Carta ao Leitor: Prova de resistência
Estudo exclusivo revela que o clima de desolação entre os brasileiros atingiu um pico, acompanhando o absurdo ritmo de evolução da Covid-19

Referência mundial em estudos sobre a resiliência, que pode ser definida como a arte de resistir a pressões para superar problemas, o escritor e neuropsiquiatra francês Boris Cyrulnik prega que os determinismos humanos são de curto prazo. “Os sofrimentos nos obrigam a metamorfosear-nos e nunca perdermos a esperança de mudar a maneira de viver”, afirma. Na pandemia, essa capacidade de resistência tem sido testada ao limite na grande maioria dos países — e, em especial, no Brasil, que ocupa a trágica e vergonhosa posição de líder internacional em mortes por Covid-19 (com menos de 3% da população global, foi responsável por 25% de óbitos na semana passada e segue batendo tristes recordes). Agora, o pesadelo da doença se materializa por aqui na forma de uma versão estendida e mais cruel, obrigando a todos nós a metamorfosear-nos. Em setembro de 2020, quando o país ensaiava uma reabertura das atividades e uma volta à vida normal após meses críticos, uma reportagem de capa de VEJA baseada em um levantamento do Instituto Locomotiva mostrava um certo realismo esperançoso do brasileiro: via-se no horizonte alguma melhora, mas poucos acreditavam em uma saída rápida da crise. De um lado, um em cada cinco entrevistados (22%) achava que a pandemia estava no final, e 41% esperavam uma virada na economia já em 2021. Do outro, 65% diziam que a crise ainda estava no meio e 49% esperavam melhora só em 2022.
Covid 19 e o momento atual
Hoje, o clima de desolação atingiu um pico, acompanhando o absurdo ritmo de evolução da doença. Um estudo exclusivo encomendado por VEJA ao Instituto Paraná Pesquisas quantificou o sentimento geral dos brasileiros em meio ao atual estágio de contaminação e mortes, tema de reportagem que começa na pág. 56 desta edição. De acordo com o levantamento, 80,4% acham que a crise está demorando mais do que esperavam e 73,4% dizem que o número de óbitos é maior do que imaginavam. Como não poderia deixar de ser, as cenas diárias de terror em hospitais abarrotados e as filas nas UTIs tiram o sono da maioria da população: quase a metade (48%) respondeu que a maior preocupação é perder um ente querido para a Covid-19 — o porcentual é muito maior do que o daqueles que temem ficar sem emprego (7,8%). É desolador constatar que, em mais de um ano assolado pelo coronavírus, o país ainda não aprendeu a definir prioridades no combate à doença e continua perdendo tempo em debates sobre a falsa dicotomia entre saúde e economia. Principal responsável por essa confusão, Jair Bolsonaro custou a se converter em um defensor das vacinas, demora que agravou o desastre sanitário e atrapalhou a retomada do crescimento econômico. Quanto à necessidade de políticas coordenadas de isolamento social, no entanto (um remédio amargo, mas vital para frear a atual escalada da doença), o presidente ainda emite sinais erráticos e politiza tal decisão. Não é hora de criar polêmicas para manipular eleitores. O Brasil, de uma vez por todas, não pode mais cometer equívocos na luta contra a Covid-19.
Publicado em VEJA de 31 de março de 2021, edição nº 2731
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