O senhor está em uma briga contra o projeto de Silvio Santos de construir prédios no entorno do Teatro Oficina. Por quê? Sofremos um atentado do SS, que me lembra não só a SS nazista, mas dois cifrões. Como resposta, estamos com um movimento para vetar a construção das torres. É uma luta coletiva desde a década de 80, quando Silvio queria comprar o teatro. Na época, houve um movimento, e Silvio Santos desistiu.
O senhor teve um encontro recente com ele e o prefeito João Doria. Como foi? Ele não ouviu nada do que eu disse. Entrou numa paranoia de que o terreno vai ser tomado pelos craqueiros. Falei: “Pô, Silvio, eu estou com 80 anos. Você é mais velho do que eu. Vamos deixar coisas maravilhosas para a cidade. São Paulo é tão infeliz, cara!”.
Silvio Santos mudou? Sou palhaço como ele. Silvio Santos é uma vedete, me inspirou. Mas não é o mesmo homem. Ficou mesquinho. Não deu o menor valor à história do teatro. Foi agressivo, raivoso. “Deixa de ser artista”, disse. Como vou deixar de ser artista?
O senhor fala abertamente de seu consumo de drogas. É a favor da liberação? Eu usava de tudo até ter um infarto, em 1993. Então deixei de lado todos os alucinógenos que eu amo. E a cocaína também. Eu gosto de mescalina orgânica, de peiote. Hoje, só vinho e maconha. Fumo há cinquenta anos, sou a prova de que a maconha pode ser liberada. A maconha poderia ser liberada, e a cocaína, vendida nas farmácias com tarja preta.
O senhor sempre disse que detesta novelas, mas participou de Cordel Encantado, em 2011. Mudou de ideia depois da experiência? Não, novela é um horror. Uma coisa muito rígida. Primeiro, tem de acordar cedo, coisa de que não gosto. Depois, fui muito tolhido pela direção. E é tudo muito careta. Eles dividem tudo entre o bem e o mal.
O que leva atores do teatro a migrar para a TV? O dinheiro, claro.
Publicado em VEJA de 8 de novembro de 2017, edição nº 2555