Há algumas semanas, um estudo publicado no periódico The Lancet revelou uma nova dieta que, supostamente, é capaz de melhorar a saúde e garantir uma produção sustentável de alimentos de forma a reduzir os danos causados ao planeta. Chamada de ‘dieta da saúde planetária‘, a modalidade tem por princípio reduzir em mais de 50% o consumo de carne e açúcar e dobrar a ingestão de frutas, legumes e nozes.
A proposta recebeu muitas críticas, pois alguns especialistas acreditam que a dieta pode promover um veganismo forçado e estimular cortes drásticos na principal fonte de proteína da alimentação. Apesar disso, Laurel Ives, editora de saúde da rede britânica BBC, decidiu experimentá-la e avaliar os resultados.
Dieta da saúde planetária
A dieta recém lançada busca enriquecer a alimentação com vegetais e reduzir o consumo de carne para uma porção de carne vermelha, uma de frango e duas de peixe por semana. A proteína da alimentação deve ser proveniente principalmente de leguminosas e oleaginosas. Outras restrições são o consumo de açúcar, ovos (um ou dos por semana), e leite e derivados (um copo de leite, um pouco de queijo ou manteiga por dia). Na dieta são permitidos pão, massas e arroz (desde que integrais), além de frutas, legumes e verduras.
“As pessoas devem comer uma variedade de alimentos à base de plantas, reduzir a quantidade de alimentos de origem animal e de alimentos altamente processados e com açúcares adicionados, diminuir os grãos refinados e trocar as gorduras insaturadas pelas saturadas”, esclareceu Walter Willett, principal autor do relatório, à CNN.
Hábitos da família
A família de Laurel é composta por ela, duas filhas e o marido. Segundo a jornalista, eles já estava acostumados a uma dieta vegetariana por causa do marido, que oferecia um ensopado vegetariano semanal. Para ele, a novidade foi bem vinda. “Não foi muito difícil para mim”, disse à BBC.
Embora não seja adepta desse tipo de dieta, Laurel comia muitos vegetais e a carne, além de consumir muito queijo, iogurte e latte (café expresso com espuma de leite). Isso tornava seu consumo de leite e derivados muito alto em relação ao recomendado pela dieta da saúde planetária.
Já as filhas, como toda criança, preferiam comidas mais gordurosas, como macarrão com molho, salsichas com batata frita, hambúrguer e fish fingers (um tipo de nugget de peixe bastante popular no Reino Unido). Adicione-se a isso, a dieta pouco saudável aderida na escola, onde optavam por sanduíches de bacon ou pizza baguettes (fatias de baguetes no forno com cobertura de pizza).
Novas receitas
A adesão a nova dieta buscava melhorar a alimentação das filhas, especialmente nos períodos pós-escola. Para isso, Laurel apostou em lanches saudáveis, preparou pipoca com menos sal, optou por bolachas de arroz integral, snacks de alga marinha tostadas, homus, azeitonas e oleaginosas (frutas, vegetais e sementes com alto teor de lipídios).
Pratos preparados com feijão também começaram a aparecer mais durante às refeições. A pipoca fez sucesso com a filha mais nova Josie, de 11 anos. Embora ela tenha se recusado a comer os snacks de alga, as azeitonas são devoradas e algumas bolachas de arroz receberam atenção.
Outra receita que apareceu foi o chilli de cogumelos moídos (uma opção para substituir a carne moída). Ainda que o sabor parecesse bom, a família inteira comeu com relutância. As porções de carne ocasionalmente podem ser substituídas por bifes de tofu com gengibre e gergelim. “Não sou uma grande fã de tofu, mas essa receita é deliciosa e fácil de fazer”, explicou Laurel à BBC. Enquanto Josie pareceu insatisfeita com o jantar, Louisa preferiu ser mais razoável: “Parece um bacon sem sabor”. Apesar disso, as duas limpam o prato, o que parece satisfazer a mãe.
Adaptação
Embora a adaptação seja difícil, alguns hábitos parecem ter enraizado na alimentação da menina, que trocou os salgadinhos da escola por porções de frutas secas. Já no café da manhã, Louisa costuma optar pelo mingau de aveia com leite, escolha que também já faz parte do cardápio diário de Laurel.
Além disso, à medida que a família aumentou o consumo de leguminosas, houver maior redução do consumo de leite e derivados, o que foi uma mudança e tanto. “Agora tomo meu café com leite de aveia, um substituto saboroso e sustentável. Estou mantendo distância de iogurtes e queijo durante boa parte do tempo e me sinto mais leve e acesa – embora essas possam também ser consequências de minha nova dieta, com mais vegetais e menos bolos”, comentou.
Outra mudanças influenciaram nos hábitos de compras: agora, a jornalista prefere produtos produzidos em seu país, incluindo carne e peixe. O investimento em orgânicos também é maior.
A experiência
Ao final da dieta, muita coisa havia mudado na alimentação, mesmo para o marido vegetariano. “Foi interessante notar que até mesmo um vegetariano talvez precise abdicar algo de sua dieta – me refiro à regra de apenas um ovo e pouco por semana. Isso foi um pouco difícil”, comentou ele. Já Laurel, percebeu que é possível comer menos queijo e está determinada a manter receitas com mais vegetais e porções menores de carne.
Entre as filhas, Josie quis emitir a própria opinião sobre a experiência. “Interessante e repugnante. É difícil pra uma criança não poder comer coisas gordurosas, e sim comer coisas boas todos os dias. Mas gostei dos lanchinhos saudáveis, como pipoca doce e uvas passas, e as enchiladas de feijão eram boas. O espaguete integral era ok”, disse. Ainda assim, o fim da dieta permitiu que as crianças voltassem a ter mais opções saborosas, incluindo salsicha com batata frita nos lanches da escola.