No contexto do descontrole da segurança pública e da banalização de mortes violentas no Rio de Janeiro, é provável que os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Pedro Gomes tenham sido pegos de surpresa pela repercussão internacional do caso. Desde o princípio, aventou-se a suspeita de que o crime teve motivação política. Essa hipótese ganhou força com a revelação, feita pelo jornal O Globo, de que o ex-segurança de um chefe da milícia no Rio, em depoimento à polícia, acusara um colega de Marielle na Câmara Municipal como mentor da execução. A testemunha, cuja identidade não foi revelada, afirma ter participado de quatro reuniões a partir de junho do ano passado em que o vereador Marcello Siciliano (PHS) teria discutido com o miliciano Orlando Oliveira de Araújo a necessidade de matar Marielle. A motivação, de acordo com o depoimento, seria a influência crescente da vereadora em comunidades da Zona Oeste, que se encontram sob controle da milícia e são redutos eleitorais de Siciliano. Araújo, ex-policial militar, está preso em Bangu 9 desde outubro por crimes atribuídos à sua milícia e, segundo a testemunha, deu a ordem para o assassinato com um mês de antecedência de dentro da cadeia. Em entrevista coletiva na quarta-feira 9, Siciliano negou o envolvimento no crime: “Estou sendo massacrado nas redes sociais por algo que foi dito por uma pessoa que a gente não sabe nem a credibilidade que tem”. De fato, apesar de o crime ter ocorrido lá se vão dois meses, ainda faltam muitos elementos para que esse caso possa ser considerado encerrado.
Publicado em VEJA de 16 de maio de 2018, edição nº 2582