Com método inédito, paciente com ‘ossos de vidro’ recebe prótese de joelho
Hospital Ortopédico AACD substituiu articulação por implante normalmente utilizado em procedimentos de revisão para evitar fraturas ósseas
O assessor de investimentos Flávio Camargo de Freitas, de 58 anos, cresceu ciente do seu diagnóstico de osteogênese imperfeita, condição genética que afeta a produção de colágeno e é responsável por tamanha fragilidade óssea que ficou conhecida como “ossos de vidro”. Ele nunca abriu mão de se manter ativo nem de lutar contra as dores e limitações causadas pela enfermidade. Há quatro meses, Freitas foi submetido a um procedimento inédito em pacientes com esse quadro para colocação de uma prótese no joelho direito no Hospital Ortopédico AACD, um método que desafiou a equipe médica, mas resultou em sucesso e será repetido no outro joelho nos próximos meses.
Os caminhos de Freitas e do ortopedista e especialista em joelho Rodrigo Zuccon se cruzaram em junho do ano passado, quando teve início uma jornada de pesquisas e planejamento, tendo em vista que, segundo ele, a literatura médica não apresentava alternativas para colocação de próteses na articulação em pacientes com esse diagnóstico.
“É uma patologia muito rara, que causa dificuldades de locomoção, deformidades e dores articulares. Não é comum em cirurgia ortopédica até porque muitos pacientes não têm expectativa de vida longa”, explica Zuccon.
A análise do caso apontava que seria necessário fazer a substituição do joelho, mas não seria possível colocar a prótese normalmente indicada para a primeira cirurgia de troca da articulação por causa da fragilidade dos ossos.
O ortopedista e sua equipe iniciaram, então, um minucioso estudo do caso e decidiram usar uma prótese de dobradiça (Hinge), normalmente indicada para substituição quando um implante colocado previamente apresenta problemas e precisa ser trocado.
A proposta foi apresentada ao assessor de investimentos. “Já tive lesões nos dois joelhos, fiz cirurgias para reconstituir os ligamentos e fui tendo luxação nos joelhos. Não conseguia subir sem estar amparado por alguma coisa, sentia dor. Com outros profissionais, escutei que era para comprar uma cadeira de rodas, que minha perna estava torta e não ia dar certo.”
Planejamento e modelo 3D
Ao longo de seis meses, Zuccon e os colegas desenharam um planejamento para a execução da cirurgia para a colocação da prótese de dobradiça que daria mais estabilidade ao joelho.
A partir de exames de imagem, a equipe desenvolveu uma maquete em 3D do joelho do paciente e simulou uma operação no modelo.
“Desde o primeiro momento, a gente ficou muito preocupado, porque o maior risco seriam as fraturas após a colocação da prótese e a emenda poderia sair pior que o soneto. Por isso, o planejamento cirúrgico.”
Como Freitas tinha três parafusos de procedimentos anteriores, ele foi submetido à retirada deles. Em dezembro, o novo joelho foi colocado. “Ninguém sabe que tenho uma prótese interna, é como se fosse o meu joelho. Minha perna estava desalinhada e, hoje, está perfeita. Ainda tirou um problema estético. Foi tanto sucesso e me senti tão animado e motivado que iniciamos o planejamento para fazer na outra perna.”
A meta do ortopedista é compartilhar a experiência com outros especialistas e pesquisadores para que o método seja uma opção para os pacientes com “ossos de vidro”.
“A gente fez o levantamento da literatura médica e, dos 18 casos descritos até hoje, nenhum foi realizado com esse tipo de implante. Estamos levantando o material sobre a cirurgia para publicar em revista científica.”