O líder está com medo
Leia abaixo reportagem publicada em junho que mostrava o temor de Bolsonaro de sofrer um atentado
A reportagem abaixo foi publicada em 22 de junho. Na tarde desta quinta-feira, 6, o deputado Jair Bolsonaro levou uma facada no abdômen enquanto participava de um evento de campanha nas ruas de Juiz de Fora, Minas Gerais.
Desde que anunciou a candidatura à Presidência da República, o deputado Jair Bolsonaro mudou sua rotina. No Rio de Janeiro, onde mora, deixou de frequentar lugares movimentados, não vai mais à praia e evita até visitas à padaria da esquina. Se a incursão for inevitável, ele quase sempre sairá com uma de suas duas pistolas automáticas no coldre. Em suas andanças pelo país, é protegido por um esquema de segurança. Recentemente, contratou um capitão reformado das Forças Especiais do Exército, especialista em proteção de autoridades, que o acompanha por todos os lugares, inclusive no Congresso. Trata-se de precaução e medo. Líder nas pesquisas eleitorais, Bolsonaro teme ser alvo de um atentado durante a campanha.
O deputado recebeu apenas ameaças virtuais, mas consultou a Polícia Federal sobre a possibilidade de ter a proteção de agentes — coisa que só poderá ocorrer quando Bolsonaro virar candidato oficial do PSL, o que deve se dar no fim de julho. Por ora, ele vai continuar contando apenas com seus guarda-costas, o apoio das polícias dos estados que visita e sua arma pessoal, ainda que esse recurso tenha lhe rendido uma experiência fracassada no passado.
Em 1995, Bolsonaro, então com 40 anos, foi assaltado no Rio de Janeiro. Estava em cima de uma motocicleta potente (Honda Sahara 350) e armado com uma Glock 380. Os ladrões levaram tudo — pistola e moto — e deixaram Bolsonaro perplexo. Na ocasião, em entrevista à imprensa, ele disse que, apesar de estar armado e ter treinamento militar, se sentiu “indefeso”. (Mesmo assim, Bolsonaro acha que armar a população, que, em geral, nunca deu um tiro na vida, é uma boa ideia para enfrentar a violência.)
A orientação passada pelo deputado aos seus seguranças é identificar possíveis ameaças de grupos hostis, como petistas e sem-terra. Os guarda-costas não costumam impedir o contato do deputado com eleitores. A ideia é antecipar eventuais ataques sem afastar o candidato do público — e, quem sabe, evitar constrangimentos como o de 2016, quando Bolsonaro foi cercado por militantes LGBT e levou um banho de purpurina. O canal que o deputado abriu com a PF também serve para detectar ameaças consideradas mais sérias.
O candidato do PSL não gosta de falar sobre as ameaças nem sobre o seu esquema de segurança. “Não quero me vitimizar”, explica. O deputado tem outros temores. Medo de sabotagem, por exemplo. O acidente aéreo que matou o governador Eduardo Campos na campanha de 2014 não lhe sai da memória. As investigações revelaram que a queda do jatinho se deu por falha do piloto. Ainda assim, por segurança, Bolsonaro decidiu que não usará jatos particulares na campanha. Num país de dimensões continentais, isso seria um problemão para qualquer candidato, diante das dificuldades para chegar a determinados lugares, especialmente na região amazônica. Como contornar isso? “Dane-se. Não vou a esses lugares”, diz ele.
Publicado em VEJA de 27 de junho de 2018, edição nº 2588