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Aumento do calor pode elevar as taxas de suicídio, afirma estudo

Se as previsões sobre a elevação na temperatura até 2050 se mantiverem, EUA e México podem registrar 21.000 casos a mais desse tipo de morte

Por Da Redação
Atualizado em 24 jul 2018, 18h19 - Publicado em 24 jul 2018, 16h35
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  • O aquecimento global pode ter uma consequência que nunca havia sido prevista: o aumento do índice de suicídios. De acordo com um estudo publicado na segunda-feira na revista Nature Climate Change, a elevação de 2,5 graus na temperatura global até 2050, conforme previsto, pode corresponder a um aumento de 1,85% nas taxas de suicídio nos Estados Unidos e no México, resultando em 21.770 mortes. 

    “Quando falamos de mudança climática, tendemos, frequentemente, a pensar em conceitos abstratos. Mas os milhares de suicídios extras que provavelmente ocorrerão como resultado de uma mudança climática não atenuada não são apenas números, mas representam perdas trágicas para as famílias”, explicou Marshall Burke, professor assistente de ciência do sistema terrestre na Universidade Stanford e principal autor do estudo, em comunicado.

    No entanto, os pesquisadores ressaltam que esses dados não devem ser vistos como agentes diretos, mas como fatores que elevam a taxa de risco.

    Calor e suicídio

    Para chegar a essa associação, pesquisadores da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, cruzaram dados das taxas de suicídio em condados americanos e municípios mexicanos ao longo de algumas décadas (nos EUA, de 1968 a 2004; no México, de 1990 a 2010) com a média de temperatura nessas regiões.

    Os resultados mostraram que, para cada 1 grau de aumento na temperatura, houve uma elevação de 0,7% na taxa de suicídios nos EUA e de 2,1% no México, o que corresponde a uma média de 1,4% e um impacto semelhante ao de recessões econômicas. Isso significa que, ao longo dos anos, haveria mais mortes por suicídio em um determinado local durante meses mais quentes do que a média (isso vale tanto para as estações quentes, como primavera e verão, quanto frias, como outono e inverno).

    Portanto, um aumento de 2,5 graus até 2050, conforme a previsão climática, pode corresponder a uma elevação de 1,85% na taxa de suicídio nesses países, resultando em mais de 21.000 mortes. Os resultados permaneceram mesmo após outros fatores sazonais que poderiam influenciar os dados terem sido considerados.

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    As hipóteses para explicar de que forma o aumento na temperatura média eleva a taxa de suicídio incluem explicações biológicas sobre como a regulação da temperatura no cérebro alteraria a saúde mental. Os pesquisadores analisaram de forma mais profunda essa conexão entre calor e suicídio por meio da análise de mais de 600 milhões de publicações no Twitter em um período de catorze meses.

    Ao procurar por linguagem e expressões que remetem a um humor deprimido e consequentemente, maior risco de suicídio, como “deprimido”, “solitário” ou “suicida”, os pesquisadores concluíram que o aumento de 1 grau na temperatura média mensal correspondeu à maior probabilidade (entre 0,36% e 0,79%) de publicações com linguagem depressiva.

    “Claramente, temperaturas mais quentes não são o único fator de risco, nem o mais importante, para o suicídio. Mas nossas descobertas sugerem que o aquecimento [global] pode ter um grande impacto no risco, e isso é importante tanto para nossa compreensão da saúde mental quanto para o que devemos esperar à medida que as temperaturas aumentem”, explicou Burke.

    Apesar das evidências, nem todos concordam com a associação. “Eu acho que é uma ideia interessante e excitante. [Mas] essas duas coisas podem estar ocorrendo simultaneamente. É possível que a taxa de suicídio esteja subindo ao mesmo tempo que a temperatura também está. Mas nós não sabemos se há algo causal nisso”, disse Jill Harkavy-Friedman, vice-presidente de pesquisa na Fundação Americana para Prevenção do Suicídio, em entrevista à Scientific American.

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    Aumento de suicídio

    Essa constatação é particularmente delicada quando dados mostram um aumento na taxa de suicídio, principalmente entre pessoas jovens. Nos últimos cinco anos, a incidência entre jovens de 12 a 25 anos teve um salto de quase 40%. Nas outras faixas etárias, o índice caiu. No Brasil, o suicídio é a quarta maior causa de morte entre homens e mulheres de 15 a 29 anos.

    Globalmente, cerca de 800.000 pessoas cometem suicídio todos os anos, sendo que 78% dos casos ocorrem em países de baixa e média renda, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

    Ondas de calor

    Atualmente, Estados Unidos, Reino Unido, Europa, China, México e Japão enfrentam terríveis ondas de calor. Segundo a Organização Mundial de Meteorologia (OMM), esse fenômeno tende a se tornar cada vez mais frequente e prolongado em todo o mundo, e não somente no Hemisfério Norte. O que significa que. se os pesquisadores de Stanford estiverem certos,  Estados Unidos e México não serão os únicos a apresentar maiores taxas de suicídio no futuro.

    Além dessa preocupação, as ondas de calor podem provocar mortes por insolação e desidratação, como tem acontecido no JapãoDados do governo japonês mostram que pelo menos 44 pessoas morreram desde 9 de julho por causa do aumento nas temperaturas. Nesta segunda-feira, por exemplo, os termômetros em Tóquio marcaram 40 graus; a cidade de Kumagaya, a noroeste da capital, atingiram à marca recorde de 41,1 graus.

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    Em comunicado, Joel N. Myers, analista da empresa de meteorologia AccuWeather, pediu atenção para os grupos de risco. “Os idosos e aqueles com condições preexistentes, como asma e insuficiência cardíaca, provavelmente enfrentarão um declínio na saúde devido ao clima”, disse. Já a Agência Meteorológica do Japão aconselhou toda a população a tomar medidas adequadas para evitar os problemas causados pelo calor, como beber muita água, não ficar exposto à luz direta do sol e usar ar-condicionado.

    (Com EFE)

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