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Covid longa pode provocar danos aos órgãos até um ano após a infecção

Estudo aponta que 59% das pessoas que mantiveram sintomas persistentes da Covid-19 apresentaram problemas no fígado, pâncreas, coração e rins

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 fev 2023, 15h28 - Publicado em 23 fev 2023, 15h05
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  • Três em cada cinco pacientes com Covid longa – quando os sintomas são persistentes por mais de 12 semanas após o término do ciclo viral – apresentam danos aos órgãos um ano após a infecção. É o que mostra um novo estudo feito no Reino Unido, publicado no Journal of the Royal Society of Medicine, em que os pesquisadores encontraram danos nos órgãos de 59% dos indivíduos, que na fase inicial da doença, não foram gravemente afetados, mas desenvolveram os problemas após um ano de sintomas da Covid longa.

    Dados recentes do Office for National Statistics também aponta relatos de danos aos órgãos de cerca de 1,2 milhão de pessoas no Reino Unido, que convivem com a doença por 12 meses ou mais. Em março de 2020, início da pandemia, médicos e cientistas já observavam riscos de disfunção no coração e em outros órgãos em pacientes que desenvolviam doença grave e eram hospitalizados com Covid-19. “Durante 2020 e 2021, documentamos os sintomas e realizamos uma ressonância magnética de 40 minutos em 536 pessoas com Covid longa, seis meses após a infecção inicial, com foco no coração, pulmões, fígado, rins e pâncreas”, diz Amitava Banerjee, professor de Ciência de Dados Clínicos e Consultor Honorário de Cardiologia da University College London e um dos autores do estudo.

    A partir desta primeira varredura, os pesquisadores observaram que 331 participantes (62%) tiveram danos nos órgãos. O comprometimento do fígado, pâncreas, coração e rins foram os mais comuns (afetando 29%, 20%, 19% e 15% dos pacientes, respectivamente). Essas 331 pessoas foram acompanhadas durante seis meses e fizeram uma nova ressonância magnética. “Descobrimos que três em cada cinco dos participantes do estudo original (59%) apresentavam comprometimento em pelo menos um órgão um ano após a infecção, enquanto pouco mais de um em cada quatro (27%) apresentava comprometimento em dois ou mais órgãos”, conta Banerjee. “Assim, para a grande maioria dos participantes que tiveram lesão de órgão aos seis meses, ela foi sustentada até pelo menos 12 meses”.

    Embora em alguns casos os participantes com danos nos órgãos não apresentassem mais sintomas, o comprometimento foi associado a uma maior probabilidade de sintomas persistentes e função reduzida em 12 meses.

    Os pesquisadores ressaltam, porém, algumas limitações do estudo como a grande maioria dos participantes ter contraído a Covid-19 antes das vacinas estarem disponíveis. “Precisamos ver se o mesmo grau de comprometimento dos órgãos ocorre no contexto atual, em que a maioria das pessoas tomou pelo menos uma dose da vacina. Também será importante estudar pessoas que foram infectadas com variantes mais recentes do SARS-CoV-2”, enfatiza o médico.

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    Além disso, um acompanhamento mais duradouro de pessoas com COVID longa poderá elucidar quanto do comprometimento do órgão eventualmente apresenta alguma melhora. “É importante para nos ajudar a entender como o dano ao órgão nesse contexto afeta a qualidade de vida e a saúde a longo prazo”.

    Banerjee diz ainda que é preciso novas pesquisas para aprofundar essa lacuna de conhecimento. “Em nosso estudo, comparamos os participantes com um grupo de controle saudável na primeira varredura, mas não na de acompanhamento. Estudos futuros devem comparar a função dos órgãos ao longo do tempo em pacientes com Covid longa com diferentes grupos de controle, incluindo pessoas com fatores de risco como diabetes e obesidade e que foram infectadas, mas não desenvolveram a Covid longa”, explica.

    Por fim, o pesquisador relata que não foram capazes de identificar subtipos claros de sintomas associados ao comprometimento de um órgão ou órgãos específicos. “Não conseguimos vincular danos a um órgão específico a sintomas específicos”, diz ele, que acrescenta. “É necessário um esforço conjunto para definir melhor os subtipos da Covid longa por sintomas, exames de sangue ou exames de imagem. Por exemplo, a inflamação e a coagulação sanguínea anormal foram consideradas os principais mecanismos por trás da Covid longa, mas estão associadas às alterações em órgãos específicos? Se pudermos entender melhor os mecanismos subjacentes por trás da doença, isso aumentará as chances de tratamentos eficazes”.

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