Donald Trump foi um candidato a presidente dos Estados Unidos polêmico e combativo. Nem a crítica aos pais de um soldado americano muçulmano morto em combate nem a declaração, registrada em um vídeo, de que podia fazer de tudo com as mulheres, inclusive agarrá-las pelas partes íntimas, foram barbaridades suficientes para detê-lo. Eleito com forte respaldo da base republicana, manteve o estilo histriônico no comando da Casa Branca, ultrapassando novos limites de civilidade a cada semana. Com frequência, achincalha desafetos pelo Twitter, elogia governantes controversos e desqualifica funcionários que ele próprio nomeou. O saldo não tem sido vistoso: aos seis meses de governo, completados na quinta-feira 20, Trump tem a avaliação mais baixa de um presidente americano em início de mandato desde que os institutos de pesquisa começaram a fazer essa medição, há sete décadas. Apenas 36% dos americanos aprovam sua gestão, segundo pesquisa Washington Post/ABC News. Em comparação com a realidade brasileira, considerando que o presidente Michel Temer patina em 7%, a popularidade de Trump até parece um paraíso. Mas é preciso pôr o dado no contexto do sistema político dos Estados Unidos, com alto índice de fidelidade partidária. A situação de Trump é ruim porque há indícios de perda de apoio mesmo entre os seus eleitores.
Desde que assumiu a Casa Branca, em 20 de janeiro, o republicano vem mantendo uma aprovação nacional que varia de 35% a 46%, tendo atingido o pico cinco dias após a posse, de acordo com o instituto Gallup. “Não é incomum para um presidente perder apoio em seu primeiro ano de governo, quando as coisas com frequência começam a dar errado, mas sim iniciar o mandato com um respaldo tão baixo”, diz William Galston, pesquisador sênior de estudos de governo do Brookings Institution. Mais que políticas específicas, os americanos desaprovam a personalidade e a postura grosseira de Trump no cargo. Isso é um contraste radical com a elegância e a serenidade do antecessor Barack Obama, cuja desaprovação no início do mandato estava mais ligada à sua agenda política. A maioria dos americanos reprova a forma como o republicano se manifesta pelo Twitter — seu canal preferido para insultos aos críticos e elogios à família —, classificada como inapropriada, insultuosa e até perigosa pelos eleitores. Recentemente, por exemplo, Trump chamou uma jornalista de “psicopata” e uma âncora de TV de “louca de Q.I. baixo”.
Trump também não tem tido bons resultados em políticas públicas para exibir, insucesso que, todavia, não é o principal motivo de sua reprovação. Seu mais recente tropeço se deu com a promessa, encampada por seu partido há sete anos, de despedaçar o sistema de cobertura de saúde implantado por Obama. O caminho parecia livre para isso, já que o Obamacare, como é conhecido o programa de saúde, nunca foi muito popular entre os americanos e, desde janeiro, os republicanos dominam o Congresso e a Presidência. A empreitada, porém, tem se mostrado quase impossível. Enquanto os republicanos não chegam a um consenso, o Obamacare fica cada vez mais popular: 55% agora aprovam o sistema. Além disso, sua destruição deixaria vários milhões de americanos sem cobertura de saúde (a depender da proposta, o número vai de 22 milhões a 32 milhões). Na semana passada, Trump fracassou em sua tentativa de pressionar os senadores a aniquilar o Obamacare. A votação foi adiada.
O grande receio dos congressistas é ferir a base eleitoral a pouco mais de um ano da eleição legislativa de 2018. “Há um declínio modesto na aprovação de Trump em meio aos que se dizem republicanos. Entre eles, a média das pesquisas coloca a aprovação em 82,1%. Em fevereiro e março, estava em torno de 85%”, diz Charles Franklin, diretor da Faculdade de Direito e Pesquisa de Opinião Marquette. Esses porcentuais, no entanto, podem esconder a opinião de uma parcela de eleitores de Trump que no passado se identificava como republicana nas pesquisas e agora não se apresenta como tal. Pablo Montagnes e Zachary Peskowitz, professores de ciência política da Universidade Emory, constataram uma queda de 4 pontos porcentuais no número de pessoas que se declaram republicanas. Isso é um sinal de frustração com Trump. Se a queda continuar, ele poderá se ver isolado politicamente e com baixo apoio popular em meio à investigação federal em curso sobre a suspeita de conluio entre sua campanha e o governo russo, que atuou para favorecer sua vitória. Ao que tudo indica, mesmo se sua situação se agravar, Trump vai cair disparando — pelo Twitter.
Publicado em VEJA de 26 de julho de 2017, edição nº 2540