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Brumadinho: Fiocruz encontra metais pesados em amostras de 100% das crianças avaliadas

Análise feita em 2023 também revela aumento de doenças crônicas, respiratórias e psiquiátricas na população

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 jan 2025, 17h36 - Publicado em 27 jan 2025, 12h47

Um estudo apresentado nesta sexta-feira, 23, pela Fiocruz revela que 100% das amostras de urina coletadas das crianças de Brumadinho tinham a presença de pelo menos um entre cinco metais pesados (cádmio, arsênio, mercúrio, chumbo e manganês). Os dados são de 2023, quatro anos após o rompimento da barragem, e também revelam um aumento na prevalência de doenças crônicas, respiratórias e psiquiátricas na população atingida pelo acidente. 

O principal metal encontrado acima dos valores de referência nas coletas infantis é o arsênio, cujo percentual de detecção passou de 42% em 2021, quando a instituição deu início ao Programa de Ações Integradas em Saúde, para 57% em 2023. O mesmo elemento também foi encontrado acima dos níveis seguros em 20% dos adultos e em 9% dos adolescentes. 

O dados preocupa. “A exposição contínua, especialmente metais pesados como o arsênio, pode causar sérios problemas de saúde”, diz Sabrina Goecks, gestora da clínica médica no Complexo Hospitalar de Niterói, da Dasa. “Crianças são mais suscetíveis aos efeitos nocivos da exposição a metais pesados devido à maior taxa de exposição e absorção, o que pode levar a problemas como distúrbios neuro cognitivos e comportamentais, problemas respiratórios e aumento do risco de câncer e doenças cardiovasculares.”

Os autores do estudo explicam, contudo, que a mera presença do metal não é suficiente para o diagnóstico e que avaliações clínicas são necessárias para buscar sintomas de intoxicação, como dor abdominal, vermelhidão e fraqueza. O problema, agora, é que a população continua exposta a esses elementos. “É preciso que haja um estudo sobre as fontes de exposição, não somente da água, como já é feito, mas também no solo, no ar e em outras possíveis fontes”, diz Sérgio Peixoto, pesquisador da Fiocruz Minas, em comunicado. 

Apesar disso, a saúde geral das crianças não parece ter sofrido piora. Por meio da aplicação do teste de Denver II, os pesquisadores perceberam uma redução no número de crianças com risco de atraso de desenvolvimento, passando de 42,5% em 2021 para 28,3% em 2023. Além disso, o numero de crianças obesas ou com sobrepeso passou de 11% para 4,6% e de 12,5% para 4,6%, movimento que os especialistas atribuem ao fim da pandemia. 

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Como ficou a saúde da população de Brumadinho?

A pesquisa ainda investia a presença de doenças na população. Embora a maioria avalie a própria saúde como boa ou muito boa, entre 2021 e 2023, houve um aumento nos diagnósticos de hipertensão (de 27,9% para 30%), colesterol alto (20,9% para 28,5%), problemas crônicos de coluna (de 19,7% para 22,8%) e diabetes de (8,7% para 10,7%). Entre os dois anos, também houve aumento dos sintomas de irritação nasal, dormências e câimbras e tosse seca nos 30 dias anteriores à pesquisa. 

Já entre os adolescentes, alguns dados preocuparam. De 2021 para 2023, os diagnósticos de asma aumentaram de 12,7% para 14%; de colesterol alto aumentaram de 4,7% para 10.1%; de enfisema, bronquite crônica e doença pulmonar obstrutiva crônica aumentaram de 2,7% para 10,7%. “Asma e doenças crônicas do pulmão foram reportadas duas a três vezes mais na população de Brumadinho em relação a toda a população brasileira”, diz Peixoto. 

Isso refletiu na utilização dos serviços de saúde. Entre os adultos, a realização de três ou mais consultas no ano passou de 28,6% em 2021 para 53,7% em 2023. Os profissionais da Atenção Primária à Saúde foram a principal referência para cerca de 65% dos usuários. “A elevada utilização dos serviços de saúde e a menção ao serviço público como sendo a principal referência para atendimento demonstram a grande demanda para o SUS no município, mas também o grande potencial desse sistema para a realização de intervenções efetivas que visem minimizar os impactos na saúde da população”, afirma Peixoto.

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O que o levantamento revela sobre a saúde mental em Brumadinho?

Em relação às condições psiquiátricas, o levantamento da Fiocruz mostrou poucas diferenças entre 2023 e 2021, mas os números ainda são maiores entre os moradores de Brumadinho do que no resto da população. Os diagnósticos de depressão, por exemplo, aumentaram de 9,9% para 10,6% entre os adolescentes e de 21,3% para 22,3% entre os adultos.  Já os diagnósticos de ansiedade e problemas do sono se mantiveram na casa dos 32,7%. 

Apesar da pouca diferença nos diagnósticos, a análise com as escalas Patient Health Questionnaire-9-PHQ-9 e General Anxiety Disorder -GAD7 mostram que, entre os adultos, 38,4% tiveram episodio depressivo maior e 30,8% apresentaram transtorno de ansiedade em 2023. Já entre os adolescentes, esses números foram de 31,4% e 23,3% respectivamente. Todos os números foram consideravelmente superiores aos relatados em 2021. 

Embora ainda seja cedo para dizer, é possível que isso seja consequência da exposição. “Estudos mostram que a exposição a metais pesados como chumbo pode aumentar sintomas depressivos e ideação suicida, especialmente em asmáticos”, diz Goecks. “Além disso, metais como cádmio, mercúrio, chumbo e cromo podem ter efeitos prejudiciais na saúde mental, incluindo transtornos psicóticos, como a esquizofrenia.”

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Para Peixoto, há a necessidade de maior mobilização. Segundo ele, “esses números mostram a necessidade de avaliar as ações voltadas à saúde mental no município, dada a manutenção de elevada carga de transtornos mentais na população, nos dois anos avaliados. Faz-se necessário priorizar estratégias intersetoriais, considerando a complexidade do problema e as especificidades de cada território.”

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