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“A vacinação contra Covid-19 deverá ser anual”, diz Dimas Covas

Diretor do Instituto Butantan fala sobre o futuro da imunização contra Covid-19 no país, da produção e dos efeitos da CoronaVac

Por Mariana Rosário Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 ago 2021, 09h30 - Publicado em 8 mar 2021, 11h34
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  • O esperado Programa Nacional de Imunização foi iniciado no dia 17 de janeiro de maneira tímida, contando apenas com doses da vacina CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac Life Science em parceria com o Instituto Butantan, centro de referência brasileiro responsável pela implantação do antígeno no Brasil. Passado pouco mais do primeiro mês de imunização, mais de 80% dos imunizantes distribuídos por aqui também saíram dos portões do centro de referência paulista, fundamental para o combate do vírus a essa altura da pandemia.

    Em entrevista a VEJA, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, fala sobre o andamento da vacinação no país, a possibilidade de atualização das vacinas num futuro próximo e como a instituição tem trabalhado para remediar a falta de imunizantes no Programa Nacional de Imunização. “Tudo indica que a duração da imunidade será inferior a um ano, e, portanto, a vacinação periódica será necessária”.

    Como o Butantan tem se organizado para suprir a falta de vacinas no país?
    Estamos trabalhando no máximo da nossa capacidade de produção nesse momento e, inclusive,  reprogramando a produção de outras vacinas para dar prioridade para a CoronaVac. Tudo isso para poder acelerar o quantitativo de doses. Já fizemos um primeiro esforço e, com isso, nos planejamos para entregar 22 milhões de doses no final de março, quando a previsão inicial era de pouco menos de 18 milhões. A previsão inicial de entrega foi feita dentro de um contexto que haveria outras vacinas dentro da programação do Ministério da Saúde, mas essa previsão não se confirmou. A nossa vacina é a única, atualmente, usada em grande volume no país.

    O Ministério da Saúde diz que em abril a quantidade de vacinas entregue mensalmente deve aumentar, o senhor acredita nessa projeção?

    É o que nós esperamos, que essas previsões todas de abril sejam concretizadas. Há uma espera porque as doses não estão no Brasil, então estamos ainda trabalhando em cima da previsão. A essa altura, o Butantan terá entrado na segunda etapa de fornecimento, mas essa matéria-prima ainda não está aqui. Então, dependemos do fluxo desse material para que tudo corra dentro do previsto.

    O senhor acredita que as atuais vacinas funcionarão contra variantes?
    O Brasil enfrenta uma segunda onda, explosiva, ainda maior que a primeira onda e mais grave por conta da presença de variantes. Ainda não há nenhum fato conclusivo dizendo que as vacinas não são eficazes, também não existe conclusão cientificamente relevante que aponte, com poder estatístico, que a ação da CoronaVac fica comprometida diante dessa variante P1, de Manaus. É preciso um número maior de vacinados para fazer esse tipo de análise. 

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    Seria crível pensar em vacinações anuais para conter a Covid-19?

    Esse é o cenário mais provável. Há um foco muito grande na questão do uso da vacina, mas pouco se fala do rumo da pandemia. Com o ritmo atual — em que a concentração de uso dos imunizantes está nos países ricos e as nações com renda média e pobres ainda não têm aplicação em massa —, é provável que teremos o vírus circulando pelo mundo ainda no ano que vem com intensidade. Observando essa evolução da pandemia já sabemos que aparecerão outras variantes e, na minha opinião, o vírus será endêmico. Com tudo isso em mente, nos resta saber qual o tempo de duração da imunização conferida pela vacina. Tudo indica que essa duração será reduzida, inferior a um ano, e, portanto, a vacinação periódica será necessária.

    Estamos, então, perdendo uma janela de oportunidade para o uso das vacinas?

    Essas vacinas de primeira geração são um combate inicial ao vírus. Mesmo porque a gente não conhece todas as variáveis envolvidas nesse processo. Vamos saber mais com o passar do tempo. Este será um ano de intensa luta contra o vírus, em que teremos obviamente elevado número de mortes e casos globalmente. Em grande parte do mundo, a pandemia está em franca ascensão.

    Mas não adianta o Brasil se proteger sozinho?
    A vacinação trará conforto regional, mas como eu disse, não há vacina para todos no planeta. E não há vacinas ainda para crianças e adolescentes e outros públicos, precisamos de mais estudos. Porém, é importante lembrar, que as vacinas têm impacto no número de internações e mortes, que no fundo é o que realmente importa. Será parecido com o que acontece com a gripe, a vacina impedirá que a infecção seja grave e a mortalidade, mas a infecção seguirá existindo.

    É provável que tenhamos uma CoronaVac atualizada?
    De acordo com o que temos visto nessa pandemia, vejo esse cenário acontecer, sim.

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