Bebês nascidos de mães que tiveram Covid-19 durante a gravidez podem apresentar diferenças nos resultados do neurodesenvolvimento, de acordo com uma análise preliminar apresentada no 30º Congresso Europeu de Psiquiatria, em abril.
Os pesquisadores descobriram que bebês nascidos de mães que foram infectadas apresentam maiores dificuldades em relaxar e adaptar seus corpos quando estão no colo, se comparados a bebês de mães não infectadas, especialmente no final da gravidez. Além disso, tendem a apresentar maior dificuldade em controlar os movimentos da cabeça e dos ombros. Essas alterações sugerem um possível efeito da doença na função motora (controle do movimento).
“Nem todos os bebês nascidos de mães infectadas apresentam diferenças de desenvolvimento neurológico, mas nossos dados mostram que seu risco é maior em comparação aqueles não expostos ao vírus no útero”, disse Rosa Ayesa Arriola, líder do projeto espanhol COGESTCOV-19, que acompanhou o curso da gravidez e o desenvolvimento do bebê em mães infectadas com Covid-19. “Precisamos de um estudo maior para confirmar a extensão exata da diferença”.
Os pesquisadores apresentaram os dados sobre a gestação e a avaliação pós-natal seis semanas após o nascimento, mas o projeto continuará observando se há efeitos a longo prazo. O grupo também acompanhará a linguagem e o desenvolvimento motor de bebês entre 18 e 42 meses.
A avaliação inicial comparou recém-nascidos de 21 gestantes positivas para a Covid-19 e seus bebês, com um grupo de controle com 21 grávidas saudáveis atendidas no Hospital Universitário Marqués de Valdecilla, em Santander, na Espanha. As mães foram submetidas a uma série de exames durante e após a gravidez, incluindo testes hormonais e bioquímicos como níveis de cortisol, resposta imunológica, etc., testes salivares, respostas de movimento e questionários psicológicos. Todas as análises foram ajustadas para idade, sexo e outros fatores.
Os testes pós-natais incluíram a Escala de Avaliação Comportamental Neonatal (NBAS), que mede o movimento e o comportamento do bebê. “Descobrimos que certos elementos da medição NBAS foram alterados em bebês de seis semanas que foram expostos ao vírus SARS-COV-2. Efetivamente, eles reagem de maneira um pouco diferente ao serem abraçados”, disse Águeda Castro Quintas, pesquisadora do Centro de Investigação Biomédica em Saúde Mental da Universidade de Barcelona. “Temos sido especialmente sensíveis na forma como conduzimos esses testes. Cada mãe e bebê foram examinados de perto por médicos com treinamento especializado na área e nos testes”.
Vale ressaltar que estes são resultados preliminares, mas isso faz parte de um projeto que segue uma amostra maior de 100 mães e seus bebês, também monitorados durante a gravidez e após o nascimento. “Este é um projeto em andamento, estamos em um estágio inicial. Descobrimos que bebês cujas mães foram expostas ao SARS-CoV-2 apresentaram efeitos neurológicos após seis semanas, mas não sabemos se esses efeitos resultarão em problemas de longo prazo”, afirmou a co-pesquisadora Nerea San Martín González, acrescentando.
“É claro que, em bebês tão jovens, há várias coisas que simplesmente não podemos medir, como habilidades de linguagem ou cognição. Também precisamos estar cientes de que esta é uma amostra comparativamente pequena, por isso estamos repetindo o trabalho e vamos acompanhá-lo por um período mais longo. Precisamos de uma amostra maior para determinar o papel da infecção nas alterações do neurodesenvolvimento da prole e a contribuição de outros fatores ambientais. Entretanto, precisamos enfatizar a importância do acompanhamento médico para facilitar uma gravidez saudável, discutindo quaisquer preocupações com seu médico sempre que necessário”
A autora do estudo, Rosa Ayesa Arriola, concorda: “Este é o momento certo para estabelecer colaborações internacionais que nos permitam avaliar o neurodesenvolvimento de longo prazo em crianças nascidas durante a pandemia da Covid-19. A pesquisa neste campo é vital para entender e prevenir possíveis problemas neurológicos e vulnerabilidades de saúde mental nessas crianças nos próximos anos”.
Abaixo, os números da vacinação no Brasil: