Com 18,7% de crianças vacinadas, campanha da dengue tem baixa adesão
Imunização estava focada no público de 10 e 11 anos; para aumentar cobertura vacinal, Ministério da Saúde ampliou faixa etária até os 14 anos
Quase um mês após o início da campanha de vacinação contra a dengue em crianças de 10 e 11 anos, o mutirão teve apenas 18,7% das doses disponíveis aplicadas e o Ministério da Saúde decidiu, por meio de nota técnica publicada nesta quarta-feira, 6, que a faixa etária será ampliada até os 14 anos para aumentar a cobertura vacinal. O país enfrenta um surto da doença causada pelo Aedes aegypti e já soma 1.318.336 casos e 342 mortes. Há 775 óbitos em investigação.
Segundo a pasta, 1.235.236 doses já foram distribuídas, mas só 230.796 foram aplicadas. “Antes, a orientação era vacinar crianças de 10 e 11 anos. A ampliação, portanto, busca alavancar a proteção para o público-alvo”, explicou, em nota.
O Ministério da Saúde informou que adquiriu todo estoque disponível da vacina contra a dengue, a Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda, para os anos de 2024 e 2025. “Neste ano, o Brasil receberá 5,2 milhões de doses, além de uma doação de 1,3 milhão de doses, que permitirão a vacinação de 3,2 milhões de pessoas com as duas doses que completam o esquema vacinal.”
Em outra frente, a pasta tem dialogado com o Instituto Butantan e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para a expansão da produção de imunizantes contra a doença para distribuição no país.
Vacina contra a dengue
O Distrito Federal e o estado de Goiás foram os primeiros a receber doses da vacina contra a dengue, dando início à campanha de imunização. Além dessas localidades, Acre, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins também receberão doses, que serão distribuídas para 521 municípios.
Eles foram selecionados por serem locais com mais de 100 mil habitantes que estão com predominância do sorotipo 2 da doença e estão com números altos de notificações desde o ano passado. Também são pontos que registraram índices elevados de infecção nos últimos dez anos.
Em outubro do ano passado, a OMS recomendou a vacinação contra a doença com foco principalmente em crianças e adolescentes de 6 a 16 anos em países endêmicos, caso do Brasil. Por aqui, o imunizante Qdenga foi liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) meses antes, em março.
O Ministério da Saúde seguiu a recomendação da entidade e determinou a oferta do imunizante para essa faixa etária. Com a medida, o Brasil se tornou o primeiro país a incluir a vacina no sistema público de saúde.
Surto de dengue no Brasil
O Brasil ultrapassou 1 milhão de casos de dengue apenas nos dois primeiros meses de 2024. No início de fevereiro, o ministério divulgou a estimativa de que o número de casos de dengue no país pode chegar a 4,2 milhões em 2024, índice que seria um recorde.
Até o momento, Acre, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Minas Gerais e São Paulo declararam situação de emergência por epidemia da infecção.
Em 2023, o país atingiu 1 milhão de registros da doença no período entre 30 de abril e 6 de maio. Durante todo o ano passado, foram registrados 1.658.816 casos e 1.094 mortes por dengue.
Desde 2022, a dengue voltou a crescer no país. A partir das primeiras semanas deste ano, os números da infecção causada pelo mosquito Aedes aegypti começaram a escalar de forma preocupante, fazendo com que estados e municípios brasileiros implementassem medidas como aumento de leitos e tendas para hidratação dos pacientes.
A doença tem colocado o mundo em alerta por estar se alastrando para novas e antigas regiões com a ajuda das mudanças climáticas, que criam condições propícias para a reprodução e proliferação dos mosquitos. Desde o ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o tom ao se debruçar sobre dados e constatar que, em 2022, as taxas de infecção aumentaram oito vezes em relação ao ano 2000.
Em visita ao Brasil no início do mês, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que “o surto atual faz parte de um grande aumento em escala global da dengue”. Segundo Adhanom, o levantamento da entidade apontou que, no ano passado, foram notificados 5 milhões de casos e 5.000 óbitos relacionados com a infecção em mais de oitenta países.