A baixa produtividade tem afetado o crescimento dos principais setores da economia brasileira. No ritmo de produção atual, levaremos até 2081 para dobrar a renda da população. Isso significa que serão criados menos postos de trabalho e conquistados menos avanços em qualidade de vida.
É preocupante dizer que, em tempos de crescimento difícil, se não começarmos a produzir de maneira mais eficiente, em comparação ao que temos feito desde os anos 2000, a economia poderá deixar de crescer 50% nos próximos quinze anos. Seria preciso aumentar a produtividade três vezes mais rápido para escapar desse cenário.
O Brasil está entre as dez maiores economias do mundo, mas ocupa a 51ª posição no ranking global de produtividade relativa da indústria. Somos cerca de 25% menos produtivos que países desenvolvidos como Estados Unidos e Alemanha. Em dez anos, a tendência é que sejamos ultrapassados até mesmo pela Índia, a última colocada no ranking de produtividade dos emergentes. No entanto, temos uma oportunidade enorme de melhorar essa situação nas próximas décadas — e precisamos aproveitá-la.
Estudos da McKinsey vêm demonstrando que as empresas à frente na adoção dos elementos da chamada Indústria 4.0 melhoram sua produtividade em até 30%. Os benefícios dessa quarta revolução, trazidos pelas tecnologias digitais, são inúmeros. É possível realizar mais tarefas em menos tempo, enquanto o aumento da eficiência demanda menos recursos.
A presença de robôs, análise avançada de dados, impressoras 3D, realidade aumentada e internet das coisas na indústria representa uma ruptura tão grande para a sociedade como aquela causada pela terceira revolução industrial, que afastou da agricultura a força de trabalho dos países desenvolvidos no século XX.
“É preciso garantir crescimento econômico, que gera empregos, e investir em uma educação mais próxima do mercado de trabalho”
Uma pesquisa do McKinsey Global Institute mostrou que a produtividade mundial cresceu 0,3% por ano entre 1850 e 1910, após a criação da máquina a vapor, e pode aumentar em 1,4% por ano até 2065 com a automação.
Em uma fábrica da Fanuc, no Japão, robôs industriais produzem outros robôs, supervisionados por um time de apenas quatro funcionários. Já em uma planta da Philips robôs se encarregam de fazer barbeadores elétricos. Enquanto isso, desde 2013 a Canon elimina gradualmente a mão de obra humana de suas fábricas.
As indústrias digitais têm adotado as novas tecnologias de ponta a ponta. O Alibaba, por exemplo, o maior varejista chinês, conta com robôs que organizam seus estoques de maneira inteligente para otimizar a logística.
Em parte, a nova onda de automação acontece pelos mesmos motivos que levaram à primeira revolução industrial — liberar as pessoas de ambientes insalubres e de atividades perigosas, aumentar a produtividade e reduzir custos, tendo como consequência para os países o aumento do PIB e da renda da população.
O Brasil, contudo, caminha a passos mais lentos. Um relatório recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que, dos 24 setores da economia, catorze precisam adotar com urgência estratégias de digitalização. Nossa experiência mostra que, entre eles, os mais preparados para a Indústria 4.0 são o agronegócio e a mineração.
A maioria, porém, ainda tem produtividade inferior à média internacional, o que reduz as chances de exportar os produtos brasileiros. Hoje, apenas 25% do PIB vem do comércio internacional, enquanto entre os outros emergentes a internacionalização chega a 60% do PIB.
Existem várias razões pelas quais o impacto digital ainda não é evidente nos números de produtividade. No Brasil, poucas indústrias e empresas absorveram efetivamente os elementos da terceira revolução, implementando sistemas de gestão da produção bem estruturados. Isso faz com que o potencial trazido pela Indústria 4.0 não seja maximizado ou, muitas vezes, financeiramente factível. O alto custo da tecnologia é um grande obstáculo. Casos de negócios implementados com sucesso em partes do globo perdem sua viabilidade em nosso país. É um ponto que precisará ser revisto de forma estrutural.
Outro desafio que deixa o Brasil em desvantagem em relação às nações desenvolvidas é a capacitação do trabalhador para a nova era da indústria. Assim como na geração anterior, as organizações ainda investem pesado em tecnologia e se esquecem do seu capital humano. Pessoas com as habilidades necessárias para criar, operar e fazer a manutenção de robôs já estão se tornando mais frequentes no mercado de trabalho. Há, entretanto, uma preocupação crescente com aquelas nas atividades mais afetadas pela automação. É o caso dos trabalhos físicos, manuais, de processamento e coleta de dados.
No ritmo de transição demográfica atual, a massa trabalhadora pode estagnar em 2050, havendo um descompasso entre a oferta de trabalho e a mão de obra. Para evitar esse cenário, existem alguns caminhos a ser percorridos. É preciso garantir crescimento econômico, que faz com que as pessoas continuem consumindo e gera empregos, investir em uma educação mais próxima do mercado de trabalho e recapacitar trabalhadores em meados de carreira.
No Brasil, esses desafios se acentuam. As agências de trabalho do futuro, que a Alemanha já vem implementando, podem ser uma solução para conectar pessoas que perderam o emprego a novas vagas e, ao mesmo tempo, oferecer capacitação para as novas habilidades.
É importante ressaltar, no entanto, que as primeiras revoluções industriais não foram acompanhadas de desemprego em massa duradouro, porque impulsionaram a criação de novos postos de trabalho. Não podemos afirmar definitivamente que as coisas serão diferentes desta vez. Nossa análise mostra que os seres humanos continuarão sendo necessários na força de trabalho, e os ganhos totais de produtividade que estimamos só ocorrerão se as pessoas trabalharem lado a lado com as máquinas.
A Indústria 4.0 é a chave para um país competir globalmente. Isso causará alterações fundamentais no ambiente de trabalho, exigindo um grau inédito de cooperação entre os trabalhadores e a tecnologia.
* Björn Hagemann, administrador de empresas, é sócio da consultoria americana McKinsey no Brasil ** Rafael Oliveira, engenheiro, é sócio-associado da McKinsey no Brasil
Publicado em VEJA de 19 de setembro de 2018, edição nº 2600