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O telhado alheio

A prisão do enroladíssimo Paulo Preto, apontado como operador de propinas do PSDB, é um bom lembrete de que a sujeirada não é exclusiva de um só partido

Por Roberta V. Bordoni
Atualizado em 4 jun 2024, 17h50 - Publicado em 7 abr 2018, 06h12

Na mesma tarde da quinta-feira 5 em que o juiz Sergio Moro determinou a prisão de Lula, o presidenciável tucano Geraldo Alckmin foi às redes sociais, já em campanha, para espezinhar: “É lamentável ver a decretação da prisão de um ex-presidente, mas tenho a convicção de que isso simboliza uma importante mudança que vem ocorrendo no Brasil — o fim da impunidade”. Na manhã de sexta-feira houve, de fato, uma boa demonstração de que a impunidade pode mesmo estar minguando no Brasil.

Um personagem central nas suspeitas de corrupção do governo do PSDB no Estado de São Paulo — lá se vão 23 anos, e contando — foi preso pela Polícia Federal. Seu nome: Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, ex-diretor da Dersa, a empresa de desenvolvimento rodoviário. Ele foi detido sob a acusação de ameaçar uma funcionária pública, de nome não divulgado, no processo que investiga irregularidades em desapropriações para a construção do trecho sul do Rodoanel, na Grande São Paulo. De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal, o grupo teria desviado 7,7 milhões de reais dos cofres estaduais entre 2009 e 2011. A quadrilha inseriu no sistema da empresa cerca de 1 800 pessoas que não teriam direito aos benefícios que receberam — o que incluía auxílios, indenizações e apartamentos da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de São Paulo (CDHU). Estavam na lista seis empregadas de Paulo Preto: três babás, duas domésticas e uma funcionária alocada na empresa de um genro.

O telhado alheio
Ligação incômoda: José Serra era governador quando Paulo Preto assumiu uma das diretorias da Dersa. (Cristiano Mariz/VEJA)

Convém ressaltar que a prisão de Paulo Preto não aconteceu no bojo da Lava-Jato. Nas investigações deflagradas por Moro, as acusações contra ele pululam. Sete delatores contaram ao Ministério Público que usaram contratos com a Dersa para abastecer com dinheiro sujo as campanhas dos tucanos José Serra e Aloysio Nunes e de Gilberto Kassab, hoje no PSD. Paulo Preto, que foi diretor da estatal entre 2005 e 2010, comandaria o esquema com os requintes rocambolescos da mutreta à brasileira: apelidava a propina de “abadá” e escondia as notas na parede falsa de um apartamento em São Paulo.

Recentemente, procuradores encontraram quatro contas no banco suí­ço Bordier & Cie em nome de uma offshore da qual ele é beneficiário, a Groupe Nantes. Elas foram criadas em 2007, ano em que Paulo Preto foi nomeado para a diretoria de engenharia da Dersa, na gestão do então governador José Serra. No extrato de junho de 2016, essas contas estavam recheadas com o equivalente a 113 milhões de reais.

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Os rolos do suposto operador mantêm a tradicional ostentação vulgar nas crônicas de corrupção do país. Em 2010, ele foi preso no Shopping Iguatemi, um dos mais luxuosos de São Paulo, ao apresentar numa loja da Gucci um bracelete roubado, pedindo que fosse avaliado.

O tombo de Paulo Preto assusta a tucanagem, que faz de conta que não o conhece nem de vista. Ele representa um evidente estorvo. Foi indicado por Aloysio Nunes como assessor especial da Presidência da República no governo de Fernando Henrique Cardoso. Fez carreira na Dersa quando Geraldo Alckmin, Alberto Goldman e José Serra ocuparam o Palácio dos Bandeirantes. Ter Paulo Preto na cadeia é um lembrete amargo e sonoro de que a corrupção, o mal que sugou o PT de Lula, não é exclusiva de um só partido. Chame-se a propina de abadá, de pixuleco, de qualquer coisa. A lama é sempre igual — e não pode ser encoberta pela impunidade que Alckmin vê desaparecer no horizonte.

Publicado em VEJA de 11 de abril de 2018, edição nº 2577

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