Um spray nasal capaz de ajudar na prevenção da Covid-19 teve seu uso aprovado em Israel e na Nova Zelândia. Não se trata do medicamento, ainda em fase de testes, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro. O novo produto, fabricado pela empresa canadense SaNOtize, é feito à base de óxido nítrico e funciona criando uma barreira física nas passagens nasais para impedir a entrada do vírus.
Israel se tornará o primeiro país a comercializar o spray, segundo informações do jornal local The Times of Israel. O Ministério da Saúde israelense aprovou provisoriamente o produto em pessoas a partir de 12 anos. O fabricante afirma na embalagem: “Testado cientificamente para matar 99,9% de vírus em 2 minutos”. A declaração é baseada em testes realizados em laboratórios, durante os quais uma série de vírus vivos, incluindo influenza e SARS-CoV-2, foram submetidos ao spray.
Na Nova Zelândia, a fabricante afirmou que “registrou seu spray nasal com a Autoridade de Segurança de Medicamentos e Dispositivos Médicos da Nova Zelândia, que permite à empresa distribuir e vender o [spray nasal de óxido nítrico] Nons [na sigla em inglês] sem receita imediatamente”.
Recentemente, a SaNOtize publicou os resultados de um estudo clínico realizado no Reino Unido, indicando que o spray poderia prevenir a transmissão do novo coronavírus, encurtar o curso da Covid-19 e reduzir a gravidade dos sintomas. No teste, 79 pacientes com Covid-19 receberam o spray ou um placebo. Naqueles submetidos ao tratamento, houve redução de 95% na carga viral após 24 horas e 99%, após 72 horas.
O spray ainda acelerou a eliminação do vírus em 16 vezes, em comparação com o placebo. Também não foram registrados eventos adversos. No entanto, esse estudo ainda precisa ser revisado por pares e publicado em uma revista científica. De acordo com a SaNOtize, ele já foi submetido a uma importante publicação para revisão.
“ [O spray nasal de óxido nítrico] Nons [na sigla em inglês] destrói o vírus, bloqueia a entrada [na célula] e interrompe a replicação viral dentro da cavidade nasal, o que reduz rapidamente a carga viral. Isso é significativo porque a carga viral foi associada à infecciosidade e a desfechos ruins [entre os infectados]“, disse Chris Miller, diretor científico e co-fundador da SaNOtize, em comunicado.
Spray de Israel
O produto defendido pelo presidente Jair Bolsonaro se chama EXO-CD24 e está em desenvolvimento pelo Centro Médico Ichilov, em Tel-Aviv (Israel).
O medicamento foi originalmente desenvolvido para tratar câncer no ovário. Mas, seu uso no combate à Covid-19 tornou-se promissor após um estudo preliminar realizado por pesquisadores do hospital Tel-Aviv Sourasky Medical Center concluírem que o fármaco inalável curou 29 de 30 pacientes com Covid-19 moderada a grave em apenas alguns dias. No entanto, para garantir sua eficácia ainda é preciso conduzir um teste clínico com um número maior de pacientes e controlado por grupo placebo.
LEIA TAMBÉM: “Medicamentos estão sendo usados irracionalmente”, alerta farmacêutico
Estudos em andamento
Encontrar tratamentos eficazes e de fácil administração é tão importante quanto as vacinas para combater a pandemia. Por isso, equipes de cientistas em todo o mundo estão trabalhando no desenvolvimento de sprays que agem como vacinas, que atuam na prevenção da transmissão da doença e como tratamento da Covid-19. Além dos exemplos acima, pesquisadores da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, criaram um antiviral nasal capaz de bloquear a transmissão do SARS-CoV-2 em furões. Cientistas da Universidade Lancaster, no Reino Unido, desenvolveram um spray que visa não apenas prevenir a infecção, mas também impedir a propagação do vírus.
A empresa australiana de biotecnologia Ena Respiratory também está trabalhando em um spray nasal que visa ajudar a prevenir a Covid-19 ao ativar os mecanismos de defesa imunológica no trato respiratório.
Proteção nasal
No Brasil, dois sprays para a saúde nasal foram recentemente liberados pela Anvisa. O Filtrair, da farmacêutica italiana Zambon está disponível em duas versões: uma que protege contra alérgenos e outra contra vírus e bactérias. Ambas são baseadas em uma mistura de celulose e hortelã em pó que cria uma espécie de camada protetora.
De acordo com a empresa, testes em laboratório apontam resultados positivos da utilização do produto na prevenção de vírus, bactérias e alérgenos em geral. A Zambon ressaltou que o Filtrair não mata o vírus, ele evita sua propagação, pois o invasor fica preso à barreira criada no nariz. “Ele é eliminado na secreção nasal ou morre se entrar em contato com os ácidos do próprio estômago, nos casos de ingestão. Podemos dizer que o Filtrair é uma proteção a mais”, afirmou a empresa em comunicado à VEJA.
Há também o Vick Primeira Proteção, da P&G Health. O spray age por meio de um mucoadesivo em microgel, que protege contra vírus responsáveis pelo resfriado comum. “Em estudos clínicos nos quais pacientes foram expostos ao vírus do resfriado, o microgel com tecnologia mucoadesiva demonstrou reduzir significativamente a gravidade dos sintomas no dia de pico (dia 3), chegando a 60% em comparação com o grupo placebo”, explicou Patrícia Canineu, gerente médica da P&G Health, em comunicado.
Vale ressaltar que os sprays citados acima são considerados “produtos para a saúde” pela Anvisa e não medicamentos, onde mais estudos são necessários para o registro.
Confira os números da vacinação no país: