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Câncer de reto: novo tratamento descarta cirurgia

Segundo estudo, os pacientes que não passam pela intervenção cirúrgica chegam a atingir taxa de sobrevida de 93% em 3 anos

Por Letícia Passos
Atualizado em 3 jul 2018, 19h22 - Publicado em 3 jul 2018, 11h52
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  • Novo tratamento para o câncer de reto oferece ao paciente a possibilidade de não precisar fazer cirurgia de remoção do intestino depois da quimioterapia e radioterapia concomitantes.

    Segundo estudo publicado no fim de semana na revista médica britânica The Lancet, pesquisadores internacionais, incluindo dois brasileiros, descobriram que muitos pacientes com câncer de reto que não se submetiam a cirurgia radical alcançavam taxa de sobrevida em três anos de 93%, enquanto os que eram submetidos ao procedimento atingiam taxas de 90%. Apesar da pequena diferença, os resultados mostram que operação pode não ser necessária para um número significativo de pacientes.

    Exclusão da cirurgia

    O procedimento-padrão para o tratamento da maioria dos casos de câncer de reto é a utilização simultânea da rádio e quimioterapia, seguida da cirurgia para a retirada de tumor residual no intestino ressecado, geralmente agendada antes mesmo dos resultados da regressão do câncer.

    No entanto, em observação ao longo dos anos, a médica brasileira Angelita Habr-Gama e outros pesquisadores brasileiros perceberam, ainda na década de 90, que em muitos casos a parte retirada do intestino não apresentava tumor residual e, portanto, havia a possibilidade de que alguns pacientes não precisassem ser operados, uma vez que o tratamento inicial poderia ser bem-sucedido.

    A partir daí, a equipe decidiu esperar a avaliação da resposta ao tratamento antes de fazer a cirurgia, assim os médicos poderiam determinar quais pacientes mostrariam sinais da regressão clínica completa do tumor de reto, excluindo a necessidade de intervenção cirúrgica.

    Novas descobertas

    Nos primeiros anos de publicação dos resultados, a nova proposta de tratamento recebeu muitas críticas, no entanto, conforme os resultados se mostraram promissores, mais pesquisadores passaram a reconsiderar os novos achados, buscando observar a resposta dos pacientes que não faziam a cirurgia.

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    A aceitação permitiu a descoberta de um novo esquema de químio e radioterapia que poderia garantir um número ainda maior de pacientes que responderiam bem ao tratamento inicial. O aumento da dosagem das medicações contra o câncer proposta pelos pesquisadores visava a melhorar os índices de resposta completa ao tratamento, evitando, assim, a cirurgia.

    Segundo Rodrigo Oliva Perez, coordenador do grupo de cirurgia colorretal oncológica do Centro de Oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, hospital que oferece o tratamento, antes do aumento das doses, 20% a 25% dos pacientes apresentavam resultados positivos. Agora esse número chega a quase 50%. Os resultados das observações foram publicados em 2013 na revista Diseases of the Colon & Rectum (DCR), da Sociedade Americana de Cirurgia Colorretal (ASCRS, na sigla em inglês).

    Benefícios e riscos

    A exclusão da cirurgia, que apresenta risco de complicações, é um dos principais benefícios dessa nova proposta de tratamento do câncer de reto. Não passar pela intervenção cirúrgica também evita a necessidade da colostomia definitiva – uso de bolsa artificial colocada na barriga pela qual o intestino passa a funcionar -, ou passar pela reconstrução intestinal, que pode comprometer a função evacuatória. Além disso, é possível poupar os pacientes de sequelas funcionais, como impotência sexual e disfunções urinárias.

    Para os pacientes nos quais o tumor não desaparece por completo (cerca de 24% dos casos), a realização da cirurgia é obrigatória. “Dados dos estudos publicados mostram que o fato de o paciente ter sido operado depois, quando já há evidência de que o tumor voltou a crescer, não parece trazer prejuízos. O risco é o mesmo daqueles que são operados de imediato”, esclareceu Perez.

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    Como essa alternativa terapêutica exige conhecimento técnico e equipamentos adequados, nem todas as instituições brasileiras estão preparadas para oferecer o novo tratamento.

    Mortalidade e sobrevida

    Outro dado mostra que a taxa de sobrevida em três anos dos pacientes que não fazem a cirurgia é de 93%; já os que fazem a operação imediatamente é de 90%, confirmando que adiar a operação até a existência de informações concretas da volta do tumor não põe em risco a sobrevivência dos pacientes.

    Entretanto, Perez explica que o novo tratamento ainda não é capaz de interferir na taxa de mortalidade da doença, embora consiga melhorar a qualidade de vida. Essa é a realidade de muitas outras alternativas terapêuticas que têm sido descobertas nos últimos anos para o tratamento dos diversos tipos de câncer.

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