Apesar de o Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, orientar a preferência por alimentos naturais e comida caseira, o consumo dos ultraprocessados tornou-se cada vez mais prevalente no país. Fazem parte do grupo salgadinhos industrializados, biscoitos recheados, pacotes de macarrão instantâneo, refrigerante, hambúrguer e outros tipos de fast-food.
Não é uma exclusividade nossa. Nos Estados Unidos, estimativas atuais apontam que aproximadamente 60% das calorias diárias sejam provenientes dessas fontes.
Esses produtos embalados, que vão desde cereais matinais, refeições congeladas e doces, dominam as prateleiras disponíveis em mercearias e supermercados, e são formulados para serem altamente palatáveis e viciantes, mas muitas vezes carecem de qualidades nutricionais.
Nos últimos anos, o abuso nesses produtos tem sido associado a prejuízos à saúde, com maior exposição a obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer. No Brasil, segundo estudo publicado no American Journal of Preventive Medicine, cerca de 57 mil mortes prematuras de pessoas entre 30 e 69 anos por ano podem ser atribuídas a esse hábito alimentar.
Não bastasse, pesquisas recentes destacam outro aspecto preocupante na ingestão exagerara de ultraprocessados: seu impacto negativo na saúde mental.
Em um estudo com mais de 10 mil adultos nos Estados Unidos, quanto mais alimentos do tipo os participantes ingeriam, maior a probabilidade de relatarem depressão leve ou sentimentos de ansiedade. “Houve um aumento significativo de dias mentalmente insalubres para aqueles que ingeriram 60% ou mais de suas calorias de ultraprocessados”, disse Eric Hecht, líder do trabalho, ao New York Times. “Isso não é prova de causalidade, mas podemos dizer que deve haver uma associação”
Outras pesquisas, inclusive conduzidas por aqui, encontraram uma conexão entre o alto consumo de ultraprocessados e o declínio cognitivo. Uma equipe de cientistas da USP acompanhou quase 11 mil adultos brasileiros ao longo de uma década e encontrou uma correlação entre uma dieta pautada por esses alimentos e a piora na capacidade de aprender, raciocinar, guardar as lembranças e resolver problemas.
O declínio cognitivo foi acelerado em 28% nas pessoas que consumiam mais de 20% de suas calorias de ultraprocessados.
É possível, contudo, que uma dieta saudável compense os efeitos prejudiciais da sobrecarga de industrializados. Os pesquisadores da USP descobriram que seguir um regime alimentar saudável, como a dieta Mind – que é rica em grãos integrais, verduras de folhas verdes, legumes, nozes, frutas vermelhas, peixe e azeite –, reduziu o risco de demência.
O mesmo pode ser dito em relação à saúde mental – apesar de a relação ainda não ser totalmente compreendida. A fibra, predominantemente encontrada em alimentos à base de plantas, favorece a microbiota intestinal, tendo efeitos indiretos no bem-estar cerebral.
Por outro lado, existem indícios de que uma dieta rica em açúcar e aditivos, comuns em alimentos processados, possa contribuir para a desregulação da flora e aumentar o risco de dificuldades cognitivas e emocionais.