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Carta ao Leitor: O direito de ir e vir

Enquanto cresce no mundo o debate sobre 'passaportes de imunização', a possibilidade de deslocamento atrelado à vacinação parece distante no Brasil

Por Da Redação Atualizado em 4 jun 2024, 14h05 - Publicado em 16 abr 2021, 06h00
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  • A pandemia do novo coronavírus é um dos acontecimentos mais relevantes e trágicos da recente história da humanidade. Já são 3 milhões de mortes em todo o mundo, mais de 360 000 apenas no Brasil. Os danos da Covid-19, do ponto de vista das famílias, do cotidiano e do compulsório freio econômico, podem ser comparados aos períodos de guerra. Pior: ela provoca efeitos imediatos, no aqui e agora, mas afetará também o futuro. Entre as várias mudanças aceleradas pelo insidioso vírus, e que muito provavelmente se prolongarão durante um bom tempo, está a dificuldade de ir e vir, como fazíamos antes, naturalmente. Cresce, globalmente, uma ideia: a exigência de algum tipo de prova de vacinação — são aplicativos, pulseirinhas e documentos que funcionariam como um “passaporte de imunidade”. Há experiências concretas em Israel, Estados Unidos, Reino Unido e Japão, e em outros países, como mostra a reportagem da página 50. É iniciativa que, a um primeiro olhar, pode soar discriminatória, ao apartar os vacinados daqueles que não receberam nenhuma dose de imunizante. Não há, na verdade, nenhuma segregação imposta pela ciência. É apenas uma maneira de controlar o contágio, em nome de todos. Trata-se, portanto, de instrumento necessário. É um tipo de controle que já acontece com outras enfermidades, como a febre amarela (sem a apresentação da papeleta que confirme a proteção contra o mosquito não se entra em nações tão díspares do ponto de vista ideológico como Cuba e Colômbia, por exemplo).

    No Brasil, infelizmente, a possibilidade de deslocamento atrelado à imunização maciça parece distante, com uma média móvel de mortes, em relação aos sete dias anteriores, de mais de 3 000 pessoas. Não ajuda, também, o ritmo demasiadamente lento do programa de vacinação, que atingiu apenas 11,4% da população. Há, ainda, a suposta agressividade de uma cepa brasileira que saiu do Amazonas — e, não por acaso, nesta semana o governo francês proibiu o pouso de todos os voos que tenham passado pelo Brasil. Para piorar, o Congresso lida com uma CPI, imposta pelo STF, que em nada ajudará o Poder Executivo a corrigir seus erros — lamentáveis e, francamente, inaceitáveis — em relação ao combate da pandemia. Caso a CPI caminhe, haverá imenso ruído político, mas pouco efeito prático. O país precisa, para retomar a relevância internacional e a autoestima, acelerar a aplicação de doses das vacinas, qualquer vacina, associada ao distanciamento social e ao uso de máscara. Apurar responsabilidades sobre a pandemia agora só vai tumultuar um processo que, por falta de maturidade das autoridades envolvidas, já tem sido demasiadamente turbulento. Só com foco no combate ao vírus é que o Brasil conseguirá sair desta crise e retomar o crescimento econômico. É o que todos desejamos.

    Publicado em VEJA de 21 de abril de 2021, edição nº 2734

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