Cientistas da USP criam sistema que prevê a mortalidade em casos de câncer
O algoritmo informa a equipe médica sobre o risco do paciente evoluir para óbito entre 12 a 24 meses após a data de diagnóstico
Entre as maiores crueldades do câncer estão o seu silêncio e imprevisibilidade, principalmente no início da doença. Pensando nisso, pesquisadores do Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde (Labdaps) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP estudam como o uso de inteligência artificial (IA) pode ajudar na predição da mortalidade de pacientes com câncer.
O algoritmo informa a equipe médica sobre o risco de o paciente evoluir a óbito entre 12 a 24 meses após a data de diagnóstico, garantindo assim um panorama sobre a gravidade de seu estado e quais medidas preventivas específicas devem ser tomadas.
“Digamos que o paciente fez os seus exames e voltou no retorno com o médico. Ali o profissional já vai ter algumas informações, por exemplo, quanto ao estadiamento clínico”, explica o doutorando Gabriel Silva, da FSP-USP e pesquisador principal do estudo, ao Jornal da USP. Estadiar um caso de câncer implica a avaliação de seu grau de disseminação – dado-chave para identificar pacientes de alto risco.
E uma rápida indicação ajudaria no conhecimento antecipado de medidas que possam aumentar a sobrevida de diagnosticados com câncer. “Isso pode ser uma ferramenta muito útil para priorizar o tratamento de determinados pacientes, para identificar qualquer pessoa que tem o maior risco de morrer. O que eu faço com esse paciente hoje? Eu passo ele na frente da fila de tratamento ou esse paciente apresenta um baixíssimo risco de morte e eu consigo priorizar uma outra pessoa em uma situação mais grave?”, imagina Silva. A aplicação prática do uso de IA ficaria a cargo da disponibilização das informações no prontuário digital, já utilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2017.
Agora, os pesquisadores prosseguem para a fase dois do estudo, utilizando uma inteligência artificial 2.0 e adotando um estudo clínico randomizado (com pacientes distribuídos aleatoriamente entre os grupos para evitar vieses). “Nós já descobrimos que esses algoritmos tomam decisões inteligentes na área da saúde. O segundo passo é se perguntar se o profissional de saúde que tem essa informação toma melhores decisões”, afirma Alexandre Chiavegatto Filho, diretor do Labdaps e docente da faculdade. Além disso, uma possível melhora no prognóstico dos pacientes também será analisada na próxima fase.
A pesquisa, que é fruto de um financiamento garantido pela Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, contou com o banco de dados do Registro Hospitalar de Câncer (RHC), da Fundação Oncocentro de São Paulo (Fosp). Apenas pacientes diagnosticados de 2014 a 2017 no Estado de São Paulo foram incluídos no estudo, que abrange todos os cânceres com maior incidência na população brasileira, como o de mama e o de próstata. O câncer de pele não melanoma, por apresentar altos índices de cura, não foi considerado para a pesquisa. Ao todo, 29 mil pacientes tiveram seus perfis analisados por inteligência artificial, sendo que 72,7% foram diagnosticados em hospitais públicos.