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O mito da liberdade

Governos e corporações logo estarão conhecendo você melhor do que você se conhece. A crença no “livre-arbítrio” tornou-se realmente perigosa

Por Yuval Noah Harari*
Atualizado em 28 dez 2018, 07h00 - Publicado em 28 dez 2018, 07h00

Devem os intelectuais servir à verdade, mesmo ao custo da harmonia social? Você deve desmascarar uma ficção, mesmo que essa ficção esteja mantendo a ordem social? Ao escrever meu mais recente livro, 21 Lições para o Século 21, tive de lutar com esse dilema em relação ao liberalismo, aqui mencionado como ordem social.

Por um lado, creio que a narrativa liberal é falha, que ela não fala a verdade sobre a humanidade, e que para podermos sobreviver e florescer no século XXI precisamos ir além dela. Por outro lado, atualmente a narrativa liberal ainda é fundamental para o funcionamento da ordem global. Mais ainda, o liberalismo está sendo agora atacado por fanáticos religiosos e nacionalistas que acreditam em fantasias nostálgicas que são muito mais perigosas e nocivas.

Sendo assim, será que devo expressar abertamente o que penso, correndo o risco de que minhas palavras possam ser interpretadas fora do contexto e usadas por demagogos e autocratas para continuar atacando a ordem liberal? Ou devo me autocensurar? É característico de regimes não liberais tornar a livre expressão mais difícil, até mesmo fora de suas fronteiras. Devido à expansão desses regimes, está ficando cada vez mais perigoso pensar criticamente sobre o futuro de nossa espécie.

Costumo optar por uma discussão livre em detrimento da autocensura, graças à minha crença tanto na força da democracia liberal quanto na necessidade de remodelá-la. A grande vantagem do liberalismo sobre outras ideologias é que ele é flexível e não dogmático. Suporta críticas melhor do que qualquer outra ordem social. Na verdade, é a única ordem social que permite que se questionem até mesmo seus fundamentos. O liberalismo já sobreviveu a três grandes crises — a I Guerra Mundial, o desafio fascista na década de 30 e o desafio comunista entre os anos 1950 e 1970. Se você acha que o liberalismo enfrenta dificuldades agora, lembre-se apenas de como as coisas eram piores em 1918, em 1938 ou em 1968.

Em 1968, as democracias liberais pareciam ser uma espécie em perigo, e mesmo dentro das próprias fronteiras eram sacudidas por tumultos, assassinatos, ataques terroristas e ferozes batalhas ideológicas. Se você por acaso esteve envolvido nos tumultos em Washington no dia seguinte ao do assassinato de Martin Luther King, ou em Paris em maio de 1968, ou na convenção do Partido Democrata em Chicago em agosto de 1968, pode muito bem ter pensado que o fim estava próximo. Enquanto Washington, Paris e Chicago estavam à beira do caos, Moscou e Leningrado estavam tranquilas, e o sistema soviético parecia destinado a durar para sempre. Vinte anos depois, porém, foi o sistema soviético que entrou em colapso. Os conflitos da década de 60 fortaleceram a democracia liberal, enquanto o ambiente sufocante no bloco soviético pressagiava sua extinção.

Por isso, temos a esperança de que o liberalismo seja capaz de se reinventar mais uma vez. Mas o principal desafio que ele enfrenta atualmente não vem do fascismo nem do comunismo, nem mesmo dos demagogos e autocratas que se espalham por toda parte como sapos depois da chuva. Desta vez o principal desafio surge dos laboratórios.

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O liberalismo se baseia na crença na liberdade humana. Diferentemente de ratos e macacos, supõe-se que seres humanos tenham “livre-arbítrio”. É isso que faz com que sentimentos e escolhas humanas constituam a moral definitiva e a autoridade política no mundo. O liberalismo nos diz que o eleitor sabe o que é melhor, que o cliente tem sempre razão e que devemos pensar por nós mesmos e seguir nosso coração.

Infelizmente, o “livre-arbítrio” não é uma realidade científica. É um mito herdado da teologia cristã. Os teólogos desenvolveram a ideia do “livre-arbítrio” para explicar por que Deus tem razão ao punir os pecadores por suas escolhas ruins e recompensar os santos por suas escolhas boas. Se nossas escolhas não forem feitas livremente, por que deveria Deus nos punir ou recompensar por elas? Segundo os teólogos, é razoável que Deus faça isso, porque nossas escolhas refletem o “livre-arbítrio” de nossas almas eternas, que independem de quaisquer restrições físicas ou biológicas.

Esse mito pouco tem a ver com o que a ciência nos ensina agora sobre o Homo sapiens e os outros animais. Os humanos certamente têm um arbítrio — mas ele não é livre. Você não tem a prerrogativa de decidir que desejos terá. Não decide se vai ser introvertido ou extrovertido, descontraído ou ansioso, gay ou hétero. Os humanos fazem escolhas — mas elas nunca são escolhas independentes. Cada escolha depende de um monte de condições biológicas, sociais e pessoais que você não é capaz de determinar por si mesmo. Sou capaz de decidir o que comer, com quem me casar e em quem votar, mas essas escolhas são determinadas em parte por meus genes, minha bioquímica, meu gênero, meu contexto familiar, minha cultura nacional etc. — e eu não escolhi quais genes ou qual família ter.

Essa não é uma teoria abstrata. Você pode testemunhar isso facilmente. Apenas observe o próximo pensamento que surgir em sua mente. De onde ele veio? Você escolheu livremente pensar nisso? É óbvio que não. Se você observar cuidadosamente sua mente, vai se dar conta de que tem pouco controle sobre o que está acontecendo lá e de que não está escolhendo livremente o que pensar, o que sentir e o que querer.

Embora o “livre-arbítrio” tenha sido sempre um mito, foi um mito útil em séculos passados. Ele encorajou pessoas que tiveram de lutar contra a Inquisição, contra o direito divino dos reis, contra a KGB e a KKK. O mito também custava pouco. Em 1776 ou 1945 houve relativamente poucos danos em acreditar que seus sentimentos e suas escolhas eram produto de algum “livre-­arbítrio”, e não resultado da bioquímica e da neurologia.

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Mas agora a crença no “livre-arbítrio” de repente ficou perigosa. Se governos e corporações tiverem êxito em hackear o animal humano, as pessoas mais fáceis de ser manipuladas serão aquelas que acreditam em “livre-arbítrio”.

Para ter sucesso no hackeamento de humanos, são necessárias duas coisas: um bom conhecimento de biologia e muito poder computacional. A Inquisição e a KGB não tinham esse conhecimento nem esse poder. Mas, brevemente, corporações e governos poderão ter os dois, e, uma vez tendo hackeado você, eles não apenas poderão prever suas escolhas, mas também reestruturar seus sentimentos. Para fazerem isso, corporações e governos não precisam conhecer você perfeitamente. Isso é impossível. Eles só têm de conhecer você um pouco melhor do que você se conhece. E isso não é impossível, porque a maioria das pessoas não se conhece muito bem.

Se você acredita na narrativa liberal tradicional, ficará tentado a simplesmente descartar essa ameaça. “Não, isso nunca acontecerá. Ninguém jamais conseguirá hackear o espírito humano, porque existe ali algo que está muito além de genes, neurônios e algoritmos. Ninguém será capaz de ter sucesso em prever e manipular minhas escolhas, porque minhas escolhas refletem meu livre-arbítrio.” Infelizmente, descartar a ameaça não a fará desaparecer. Só vai deixar você mais vulnerável a ela.

O processo começa com coisas simples. Quando você está surfando na internet, um cabeçalho atrai seu olhar: “Gangue de imigrantes estupra mulher local”. Você clica no link. Exatamente no mesmo momento sua vizinha também surfa na internet, e um cabeçalho diferente atrai seu olhar: “Trump prepara um ataque nuclear ao Irã”. Ela clica nesse link. Os dois cabeçalhos são histórias de fake news, geradas talvez por trolls russos ou por um site interessado em aumentar o tráfego de cliques para incrementar a receita advinda de anúncios. Você e sua vizinha acham que clicaram nesses cabeçalhos movidos pelo “livre-arbítrio”. Mas na verdade vocês devem ter sido hackeados.

Propaganda e manipulação não são novidade, é claro. Mas, enquanto no passado elas funcionavam como um bombardeio de saturação indiscriminado, agora estão se tornando munição guiada com precisão. Quando Hitler fazia um discurso no rádio, ele visava ao mínimo denominador comum, porque não podia formatar sua mensagem para fraquezas singulares dos cérebros individuais. Agora, tornou-se possível fazer exatamente isso. Um algoritmo pode informar que você já tem um viés contra imigrantes e que sua vizinha já não gosta de Trump, razão pela qual você vê um cabeçalho e sua vizinha vê outro totalmente diferente. Em anos recentes, algumas das pessoas mais inteligentes do mundo têm trabalhado no hackeamento do cérebro humano para fazer você clicar em anúncios e lhe vender coisas. Agora esses métodos estão sendo usados para lhe vender políticos e ideologias também.

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E isso é só o começo. Atualmente, os hackers se baseiam na análise de sinais e ações no mundo exterior: os produtos que você compra, os lugares que visita, as palavras que busca on-line. Porém, dentro de poucos anos, sensores biométricos serão capazes de dar aos hackers acesso direto a seu mundo interior e poderão observar o que acontece dentro de seu coração. Não o coração metafórico tão querido das fantasias liberais, e sim a bomba muscular que regula sua pressão sanguínea e muito de sua atividade cerebral. Os hackers serão então capazes de correlacionar seu ritmo cardíaco com os dados de seu cartão de crédito, e sua pressão sanguínea com o histórico de suas buscas. O que a Inquisição e a KGB teriam feito se tivessem braceletes biométricos que monitorassem constantemente seus humores e suas afeições? Tenha isso sempre em mente.

O liberalismo desenvolveu um impressionante arsenal de argumentos e instituições para defender as liberdades individuais contra ataques externos de governos opressores e religiões intolerantes, mas está despreparado para uma situação na qual a liberdade individual se subverteu de dentro e em que os próprios conceitos de “individual” e “liberdade” não fazem mais muito sentido. Para sobrevivermos e prosperarmos no século XXI, precisaremos deixar para trás a visão ingênua de que os humanos são indivíduos livres — visão herdada da teologia cristã tanto quanto do Iluminismo moderno — e aceitar o que os humanos realmente são: animais hackeáveis. Precisamos nos conhecer melhor.

É claro que esse conselho não tem nada de novo. Desde a antiguidade, sábios e santos aconselhavam repetidamente às pessoas “conhece-te a ti mesmo”. Mas nos tempos de Sócrates, Buda e Confúcio você não enfrentava uma real competição. Se você negligenciasse o conselho de conhecer a si mesmo, ainda seria uma caixa-preta para o resto da humanidade. Em contraste, hoje você tem competidores. Enquanto lê estas linhas, governos e corporações estão se empenhando em hackear você. Se conseguirem conhecê-lo melhor do que você se conhece, poderão lhe vender qualquer coisa que queiram — seja um produto, seja um político.

É particularmente importante conhecer suas fraquezas. Elas são os principais instrumentos daqueles que tentam hackear você. Computadores são hackeados por meio de linhas de programa defeituosas preexistentes. Humanos são hackeados mediante preexistentes medos, ódios, vieses e desejos. Os hackers não são capazes de criar medo ou ódio a partir do nada. Mas, quando descobrem do que as pessoas já têm medo e do que sentem ódio, é fácil apertar os botões emocionais relevantes e provocar uma fúria ainda maior.

Se as pessoas não conseguem conhecer a si mesmas pelos próprios esforços, talvez se possa reverter a tecnologia que os hackers usam para que ela nos proteja. Assim como seu computador tem um programa antivírus que faz uma varredura em busca de malwares, talvez precisemos de antivírus para o cérebro. Esse seu ajudante de inteligência artificial aprenderá, por experiência, quais são suas fraquezas específicas — seja por vídeos engraçados sobre gatos ou por histórias irritantes sobre Trump — e as bloquea­rá em seu benefício.

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Mas tudo isso é na verdade apenas uma questão colateral. Se os humanos são animais hackeáveis, e se nossas escolhas e opiniões não refletem nosso “livre-arbítrio”, qual deveria ser o papel da política? Durante 300 anos, ideais liberais inspiraram um projeto político que visava a dar ao maior número possível de indivíduos a capacidade de perseguir seus sonhos e realizar seus desejos. Estamos agora mais próximos do que nunca de alcançar esse objetivo — mas estamos também mais perto do que nunca de nos darmos conta de que tudo isso se baseou em uma ilusão. Exatamente as mesmas tecnologias que foram inventadas para ajudar indivíduos a ir atrás de seus sonhos tornaram possível dar uma nova engenharia a esses sonhos. Então, como posso confiar em qualquer de meus sonhos?

De certa perspectiva, essa descoberta dá aos humanos um tipo totalmente novo de liberdade. Antes, nós nos identificávamos muito fortemente com nossos desejos, e buscávamos a liberdade para realizá-los. Sempre que nos vinha à mente qualquer ideia, corríamos para fazer aquilo que ela implicava. Passávamos nossos dias correndo por aí como loucos, levados numa furiosa montanha-russa de pensamentos, sentimentos e desejos, que erroneamente acreditávamos representar nosso “livre-arbítrio”. O que acontecerá se pararmos de nos identificar com essa montanha-russa? O que acontecerá se observarmos cuidadosamente o próximo pensamento que espocar em nossa mente e perguntarmos: “De onde ele veio?”.

De início, dar-se conta de que nossos pensamentos e desejos não refletem nosso “livre-arbítrio” pode nos ajudar a ficar menos obsessivos quanto a eles. Se eu me vir como um agente totalmente livre, escolhendo meus desejos com total independência do mundo, isso criará uma barreira entre mim e todas as outras entidades. Sinto que na realidade eu não preciso de nenhuma dessas outras entidades — sou independente. Simultaneamente, isso confere enorme importância a cada capricho meu — afinal, escolho esse desejo específico entre todos os desejos possíveis no universo. Quando damos muita importância a nossos desejos, vamos naturalmente tentar controlar e formatar o mundo inteiro de acordo com eles. Vamos travar guerras, derrubar florestas e desequilibrar todo o ecossistema na perseguição a nossos caprichos. Mas, se compreendermos que nossos desejos não resultam de uma livre escolha, é de esperar que nos preocupemos menos com eles, e também nos sintamos mais conectados com o resto do mundo.

“Assim como seu computador tem programa antivírus, talvez precisemos de um para o cérebro”

As pessoas às vezes imaginam que se renunciarmos à nossa crença no “livre-arbítrio” ficaremos totalmente apáticos, encolhidos em algum canto e passando fome até morrer. Na verdade, renunciar a essa ilusão pode ter dois efeitos contrários: primeiro, pode criar uma conexão muito mais forte com o resto do mundo, e fazer com que você fique mais atento ao nosso meio ambiente e às necessidades e aos desejos dos outros. É como quando você está conversando com alguém. Se ficar focado naquilo que tem a dizer, dificilmente estará realmente ouvindo. Só estará aguardando a oportunidade de oferecer à outra pessoa um relance de sua mente. Mas, quando você põe os próprios pensamentos de lado, de repente será capaz de ouvir os outros.

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Segundo, renunciar ao mito do “livre-arbítrio” pode fazer despertar uma curiosidade profunda. Se você se identifica fortemente com os pensamentos e desejos que surgem em sua mente, não faz muito esforço para conhecer a si mesmo. Pensa que já sabe exatamente quem é. Mas, quando percebe que “Ei, este não sou eu. É apenas um fenômeno de mudança bioquímica!”, você também se dá conta de que não tem ideia de quem — ou o que — realmente é. Isso pode ser o início da mais emocionante jornada de descoberta que um humano pode empreender.

Não há novidade alguma nessa atitude de duvidar do “livre-arbítrio” ou de explorar a verdadeira natureza da humanidade. Nós, humanos, discutimos isso mil vezes antes. Mas antes não tínhamos a tecnologia. E a tecnologia muda tudo. Antigos problemas de filosofia estão se tornando agora problemas práticos de engenharia e de política. E, enquanto os filósofos são pessoas muito pacientes — capazes de discutir sobre alguma coisa inconclusivamente durante 3 000 anos —, os engenheiros são muito menos pacientes. Os políticos são os menos pacientes de todos.

HACKEADOS -  Gadgets, como celulares, logo darão acesso ao “espírito humano”
HACKEADOS - Gadgets, como celulares, logo darão acesso ao “espírito humano” (./Getty Images)

Como funciona a democracia liberal numa era em que governos e corporações podem hackear seres humanos? O que resta de crenças em que “o eleitor sabe o que é melhor” e “o cliente tem sempre razão”? Como é que você vive quando percebe que é um animal hackeável, que seu coração talvez seja um agente do governo, que sua amígdala cerebelosa pode estar trabalhando para Vladimir Putin e que o próximo pensamento a surgir em sua mente pode muito bem ser o resultado de algum algoritmo que conhece você melhor do que você mesmo? Essas são as perguntas mais interessantes com que a humanidade agora depara.

Infelizmente, não são as perguntas que a maioria dos humanos está fazendo. Em vez de explorarem o que nos espera mais além das ilusões do “livre-­arbítrio”, as pessoas estão, no mundo inteiro, retrocedendo para buscar abrigo em ilusões ainda mais antigas. Em vez de enfrentarem o desafio da inteligência artificial e da bioengenharia, muitas estão se voltando para fantasias religiosas e nacionalistas, que têm ainda menos a ver com as realidades científicas de nosso tempo do que o liberalismo. Em vez de novos modelos políticos, o que está em oferta são resíduos reempacotados do século XX ou até mesmo da Idade Média.

Quando você tenta se engajar nessas fantasias nostálgicas, acaba debatendo coisas como a veracidade da Bíblia e a santidade da nação (especialmente se você, como eu, vive num lugar como Israel). Para um intelectual e estudioso, isso é desapontador. Debater sobre a Bíblia era um assunto quente na época de Voltaire, e debater os méritos do nacionalismo era filosofia de ponta um século atrás — mas em 2018 parece ser uma terrível perda de tempo. A inteligência artificial e a bioengenharia têm a ver com a mudança de curso da própria evolução, e só dispomos de umas poucas décadas para descobrir o que fazer com elas. Não sei de onde virão as respostas, mas definitivamente não será de uma coleção de histórias escritas milhares de anos atrás.

“Precisamos desenvolver um novo projeto político, mais alinhado com a realidade científica”

Então, o que fazer? Precisamos lutar em duas frentes simultaneamente. Deveríamos defender a democracia liberal, não só porque demonstrou ser uma forma de governo mais benigna do que qualquer de suas alternativas, mas também porque é a que coloca o menor número de limitações no debate sobre o futuro da humanidade. Ao mesmo tempo, precisamos questionar as suposições tradicionais quanto ao liberalismo e desenvolver um novo projeto político que esteja mais alinhado com as realidades científicas e os potenciais tecnológicos.

A mitologia grega conta que Zeus e Poseidon, dois dos maiores deuses, disputaram a mão da deusa Thetis. Mas, quando ouviram a profecia de que Thetis teria um filho mais poderoso do que seu pai, os dois recuaram, assustados. Como deuses planejam durar para sempre, não querem que um descendente mais poderoso compita com eles. Assim, Thetis casou com um mortal, o rei Peleus, e deu à luz Aquiles. Mortais gostam de que seus filhos brilhem mais que eles. Esse mito pode nos ensinar algo importante. Autocratas que planejam governar perpetuamente não gostam de incentivar o nascimento de ideias capazes de desalojá-los. Mas as democracias liberais inspiram a criação de novas visões, mesmo ao preço de questionar os próprios fundamentos.

Tradução de Paulo Geiger

* Yuval Noah Harari, historiador israelense, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, é autor de Sapiens (2014), Homo Deus (2016) e 21 Lições para o Século 21 (2018)

Publicado em VEJA de 2 de janeiro de 2019, edição nº 2615

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