, cai para 52%, o equivalente a cerca de 81 milhões de pessoas. Isso porque a eficácia da vacina é de 95%. Segundo o levantamento do Instituto Questão de Ciência, levaria 153 dias, cerca de cinco meses, para aplicar a primeira dose nessa população.
O pesquisador chegou a estes números considerando a taxa de transmissão da Covid-19, a eficácia das vacinas em questão, dados oficiais da campanha de gripe do ano passado, quando cerca de 530.000 pessoas foram vacinadas por dia e números da população brasileira que, em tese, poderia receber as vacinas.
“Vemos que as pessoas estão muito preocupadas com a eficácia das vacinas. Com o fato de uma vacina ser mais eficaz que a outra, mas não importa a eficácia e, sim, a capacidade de vacinação que a gente tem. E a capacidade de vacinação do Brasil é exemplar. Basta ver o resultado da última campanha de vacinação contra a gripe. O mais importante é termos vacinas que possamos distribuir e mais de uma opção, porque uma vacina só não vai resolver”, disse à VEJA o microbiologista Luiz Gustavo de Almeida.
Vale lembrar que ambas as vacinas precisam de duas doses para garantir proteção. Entretanto, nesta segunda-feira, 11, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que existe a possibilidade de o Brasil aplicar apenas uma dose da vacina Oxfor-Astrazeneca no maior número possível de pessoas, antes que se inicie a aplicação de uma segunda dose como estratégia para frear a pandemia em vez de conferir imunidade completa.
Nesta segunda-feira, 11, o Brasil apresentou uma média móvel de 53.980 novos casos e 1.002,7 óbitos pela Covid-19.