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Canabidiol na pele

A substância da maconha, já usada no tratamento de doenças graves, como epilepsia, agora compõe produtos de beleza e bem-estar, como xampus e maquiagens

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h08 - Publicado em 14 dez 2018, 07h00

Em 1963, o bioquímico israelense Raphael Mechoulam isolou a estrutura química do canabidiol, um dos componentes da maconha. Uma década depois, descobriu-se a primeira ação farmacológica do composto — o combate aos ataques epiléticos. Há, agora, uma onda de aplicação da substância no campo da beleza e do bem-­estar. No mais recente encontro anual da Academia Americana de Dermatologia, realizado em San Diego, nos Estados Unidos, o canabidiol foi apontado como a mais forte tendência em cuidados da pele. A variedade de mercadorias disponíveis nas prateleiras americanas é grande. Inclui cremes hidratantes, antienvelhecimento e antiacne, xampu, maquiagem e biscoitos para animais domésticos — pois o canabidiol não dá “barato”. A empresa de pesquisa Bright­field Group estima que o valor desse mercado, em torno de 170 milhões de dólares, chegue a mais de 1 bilhão de dólares até 2021.

Nos EUA, o país mais aberto em relação ao uso medicinal da essência, o canabidiol é liberado em 21 estados. No Brasil, abriu-se uma fresta em 2014, quando o Conselho Federal de Medicina autorizou os médicos a receitar a substância a crianças e adolescentes portadores de epilepsia refratária, que causa convulsões e não responde a tratamentos convencionais. Os produtos de beleza não estão incluídos nessa liberação brasileira e não há, até agora, nenhum pedido registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Ao que tudo indica, é uma questão de tempo para que o Brasil siga o exemplo americano.

A quantidade de canabidiol usada para essa finalidade é pelo menos cinco vezes inferior à das medicações que tratam de crises epiléticas. Além disso, em relação aos remédios, a absorção pelo organismo é menor pelo fato de ele ser misturado a outros componentes dos cosméticos. Os produtos cumprem o que prometem? Aparentemente, sim. “Temos receptores de canabidiol no corpo inteiro, e os benefícios da substância independem da dose”, diz a neuro-onco­logista Paula Dall’Stella, especialista no assunto. Um estudo publicado recentemente pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos comprovou que doses mínimas de canabidiol conseguem regular a produção de óleo e de glândulas sebáceas no organismo — uma propriedade antiacne, portanto. Ele também é antioxidante, o que ajuda no combate ao envelhecimento da pele, e analgésico, levando ao relaxamento.

Apesar de ser conhecido há pelo menos cinquenta anos no meio científico, o canabidiol tem uma trajetória polêmica na medicina. O motivo é evidente: sua origem, a Cannabis sativa, a planta da maconha. O canabidiol é encontrado sobretudo no caule e nas flores. Ele não é psicoativo nem tóxico. Não altera o raciocínio, não provoca lapsos de memória nem perda cognitiva. Tampouco causa dependência, como faz o THC, outro composto da planta. No entanto, é bastante comum, até entre médicos, a confusão sobre a ação das duas substâncias.

Publicado em VEJA de 19 de dezembro de 2018, edição nº 2613

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