Quem teve de se submeter à instalação de um implante para corrigir o ritmo de batimentos do coração, caso dos marcapassos, é orientado a ter alguns cuidados com dispositivos como celulares, detectores de metal e carregadores de bateria. Isso porque eles geram campos magnéticos capazes de interferir no aparelho que modula o trabalho do músculo cardíaco, seja um marcapasso, seja um desfibrilador portátil, ambos prescritos a indivíduos com arritmias.
Mas, em tempos de popularização dos carros elétricos, será que seus sistemas de alta potência e tensão poderiam representar um perigo para pessoas que precisam utilizar esses dispositivos médicos? Um novo estudo, publicado pela Sociedade Europeia de Cardiologia, é um dos primeiros a responder a pergunta.
Recém-apresentado em um congresso científico, o trabalho indica que os sistemas elétricos e os carregadores de alta potência usados nos veículos são seguros para pacientes com marcapasso ou desfibrilador. O risco de interferência eletromagnética prejudicial, dizem os pesquisadores alemães que assinam a pesquisa, é extremamente baixo.
Marcapassos e desfibriladores são usados para tratar pacientes com distúrbios do ritmo cardíaco ou insuficiência cardíaca. Estima-se que 1 a 1,4 milhão de marcapassos serão implantados globalmente em 2023.
Dado que a expectativa média de vida com um marcapasso é de 8,5 anos, o número de pessoas com um dispositivo desses no peito gira entre 8 a 12 milhões.
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Carregadores de bateria andavam preocupando os médicos porque criam campos eletromagnéticos fortes. Enquanto os carregadores mais antigos ou domésticos são baseados em um sistema de corrente alternada, os novos, como os utilizados pela indústria automotiva, se valem de corrente contínua, o que permite maior entrega de energia.
Para testar se essa diferença seria perigosa para o coração de quem vive com um marcapasso ou desfibrilador, os alemães recrutaram 130 portadores de implantes cardíacos. Tudo que eles deviam fazer era ficar ao lado de um carro elétrico sendo recarregado.
Após 561 recargas, os pesquisadores não observaram nenhum evento adverso causado por interferência eletromagnética. Especificamente, não houve inibição da estimulação em marcapassos nem detecção inadequada de arritmias rápidas que poderiam levar à emissão de descargas por desfibriladores.
“O estudo foi concebido como o pior cenário, maximizando a chance de interferência eletromagnética. Apesar disso, não encontramos interferência clinicamente relevante, o que sugere que nenhuma restrição deve ser colocada em seu uso para pacientes com dispositivos cardíacos”, concluiu Carsten Lennerz, médico do German Heart Centre Munich e líder do trabalho.