O poder corrosivo das fake news, a expressão da moda para designar as notícias falsas que circulam no mundo digital, apareceu com toda a sua carranca nas eleições americanas de 2016. Elas chegaram a ser controladas nos pleitos da França e da Alemanha, mas são um desafio para a eleição brasileira de outubro. Estamos atrasados para combatê-las? Para o pesquisador Pablo Ortellado, da USP, referência sobre o tema no país, essa cronologia é enganosa. Ele cita estudos segundo os quais robôs, falsos perfis e demais elementos da fábrica de mentiras surgiram primeiro aqui, no pleito de 2014, e só depois é que se repetiram em votações no exterior. “O Brasil mais provavelmente está na vanguarda da questão”, diz. Essa e outras reflexões instigantes passaram pelos microfones do evento Amarelas ao Vivo, promovido por VEJA na terça-feira 24, em São Paulo. Trata-se de uma versão de palco das entrevistas das Páginas Amarelas da revista. Nessa edição, o encontro mostrou como a viralização de boatos é uma praga em áreas diversas — e um mal absoluto em qualquer lugar em que apareça.
O infectologista David Uip contou que, após a difusão pela web de fake news a respeito da vacina contra a febre amarela, milhares de pessoas deixaram de tomá-la. O publicitário Nizan Guanaes alertou para o fato de que, no campo dos negócios, mais cedo ou mais tarde toda empresa terá a reputação ameaçada por uma mentira viral.
(Abaixo, a abertura do evento, com o diretor de redação André Petry)
É na política que o estrago das fake news parece mais evidente. Dois estrategistas estrangeiros — o equatoriano Jaime Durán Barba, que trabalhou com o presidente argentino Mauricio Macri, e Guillaume Liegey, que atuou na campanha do presidente francês Emmanuel Macron — relataram como enfrentaram o tema. “É preciso ouvir o eleitor, bater de porta em porta”, diz Liegey, apontando sua estratégia para driblar as fake news entre os franceses.
+ Carta ao leitor: O Brasil se vê em VEJA
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luiz Fux, declarou que, caso fique claro o prejuízo a uma candidatura devido a fake news, o sufrágio poderá, em último caso, ser até anulado. O evento se completou com a presença do jornalista Ricardo Boechat (que não vê diferença entre as fake news e os velhos boatos de antigamente), do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes (um dos maiores alvos de fake news nas redes sociais), da consultora digital Bia Granja e do engenheiro Acioli de Olivo, que falou do suicídio do seu irmão, Luiz Carlos, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, em meio a acusações levianas.
As entrevistas:
Luiz Fux, ministro do STF e presidente do TSE:
Gilmar Mendes, ministro do STF:
Jaime Durán Barba, estrategista político na campanha de Mauricio Macri:
Guillaume Liegey, estrategista político na campanha de Emmanuel Macron:
https://www.youtube.com/watch?v=qk1Sow7sbYo
Ricardo Boechat, jornalista:
https://www.youtube.com/watch?v=q4lEl3nzAjg
Bia Granja, cofundadora do YOUPIX:
https://www.youtube.com/watch?v=dP_o_rE2Ehg
Nizan Guanaes, publicitário:
https://www.youtube.com/watch?v=FegkKH01WMw
Pablo Ortellado, pesquisador da USP:
https://www.youtube.com/watch?v=RxIPFhaNqWM
David Uip, infectologista:
https://www.youtube.com/watch?v=TABMQrVOkTI
Acioli de Olivo, irmão do reitor da UFSC, que se matou em meio a acusações levianas:
https://www.youtube.com/watch?v=R9qG3dEckS4
Publicado em VEJA de 2 de maio de 2018, edição nº 2580