Imagem da Semana: O senhor da paz
Presidente francês Emmanuel Macron reuniu Fayez al Sarraj e Khalifa Haftar, que estão de lados opostos no complexo cenário político da Líbia
Em 2011, no auge da chamada Primavera Árabe, quando os caças da Otan começaram a bombardear as tropas do ditador Muamar Kadafi, os moradores de Bengasi, uma das cidades rebeladas do nordeste da Líbia, saíram às ruas com cartazes de agradecimento ao então presidente francês: “Merci, Nicolas Sarkozy!”. O governo da França havia sido um dos mais empenhados em aprovar a intervenção aérea que acabaria por ajudar a derrubar Kadafi, encerrando a guerra civil — e dando início a outra, que dura até hoje. As consequências vão muito além das fronteiras líbias. O país transformou-se no principal entreposto do tráfico humano para a Europa: a grande maioria dos 90 000 refugiados e imigrantes que chegaram à Itália por mar neste ano embarcou na Líbia. Como presidente empossado há apenas dois meses e sedento por realizações para combater uma popularidade em queda, é natural que o francês Emmanuel Macron tenha visto no conflito líbio uma oportunidade para demonstrar suas habilidades diplomáticas. Na terça-feira 25, ele reuniu em Paris Fayez al Sarraj (à esq. na foto), primeiro-ministro do governo reconhecido pela ONU, e o general Khalifa Haftar (à dir.), um legítimo senhor da guerra que comanda dois terços do território líbio. O encontro resultou em um compromisso de cessar-fogo e de realização de eleições nacionais no primeiro semestre do próximo ano. Haftar prometeu só recorrer às armas para combater o terrorismo, pois o Estado Islâmico e outros bandos radicais têm uma forte presença na Líbia. O problema: os grupos de Al Sarraj e de Haftar não são as únicas partes envolvidas no conflito — e todas se acusam de ser terroristas.
Publicado em VEJA de 2 de agosto de 2017, edição nº 2541