Todos os anos, a Federação Internacional de Futebol (Fifa) divulga um balanço mundial das transações entre clubes. A cada nova edição, há uma tônica invariável: o Brasil aparece no topo do ranking dos maiores exportadores de “pé de obra” para times estrangeiros — apenas em 2017, deixaram o país 821 atletas. Com a abertura da janela de transferência do meio do ano — ela se fecha em 31 de agosto —, o êxodo de craques brasileiros tem desfalcado os principais clubes: logo depois da Copa da Rússia, foram embora jovens talentos como o volante Arthur, de 21 anos, campeão da Libertadores pelo Grêmio, agora no Barcelona; o zagueiro Éder Militão, de 20 anos, do São Paulo, levado pelo Porto; e o atacante Vinícius Júnior, joia descoberta pelo Flamengo e que se integrou ao elenco estrelado do Real Madrid, da Espanha, pela cifra recorde de 165 milhões de reais. Sua venda foi concretizada no ano passado, mas ele só deixou o rubro-negro ao atingir a maioridade legal, os 18 anos.
E como tapar os buracos? A solução dos nossos clubes foi importar jogadores dos vizinhos sul-americanos. Nos vinte times da primeira divisão do Campeonato Brasileiro, atuam hoje 64 atletas de outras nacionalidades, com predominância de argentinos, colombianos, uruguaios e paraguaios. Um dos destaques é o atacante paraguaio Ángel Romero, do Corinthians, que chegou ao alvinegro em 2014. Nesse ano, ocorreu uma mudança fundamental nas normas: o número máximo de estrangeiros que podem atuar por uma equipe brasileira aumentou de três para cinco. Desde então, houve um crescimento de 14% no volume de contratações internacionais. “Um jogador no Uruguai recebe o mesmo que um garoto nas categorias de base do Brasil”, afirma o ex-jogador uruguaio Diego Lugano, atualmente dirigente do São Paulo. O executivo Rui Costa, um dos idealizadores dos novos limites, diz não se tratar apenas de dinheiro: “Esses atletas enxergam o Brasil como vitrine”. Em outras palavras, como um atalho para a Europa.
Publicado em VEJA de 15 de agosto de 2018, edição nº 2595