Governos e autoridades médicas de todo o planeta vêm repetindo uma espécie de mantra para justificar as normas de isolamento social em meio à pandemia de coronavírus: “achatar a curva”. O termo se refere ao esforço para reduzir o ritmo de transmissão do vírus e assim permitir que o número de casos que necessitem de hospitalizações não supere a quantidade de leitos hospitalares disponíveis. Graças ao sacrifício geral, todos poderiam ser atendidos adequadamente, diminuindo o risco de morte. A realidade, no entanto, se mostra mais complexa do que as previsões de cálculos matemáticos em gráficos coloridos. Segundo a agência de notícias americana Bloomberg, “as curvas não estão achatando como deveriam”.
ASSINE VEJA
Clique e AssineA reportagem afirma que as previsões estão “equivocadas de uma maneira crucial, pois as mortes não vão parar tão rápido quanto o previsto” e compara gráficos típicos das chamadas “curvas ruins”, em que há uma explosão de casos muito acima da capacidade do sistema de saúde, e das curvas boas, achatadas, em que os casos são mantidos estáveis até caírem de forma abrupta quanto cresceram. Confira, abaixo, uma explicação didática dada pelo prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (DEM), sobre o assunto, ainda no início do surto:
A matemática americana Cathy O’Neal, autora do artigo da Bloomberg, explica que os dados oficiais não acompanham as previsões. “Se essas curvas estivessem corretas, forneceriam uma fórmula útil para descobrir quanto tempo durará o sofrimento. Digamos que um país estivesse no auge e levou seis semanas para chegar lá. Então, uma outra curva simétrica indicaria que faltam apenas mais seis semanas para erradicar a doença.”
A reportagem cita o que ocorreu com Itália e Espanha, países europeus mais afetados pela pandemia. Ambos tiveram surtos descontrolados e recorreram a bloqueios de forma tardia, levando a hospitais sobrecarregados. Portanto, eles oferecem uma boa indicação do que esperar em países que responderam da mesma forma. As curvas, no entanto, não são nada simétricas.
“Elas sobem rápido, achatam e depois descem lentamente. Quão devagar? Ainda é difícil dizer, mas a forma sugere que as más notícias não desaparecerão tão rapidamente quanto chegaram”, afirma Cathy. Tratando especificamente sobre os Estados Unidos, país com maior número de mortes (mais de 30.000) decorrentes da Covid-19, a autora relata que o país ainda não atingiu seu pico e as evidências disponíveis indicam que a descida da curva será bastante lenta. “O pico deve ser seguido de uma longa espera”.
A reportagem deixa claro que as normas de isolamento social propostas pela maioria das nações “serve apenas para diminuir a propagação, não para detê-la”. “Se as pessoas mantiverem medidas para conter o vírus, as taxas de mortalidade acabarão chegando a zero, mas somente depois que um número muito maior de pessoas tiver sido infectado, supondo que elas estejam imunes. Se tivermos sorte, desaceleraremos o suficiente para nunca sobrecarregar verdadeiramente os hospitais e, se tivermos muita sorte, desaceleraremos o tempo suficiente para se beneficiar de uma vacina ou tratamento”, completa a especialista.