Por onde ele passou, provocou alvoroço na população, despertou sentimentos apocalípticos, destruiu até as estruturas mais sólidas e modificou a paisagem, deixando-a por vezes irreconhecível. Essa descrição serve ao saldo deixado pelo furacão Irma, que, depois de uma passagem devastadora por ilhas caribenhas, aportou na Flórida, nos Estados Unidos, com uma força que não se via fazia doze anos, deixando 24 mortos e 65% das casas do estado sem eletricidade. Da mesma forma poderia ser descrito o furacão político, policial e institucional que varreu o Brasil nos últimos dias, que igualmente provocou certo alvoroço, despertou alguns sentimentos apocalípticos e abalou estruturas sólidas. Assim como parte das águas da Baía de Tampa foi arrastada pelos ventos do Irma, expondo o leito do mar (ao lado, moradores registram o fenômeno em selfies), o olho do Grande Escândalo de Corrupção Extratropical — que é como o ciclone político provocado pela Lava-Jato e seus desdobramentos poderiam ser chamados — parece arrastar para a lama toda reputação política e parte do poder econômico. Mas os brasileiros, talvez por cansaço ou exaustão, mostraram-se mais interessados no furacão Irma do que no Grande Escândalo de Corrupção Extratropical. No domingo 10, quando a tempestade castigou a Flórida, a expressão “furacão Irma” venceu “Joesley Batista”, que foi preso no mesmo dia (veja a reportagem na pág. 50), na proporção de três para um nas buscas do Google. É desolador perceber que, quando não houver mais esperanças no Brasil, talvez nem Miami esteja a salvo de furacões.
Publicado em VEJA de 20 de setembro de 2017, edição nº 2548