O filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980) considerava que, quando confrontados com a alteridade, os indivíduos têm as próprias virtudes e fraquezas expostas — e obviamente nem sempre gostam do que veem. Daí sua célebre frase: “O inferno são os outros”. A União Europeia teve seu momento sartriano na terça-feira 5 ao elaborar uma lista de países cujo sistema financeiro e regras tributárias permitem a empresas e pessoas ocultar sua riqueza, fazer lavagem de dinheiro ou simplesmente evitar os impostos devidos em sua nação de origem. A lista negra da UE foi feita por pressão principalmente da Alemanha e da França e contém dezessete países ou territórios, entre os quais Panamá, Coreia do Sul e Guam, ilha americana no Oceano Pacífico. Foi divulgada também uma lista “cinza” de 47 nações que estão em observação por terem prometido adequar-se à exigência de transparência da UE. A relação inclui Hong Kong, Bermudas, Ilhas Cayman, Suíça e Turquia. Os países europeus poderão adotar, individualmente, as sanções que acharem adequadas contra os integrantes da lista negra. Houve protesto em Bruxelas porque, providencialmente, ficaram de fora do inventário países-membros da própria UE que, apesar de não terem praias de areias brancas adornadas por coqueiros, deveriam ser considerados legítimos paraísos fiscais: Luxemburgo, Irlanda, Holanda e Malta. A União Europeia quer fazer crer que o paraíso dos outros é mais verdinho… de dólares e euros escusos.
Publicado em VEJA de 13 de dezembro de 2017, edição nº 2560