A proteção coletiva, conhecida como imunidade de rebanho, é um dos assuntos mais polêmicos da pandemia do novo coronavírus. A taxa é alcançada quando o número de pessoas imunes a uma infecção chega a um nível que freia sua disseminação. Isso pode acontecer de forma natural, quando as pessoas são contaminadas ou por meio de uma vacina.
No início da pandemia, diversos governos cogitaram utilizar essa estratégia como forma de proteger a economia e acabar logo com a pandemia. Entretanto, a medida que as primeiras estimativas mostravam que seria necessário que 70% da população fosse infectada para alcançar a imunidade de rebanho contra a doença, a opção foi descartada. Exceto pelo governo da Suécia, que insistiu em não adotar medidas drásticas de distanciamento social.
Pois agora, seis meses após a eclosão dos primeiros casos da doença, surgem novas estimativas, bem mais otimistas, sobre a taxa necessária para gerar imunidade coletiva contra a Covid-19. Há trabalhos que falam em 50%, 43% e até mesmo menos de 20%. Essa última estimativa é fruto de uma análise que contou com a colaboração de pesquisadores brasileiros.
De acordo com um modelo matemático gerado pelos autores, seria possível alcançar a imunidade de rebanho para o novo coronavírus se 10% a 20% da população de uma região for infectada. Esse coeficiente pode variar de acordo com o país, mas tende a ficar dentro deste intervalo.
A imunidade do rebanho é calculada a partir do chamado número reprodutivo da epidemia, R0, um indicador de quantas pessoas cada pessoa infectada transmite o vírus. Os cálculos iniciais para o limite de imunidade do rebanho presumiram a suscetibilidade ao vírus era a mesma para toda a população. O novo modelo se difere dos demais pois considera que o risco de uma pessoa se infectar é influenciado por fatores biológicos e comportamentais e, portanto, não é homogêneo.
Com essa premissa em mente, especialistas acreditam que algumas cidades brasileiras, como Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo, já tenham atingido a imunidade de rebanho. “Em locais onde o limiar de imunidade coletiva já foi alcançado, a tendência é que o número de novos casos continue a cair mesmo se a economia for reaberta. Mas, caso as medidas de distanciamento sejam relaxadas antes de a imunidade coletiva ser alcançada, os casos provavelmente voltarão a subir e os gestores devem estar atentos”, disse Rodrigo Corder, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, em entrevista à Agência Fapesp.
Dados do maior estudo sobre a Covid-19 no Brasil, realizado pela Universidade Federal de Pelotas mostraram que 3,8% da população brasileira apresenta anticorpos para a doença. Mas, segundo os pesquisadores, as taxas variam de 0 a 20% entre as cidades analisadas, reforçando a necessidade de respostas diferenciadas para cada município no país.
Mesmo que pareça que uma comunidade alcançou a imunidade coletiva, ainda não é possível relaxar. Além de não haver consenso sobre qual é a taxa necessária para atingir essa imunidade, não se se sabe por quanto tempo alguém que se recuperou da doença está imune.
Algumas pesquisas indicam que a imunidade de uma pessoa recuperada da infecção pelo novo coronavírus dura apenas 3 meses. Mas esses dado é baseado em anticorpos. Pesquisadores do Instituto Karolinska, na Suécia, acreditam que a imunidade da população é muito superior à indicada pelos exames de anticorpos.
Seu estudo se baseia em outro marcador do sistema imunológico: as células T, um componente de longo prazo do sistema de defesa do nosso organismo. Após examinar o sistema imunológico de 200 pessoas, a equipe concluiu que 100% dos sobreviventes de uma forma grave da doença, 87% dos que se recuperaram de uma versão leve, 67% dos familiares que compartilhavam casa com doentes e 46% dos indivíduos aparentemente saudáveis que doaram sangue durante a pandemia apresentavam linfócitos T contra o novo coronavírus.
Pandemia coronavírus
Atualmente, o Brasil tem 3.582.362 casos e 114.250 mortos registrados pela doença. Neste sábado, 22, a média móvel de novas notificações da doença foi de 37.895,1 e a de novos óbitos de 1.002,6. A média móvel semanal é calculada a partir da soma do número de casos e mortes nos últimos sete dias, dividida por sete, número de dias do período contabilizado – o que permite uma melhor avaliação ao anular variações diárias no registro e envio de dados pelos órgãos públicos de saúde, problema que ocorre principalmente aos finais de semana.