Começar o dia com uma bebida quente faz parte da rotina de muitas pessoas – para algumas delas, a bebida de preferência é o chá. No entanto, cientistas descobriram que, dependendo da temperatura em que o chá é ingerido, pode haver um risco elevado de câncer de esôfago. O novo estudo, publicado nesta quarta-feira, 20, no periódico Cancer Epidemiology, concluiu que mais de três xícaras de chá verde ou preto, o equivalente e 700 ml, ingeridas em temperaturas acima de 60ºC aumentam a probabilidade de câncer em 90%, se comparado a indivíduos que esperam o chá esfriar um pouco.
O risco da doença não está associado ao chá em si, mas ao calor e, portanto, qualquer bebida ingerida em alta temperatura pode aumentar o risco da neoplasia. “Na verdade, é provavelmente algo quente: a geleia de microondas é conhecida por causar lesões no esôfago. É possível que o trauma [causado pelo calor] leve a alterações celulares e, consequentemente, ao câncer”, explicou Stephen Evans, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, no Reino Unido, ao Science Media Center.
O estudo
Os pesquisadores da Universidade de Ciências Médicas de Teerã, no Irã, chegaram a esta conclusão depois de acompanhar 50.045 pessoas, com idade entre 40 e 75 anos, por cerca de 13 anos. Os participantes foram acompanhados anualmente através de pesquisas por telefone e visita da equipe. Ao longo desse período, 328 pacientes foram diagnosticados com câncer de esôfago.
A análise mostrou que o consumo de chá muito quente, várias vezes ao dia, pode elevar o risco de câncer. Estudos anteriores já haviam apontado para resultados similares, mas este foi o primeiro trabalho a determinar a temperatura de risco (acima de 60ºC). “De acordo com o nosso relatório, beber chá muito quente pode aumentar o risco de câncer de esôfago; portanto, é aconselhável esperar até que as bebidas esfriem antes de bebê-las”, aconselhou Farhad Islami, principal autor do estudo, à CNN.
Para a CNN, Peter Goggi, da Associação Americana de Chá, revelou que bebidas acima de 65ºC são comumente consumidas em países da América do Sul, incluindo o Brasil, além de países do Oriente Médio, como Turquia e Irã, assim como na China e na Rússia.
Apesar dos resultados, os pesquisadores salientaram que mais pesquisas serão necessárias para determinar quais elementos associados ao chá são responsáveis por aumentar o risco de câncer de esôfago.
Câncer de esôfago
O câncer de esôfago atinge geralmente indivíduos entre 60 e 70 anos, sendo mais comum na população masculina, com o risco de 10 para cada 550 pessoas. No entanto, segundo os pesquisadores, para aqueles que ingerem bebidas muito quentes, esse risco sobe para 19 em cada 550. Esse número é preocupante uma vez que o câncer de esôfago é o oitavo tipo de câncer mais comum no mundo, sendo responsável por 400.000 mortes por ano, segundo a Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer (IARC, na sigla em inglês).
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Brasil, esse é o sexto câncer mais frequente entre os homens e o 15º entre as mulheres. A versão mais comum dessa neoplasia é o carcinoma epidermoide escamoso, responsável por 96% dos casos. Apesar disso, o adenocarcinoma, um a outra modalidade desse câncer, vem aumentando significativamente.
Esse câncer é geralmente causado quando o esôfago – tubo pelo qual comidas e bebidas chegam até o estômago – sofre ferimentos repetidos ao longo do tempo. As principais causas desses ferimentos são tabagismo, alcoolismo, obesidade, refluxo e esofagite; e, ao que parece, bebidas quentes. Os sintomas mais comuns da doença incluem dificuldades para engolir, indigestão ou azia persistentes, refluxo, perda de apetite e de peso.
“Desde que você deixe seu chá esfriar um pouco antes de beber, ou adicione leite frio, é improvável que você esteja aumentando o risco de câncer. Evitar fumar, manter um peso saudável e reduzir o consumo de álcool também podem diminuir os riscos”, concluiu Georgina Hill, da Cancer Research UK, ao Daily Mail.
Temperatura recomendada
A recomendação feita pela maioria das organizações de saúde ao redor do mundo, como Organização Mundial da Saúde (OMS) e Royal Society of Chemistry, no Reino Unido, é de que a temperatura de ingestão de bebidas não ultrapasse os 65ºC. Por causa dessa recomendação, em 2016, a Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer (IARC, na sigla em inglês) classificou qualquer bebida acima de 65ºC como possível carcinógeno.
No entanto, o novo estudo aponta que uma bebida aquecida a mais de 60ºC já aumenta o risco da doença.