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Vítima errada

Coluna publicada em VEJA de 30 de maio de 2018, edição nº 2584

Por J.R. Guzzo Atualizado em 25 Maio 2018, 06h00 - Publicado em 25 Maio 2018, 06h00

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O advogado Roberto de Figueiredo Caldas, até outro dia juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos, é um homem perigoso. Fique longe dele. Caldas faz parte daquele grupo de brasileiros que se colocam acima da lei por ser profissionais no negócio de “fazer o bem”, tão rendoso hoje neste país — e se um dia desses ele resolver agredir você, seja lá pelo motivo que for, prepare-­se para reclamar com o bispo, pois vai ser mais fácil o camelo da Bíblia passar pelo buraco de uma agulha do que o homem receber alguma punição penal séria. O ex-­presidente Lula pode estar na cadeia por corrupção, junto com os seus mais poderosos ajudantes, mas pessoas como um Caldas não costumam receber nem uma multa de 10 reais. São heróis dos “direitos humanos”. Combatem o “trabalho escravo”. São convidados para dar palestras denunciando a violência contra as mulheres. Trabalham em favor dos “direitos sociais” e nadam entre os peixes mais graúdos das OABs e grupos similares. Quando se metem em algum problema, chamam um advogado de Brasília que se vangloria de ter “influência” nos tribunais mais supremos da nação e “relações” entre os jornalistas “importantes” da capital federal. Quem vai encarar uma peça de artilharia desse tamanho? É melhor que não seja você.

Os jornalistas Marcela Mattos e Gabriel Castro revelaram, numa reportagem publicada em edição recente de VEJA, um Roberto Caldas desconhecido no mundo em que circulam as grandes figuras do “campo progressista” — mas muito conhecido pela própria mulher, Michella Marys Pereira, da qual está separado há três meses. Infelizmente para ela, esse Caldas oculto era um homem que durante os treze anos de casamento agiu como um criminoso dentro da própria casa. De acordo com a queixa que Michella acaba de prestar na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher de Brasília, seu ex-marido a agrediu diversas vezes com pontapés na virilha, murros no rosto, socos no estômago, tapas na cabeça, humilhações de todos os tipos e outros atos de violência; chegou a puxá-­la pelos cabelos escada abaixo, na sua casa num bairro tido como exclusivo na capital, e a ameaçou com uma faca de cozinha. Michella tem, a favor de suas acusações, áudios que gravou e o testemunho de pessoas que presenciaram algumas das agressões. Mas aí é que está: provas, em casos assim, não costumam valer grande coisa. Michella tem contra si, justamente, a força do sistema que protege seu ex-marido e gente do calibre  dele — e é isso, quase sempre, que acaba vingando.

É verdade que Caldas teve de se “licenciar” do cargo de juiz na corte internacional; pouco depois, foi desligado definitivamente dali, pois nesse tribunal seu caríssimo advogado brasiliense não manda nada. Foi desligado também do escritório de advocacia em que trabalhava. Está sujeito, enfim, a ser indiciado em inquérito e a responder a uma ação penal pelos crimes de que é acusado por sua ex-mulher. Mas querem saber? Se o caso acabar como têm acabado há décadas todos os casos desse tipo, cadeia mesmo, que é bom, não vai ter. Caldas vai resolver sua história a preço de custo, com um pouco de dor de cabeça e um apelo da Justiça para que não faça mais isso, doutor, por gentileza; afinal, dirão os colossos do nosso direito, a pior solução seria ceder à visão estreita e autoritária que recomenda punir o “infrator”. As penitenciárias, como se sabe, estão cheias de pobres coitados que não pagaram em dia a pensão familiar — mas espancar a própria mulher durante anos a fio, como Caldas é acusado de ter feito, é considerado um pequeno deslize, algo como estacionar em lugar proibido ou bancar uma mesa de pife-pafe. Não se vai agora punir um homem importante só por causa de uma coisinha dessas, não é mesmo? É por isso, exatamente, que pessoas do tipo de Caldas são perigosas. Não têm de pagar pelo que fazem. Podem fazer de novo.

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Michella Marys, neste momento, está sozinha. Nenhuma organização feminista, até agora, deu um pio em seu apoio. Para ela, nada de militantes feministas vestidas de preto e segurando cartazinhos de “denúncia”. Nada de abaixo-assinado de artista de novela. Nada de discurso no plenário da Câmara. Michella é a vítima errada. Seu ex-marido é o acusado certo: foi nomeado para a Corte Interamericana por Dilma Rousseff, circula em campanhas eleitorais do PT e não se pode “deslegitimar”, através dele, a luta global pelos “direitos humanos”. De mais a mais: “a quem interessa” acusar o dr. Caldas? Eis aí mais uma missão para o nosso jornalismo investigativo.

Publicado em VEJA de 30 de maio de 2018, edição nº 2584

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